(At 1,1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20).
1. Para falarmos da Ascensão a cada ano
resta-nos o evangelho, pois os dois textos que o antecedem se repetem a cada
ano. O primeiro traz a segunda versão de Lucas para o mesmo episódio narrado
pelos Atos dos Apóstolos. Daí nos damos conta que estamos mais diante de uma
página teológica que histórica, carregada de elementos simbólicos que já
comentamos. Ressurreição e Ascensão são duas faces de uma mesma moeda.
2. Por isso e para isso Paulo reza por
nós, para que nos seja dada a sabedoria necessária, que ultrapassa o simples
compreender humano, num desejo que nosso coração, iluminado pela fé, possa
entender, nesse mistério de Cristo que celebramos, a esperança a que somos
chamados. Sua ressurreição e ascensão dizem respeito à meta do nosso caminhar,
mesmo envolvidos nas atividades dessa vida.
3. A ascensão de Jesus é sinônimo de
uma Igreja que mesmo contando sempre com a sua presença espiritual, deve
aprender a caminhar sem sua presença física. E os desafios não eram poucos.
4. Para muitos estudiosos do mundo
bíblico, essa cena grandiosa de Marcos foi um acréscimo ao seu Evangelho. Uma
pregação que deve atingir a toda criatura não nos deve confundir com o gesto de
Santo Antônio que pregou aos peixes, diante da indiferença dos homens ou mesmo
de São Francisco que buscava uma comunhão tão perfeita com toda a criação que
chegava a conversar com os animais.
5. A pregação tem como destinatário o
ser humano, pois é ele que submete a criação a um estado tal que cria uma
ameaça a si mesmo. Uma vida fraterna e pacífica para todos e para tudo
necessita de uma séria conversão, pois a harmonia da criação inteira, o
respeito da natureza, o uso inteligente dos recursos energéticos faz parte das
exigências morais da própria fé.
6. O texto também diz de certos sinais
que irão acompanhar a pregação dos apóstolos como sinal da presença do
Ressuscitado. A linguagem é estranha à nossa cultura, mas quem não já tenha
visto ou ouvido alguns indivíduos recorrem a tais sinais para chamar atenção
sobre si como uma espécie de privilegiados ou de quem tem ao seu lado a
proteção divina?
7. Na realidade tal narrativa quer
salientar aos ouvintes toda ordem de dificuldade que a pregação do evangelho
encontraria pela frente. Um mundo novo já estava presente desde a presença de
Jesus entre nós, mas esse nunca se daria sem as dores de parto e sem o
testemunho concreto de vidas transformadas pela força da Palavra.
8. Por fim, numa linguagem própria dos
reinados da época, o autor fala de como Jesus, em seu mistério e ministério foi
reconhecido por Deus. E nessa certeza, os apóstolos partiram buscando perceber
esses sinais que Jesus lhes oferecia de que não estavam sós. Do mesmo modo, nós
também buscamos caminhar na fé fazendo uma leitura contínua de tudo que nos
envolve e nesses mesmos fatos encontramos a certeza de que o caminho é por
aqui...
Pe. João Bosco Vieira Leite