Sábado, 30 de janeiro de 2016


(2Sm 12,1-7.10-17; Sl 50[51]; Mc 4,35-41) 
3ª Semana do Tempo Comum.

Depois da sucessão de escolhas erradas, eis que o profeta Natã vai até Davi com uma parábola que num primeiro momento deixa o rei indignado até descobrir que a história falava dele mesmo. Inicia o rei um caminho de penitência ilustrado pelo salmo 50 que a liturgia reza desde ontem. É admirável a sua sinceridade tanto quando é abominável o seu pecado. Seu próprio estado penitencial é uma graça divina, pois ele não esquiva da própria culpa, e isso lhe permitirá um desenvolvimento ainda maior na sua relação com Deus. Dessa narrativa podemos intuir que quando Deus nos leva a tomar consciência do nosso pecado, é a sua misericórdia que está se manifestando. Às vezes um texto, uma pregação, a palavra de um amigo, um fato, pode nos abrir os olhos sobre o mal que praticamos e da nossa infidelidade a Deus. É importante acolher esta oferta que nos vem pela graça de Deus com a mesma sinceridade que Davi, sem refugiar-se na hipocrisia. Assim as nossas culpas se tornam ocasião de crescimento espiritual, de aprofundamento na nossa relação com Deus, porque experimentaremos a sua misericórdia e a sua graça santificante. Penso que seja um pouco disso que o papa Francisco nos propõe para esse ano.


Enquanto isso, no chamado mar da Galileia, Jesus se vê as voltas com seus temeroso discípulos que ainda não intuíram verdadeiramente quem é Aquele que eles levam na barca. “Os discípulos viveram com Jesus. Ouviram suas palavras. Mas eles continuam não acreditando nele. Estão cheios de medo das forças demoníacas. Ainda não se deram conta de que Jesus tem o domínio sobre os demônios [representado pelas forças das águas e da tempestade], porque nele atua o poder de Deus. Aparece novamente uma visão dos discípulos que é típica de Marcos. Apesar da convivência com Jesus, eles não chegam à fé. Descrevendo os discípulos como incrédulos, Marcos pretende convidar os leitores a crer que Jesus é o senhor sobre todos os poderes do mundo. Ao mesmo tempo, os leitores podem reencontrar-se nos discípulos. Ouviram a palavra de Jesus. Estão lendo o relato de seus milagres e das obras poderosas que realizou. Mesmo assim estão se sentido violentamente sacudidos pelas forças da escuridão, como aconteceu com os discípulos. Nesses momentos Jesus lhes parece distante, parece esconder-se deles, parece dormir. Sobrevém, então, o medo. Marcos nos mostra, nesse episódio, que Jesus nos ajuda, que ele supera nosso medo. No fundo é o medo que nos lança no turbilhão do inconsciente que ameaça engolir-nos. Marcos incentiva seus leitores a se levantarem em seu medo e se dirigirem a Jesus, o senhor deste mundo. Ele tem o poder de acalmar o mar agitado de nossa alma, transformando o medo em confiança” (Anselm Grun – “Jesus, Caminho para a Liberdade” – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite