Sexta, 19 de maio de 2023

  (At 18,9-18; Sl 46[47]; Jo 16,20-23) 6ª Semana da Páscoa.

“Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente, e o vosso coração se alegrará,

e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” Jo 16,22.

“Naquelas horas densas e tensas, nas quais foram pronunciadas as palavras mais profundas da humanidade e nas quais também se armou um trágico véu de despedida, os discípulos se mostravam compreensivelmente abalados, tristes. Tristes psicologicamente. Tristes espiritualmente. Tivessem eles a fortaleza da fé, que depois teriam, a tristeza seria apenas psicológica. Mas a fé lhes ruía, o futuro ia-se-lhes embora. Nada mais lhes restaria senão a lembrança de um mestre bondoso, sábio, com poder de realizar milagres – que lhes seria tirado muito provavelmente pela própria morte. O que ficaria dele senão palavras profundas e incompreensíveis, naquele momento, pelo menos? Tristeza, pois, era o que mais se esperava. É por isso que Jesus lhe diz: ‘[...] mas eu vos verei de novo’. Poderia ser apenas slogan. Poderia ser um consolo vazio. No entanto, era uma promessa válida garantida por um homem de valor. Afinal, quem era esse Jesus? Não era Ele o filho unigênito do Pai? Não era o cordeiro de Deus? Não era aquele que em três dias iria ressuscitar? Era. E com certeza os discípulos até se lembravam de uma ou de outra expressão, pois a memória não se apaga de uma hora para outra. Mas a memória, se não vem escorada por uma fé inabalável, logo desmorona e fica exposta ao mau tempo das coisas inúteis quando não ao próprio esquecimento. Por isso, a nota de aviso: ‘[...] eu vos verei de novo’. Se os discípulos creram, ou não creram, ou se creram numa profundidade menor que o próprio Jesus pretendia, o texto não deixa claro. Mas uma coisa é certa: nós, hoje, também estamos longe de Cristo. A espera deles foi de apenas três dias. E a nossa? – Senhor Jesus, aguardamos tua vinda como a suprema libertação das nossas dúvidas e angústias. Enquanto não vens, socorre-nos com a presença do teu Santo Espírito. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite