Corpo e Sangue de Cristo – Ano B


(Ex 24,3-8; Sl 115[116]; Hb 9,11-15; Mc 14,12-16.22-26).

1. Nesse dia de adoração e reflexão em torno do mistério Eucarístico, a liturgia nos recorda o compromisso assumido pelo povo de Israel com Deus a partir do sacrifício de animais. O sangue aspergido sobre o povo recorda esse vínculo forte e duradouro, como um vínculo de sangue.

2. Num futuro que já conhecemos e vivenciamos, um outro sangue foi derramado de maneira definitiva, não de animal, e foi nos dado a beber e a comer como forma de comunhão com Deus e de unidade dos seus filhos. Uma nova Aliança se estabelece num compromisso assumido gratuitamente pelo próprio Deus e que nos foi revelado no Filho, que veio a nós como expressão do Seu amor.

3. O salmo canta um cálice que se eleva como um brinde pela alegria de uma boa amizade que se estabeleceu, pois nossa obediência à Sua lei nos vem de uma experiência de libertação, em vários aspectos da vida que experimentamos.

4. É o autor da 2ª leitura que nos explica a substituição e a superioridade do sacrifício de Cristo, que faz parte da nossa memória Eucarística. Sua vida oferecida é um gesto de amor e de obediência à vontade do Pai e nos convida, pela escuta e acolhimento da Palavra, da vivência comunitária, da prática da caridade, a oferecer-nos em comunhão com Cristo.

5. O nosso evangelho omite o anúncio da traição de Judas para não perturbar a atmosfera de fé e de alegria que caracteriza a celebração de hoje, concentrando-se nas palavras e gestos de Jesus durante a última Ceia. Primeiro percebemos como Ele quis que essa se desse num ambiente tranquilo e a sós com os seus, como tentamos reproduzir em nossos encontros de oração.

6. Ele não faz nenhuma menção ao passado do Êxodo, mas coloca no centro a sua pessoa e através de dois gestos, partir o pão, servir o vinho, faz alusão à Sua morte. Assim Ele revela o sentido autêntico da Cruz, apresentando-a como dom de Si mesmo ao pai e aos discípulos. Ao acolhermos seu Corpo e Sangue nos inserimos em Sua própria doação e obediência ao Pai.

7. Na Ceia Eucarística temos a representação e a fonte real desta doação de Deus a nós. Ele se comunica com a nossa pobre humanidade, para uni-la a si. Assim compreendemos que o nosso caminhar diante de Deus não é uma simples observância de normas, embora elas sejam importantes, pois nos ajudam a estar atentos e direcionar os nossos passos.

8. O objetivo e o mais importante é vivermos essa dimensão filial que viveu Cristo, sentir-se um só com o Pai, numa oferta total de si. Todo o nosso agir estará assim precedido de uma atitude de crer, esperar e amar. Como todo sacramento é um sinal sensível da fé, o que celebramos não é apenas um rito ou uma aspiração, mas sim um sinal que recorda e exige um modo de ser e existir.

  Pe. João Bosco Vieira Leite