(Sb 9,13-18; Sl 89[90]; Fm 9b-10.12-17; Lc 14,25-33).
1. Para além do conhecimento que temos
das coisas necessárias para viver, sejam elas de ordem prática ou técnico
científico, está a necessidade de um ‘norte’ para a nossa vida. Algumas
decisões que devemos tomar, o real sentido que estamos dando ao nosso caminhar,
só nos vem, quando cremos, por uma luz do alto, que chamamos de sabedoria.
2. É na escuta de Deus, de sua Palavra
que vamos descobrindo qual é o verdadeiro bem, para onde deve tender o nosso
caminhar. A partir dela cultivamos um outro tipo de conhecimento. Nossas
decisões são muitas vezes condicionadas pelo tanto de informações que nos
chegam ou por aqueles que caminham conosco. É nesse quadro geral que a Palavra
de Deus tem o seu peso.
3. A 2ª Leitura nos permite acompanhar
um pequeno fato da vida de Paulo e desse curioso entrelaçamento de situações da
vida. Paulo converteu ao cristianismo um jovem rico de Colossos chamado
Filêmon. Este tinha um escravo chamado Onésimo que lhe tinha roubado dinheiro e
fugido.
4. Esse mesmo escravo um dia vai parar
na mesma prisão que Paulo e lhe conta a sua história. A proximidade entre os
dois acaba levando Onésimo a receber o batismo. Sabendo do desejo deste escravo
de voltar ao seu antigo patrão, Paulo intercede por ele, escrevendo essa carta
e o desafiando em sua fé. E nós somos chamados a refletir no modo como
acolhemos os que erram.
5. O evangelho nos recorda que Jesus
está a caminho de Jerusalém e, provavelmente, se deu conta da grande quantidade
de discípulos que o seguem. Jesus aproveita para deixar claro a estes o que
significa segui-lo a partir de três colocações ou condições. As imagens são
sempre fortes para provocar a reflexão.
6. A renúncia aparece em primeiro plano
com um sentido da firme decisão a ser tomada em alguns momentos da vida por
causa do evangelho. Quando será necessário romper com algo ou alguém? Carregara
a cruz pode ter muitas interpretações, mas se imaginamos a partir da cruz de
Jesus, temos uma clara compreensão da doação de si mesmo com tudo aquilo que
consiste o ideal cristão.
7. Se as coisas não parecem claras
Jesus ilustra com duas parábolas que tem a mesma finalidade: tomar cuidado com
certo entusiasmo inicial que não nos permite ver claramente o que vem pela
frente. Ninguém torna-se discípulo de Jesus de hora para outra. Pare, pense,
avalie: tenho condições de perseverar em sua proposta?
8. O tom do discurso de Jesus atinge
uma nota mais forte: renunciar a tudo o que possui. Como assim? Estaria ele
falando aos que o seguem mais de perto ou a todos? Não é fácil concluir, mas no
contexto geral do seu evangelho sua fala pode significar uma nova relação que
passamos a ter com os bens desse mundo, particularmente diante das necessidades
do outro.
9. É lícito acumular sem partilhar?
Gozar a vida sem se dar conta do sofrimento alheio? Talvez seja por isso que a
liturgia coloca para nós essa necessidade de buscarmos a sabedoria divina. Para
não fazer do nosso seguimento um ledo engano ou do nosso caminhar um fadigar-se
que vai dar em nada. Que esse mês da bíblia nos recupere esse desejo da escuta
e da reflexão.
Pe. João Bosco Vieira Leite