(2Tm 1,1-8; Sl 95[96]; Lc 10-19)
Santos Timóteo e Tito.
Para um melhor conhecimento dos nossos
santos, veja a reflexão do ano anterior (CLIQUE AQUI). Hoje partilho com vocês a reflexão de
Albert Vanhoye em “Il Pane Quotidiano dela Parola” (tradução
pessoal): “Escutamos a palavra de Paulo: ‘exorto-te a reavivar a chama do dom
de Deus que recebeste’, o dom – para nós – a vocação cristã, primeiro elo dessa
corrente de dons que se sucedem na nossa vida doados por Deus. Vou
refletir sobre esse dom sob o aspecto da fraternidade, que as leituras de hoje
nos apresentam e que tem duas vertentes: a simplicidade fraterna e a
fidelidade fraterna. A simplicidade fraterna: não achar-se melhor que os
outros, não ser ambicioso, presunçoso, mas simples e capaz de fazer-se pequeno
como os outros: irmão entre os irmãos: ‘quem é o maior se coloque ao serviço do
menor, quem preside se coloque a serviço de todos’. A fraternidade funda-se
numa igualdade fundamental. Todos devemos reconhecer-nos iguais diante de Deus,
todos necessitamos uns dos outros; ninguém pode exaltar-se acima dos outros.
Nosso modelo é Jesus, que se fez verdadeiramente nosso irmão. Ele é Senhor e
poderia ter feito sentir o seu poder, a sua força, a sua autoridade: colocou-me
em meio a nós como quem serve. ‘Quem é maior, quem está à mesa ou quem serve?
Não seria quem está à mesa? No entanto, eu estou no meio de vós como aquele que
serve’. Jesus quis tomar sobre si todas as nossas provações, todas as nossas
dificuldades, toda as nossas fragilidades, para ser verdadeiramente irmão
nosso, diz a carta aos Hebreus, não se envergonhou de chamar-nos de irmãos,
mesmo sendo inferiores a ele. Ele se abaixou o mais que pôde, tanto que ninguém
se pode dizer abaixo dele. A fraternidade, a simplicidade fraterna se exprime
também com afeto fraterno. Não se trata de uma igualdade jurídica, mas de uma
solidariedade de afeto que vemos manifestada de vivíssimo nos sentimentos
recíprocos de Paulo e Timóteo: ‘Lembro-me das tuas lágrimas (Timóteo tinha
chorado quando Paulo partiu), sinto grande desejo de rever-te e assim ficar
cheio de alegria’. São Paulo exprime o desejo de estar junto como irmãos que se
amam muito, e é de fato um dos motivos da alegria cristã poder viver junto no
afeto fraterno. Paulo, em muitas de suas cartas, chama Timóteo de ‘filho
dileto’, porque o gerou na graça de Cristo por meio da pregação e do Batismo. A
este aspecto de igualdade, de simplicidade fraterna no afeto, se une um aspecto
mais realista, mais exigente: a fidelidade fraterna. Não é uma questão de
procurar cultivar bons sentimentos. Trata-se de ser verdadeiramente solidário
com os outros. Especialmente quando as coisas não vão bem. Jesus o exprime
dizendo: ‘ Vós sois aqueles comigo nas minhas provações’, é isto que permite a
fraternidade de subsistir. Um irmão é aquele que ajuda o próprio irmão. E Jesus
se colocou em meio a nós como um irmão para ajudar-nos e ao mesmo tempo para
ser ajudado por nós, quis ter necessidade de nossa ajuda fraterna e se
congratula com os seus Apóstolos que permaneceram com ele apesar de todas as
críticas que foram lançadas contra ele, mesmo com todos os perigos e ameaças.
Eles permaneceram fielmente ao seu lado até a paixão; naquele momento Jesus se
encontrou só, porque deveria realizar assim o desígnio de Deus. Do mesmo modo
são Paulo pede a Timóteo colocar em prática esta solidariedade fraterna, esta
fidelidade: ‘Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor nem de mim, seu
prisioneiro’. É no momento da provação que si demostra verdadeiramente o
espírito de fraternidade, quando não nos traz nenhuma vantagem mostra-se irmão,
irmã daquela pessoa. Naquele momento se revela o profundo do coração, que se
soma fraternalmente ao sofrimento, com uma solidariedade que vale mais que
todas as manifestações superficiais: ‘mas sofre comigo pelo evangelho, fortificado
pelo poder de Deus’. Todos são chamados a sofrer com Cristo, para participar
plenamente do seu amor. Esta fraterna solidariedade devemos sentir em
particular para com aqueles que têm maior responsabilidade, não os deixando sós
quando devem assumir atribuições, estar com eles, procurar compreender com eles
a situação, tomar a nossa parte no fardo comum, para o bem de todos. Se Jesus
se fez nosso irmão é porque quis colocar em nós esse espírito de fraternidade,
sem o qual é impossível caminhar no amor”.
Pe. João Bosco Vieira Leite