Epifania do Senhor – Ano C


(Is 60,1-6; Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12)
Tempo do Natal

1. O texto de Isaias que abre a nossa liturgia da Palavra, como no Natal, situa-se no tempo do exílio e do retorno dos exilados a Jerusalém. O profeta enche seu texto de imagens bonitas e simbólicas para expressar os sentimentos que a cidade deve ter como uma mulher que recebe de volta seu marido e filhos.
2. Mas ele contempla essa ordem de coisas novas que os acompanham de outras culturas que lhe chegam como reconhecimento de seu valor. Por onde estiveram, foram capazes de testemunhar a fé no Deus único de Israel.
3. Jesus é a nova luz que brilhou sobre Jerusalém e sobre o mundo. Para nós cristãos, a Igreja é essa mulher convidada a alegrar-se pela luz de Cristo que nela brilha e atrai a muitos. Tudo isso pode ser a expressão do processo de enculturação pelo qual o evangelho passou e pela riqueza cultural que cada um que segue a Cristo traz consigo.
4. Nossas comunidades são reflexos dessa atração que Cristo exerce em todos, somos diferentes, e em certo momento do caminho tivemos que renunciar algo para seguir a Cristo; mas não podemos esquecer que tudo aquilo que é bom e belo, deve ser preservado e bem vindo ao crescimento da comunidade, sob a luz de Cristo somos capaz de discernir o que constrói ou não.
5. Paulo lembra que em Cristo, o muro da separação foi eliminado; em Cristo aprendemos a viver como irmãos, se isso não acontece em nossas comunidades é porque sua palavra não brilhou ainda suficientemente em nós.
6. Sob essa ótica podemos compreender a narrativa de Mateus que coloca esses magos do Oriente na direção da estrela de Belém. Esses personagens sempre atiçaram nossa curiosidade, mas certamente não passavam de estudiosos dos movimentos da vida e dos astros que perceberam o surgimento de uma nova estrela.
7. Na realidade não se tratava de um astro no céu, mas de alguém aqui na terra.  Mateus constrói seu texto no movimento daqueles que, de diferentes povos e culturas se aproximaram de Jesus. Como na 1ª leitura, a vida cristã encantou também a outros que se aproximaram da luz do Evangelho e abraçaram Seu modo de ver e viver a vida em meio a sua realidade cultural.
8. Nem por isso precisamos retirar os magos do presépio, mas esclarecer às nossas crianças quem é a verdadeira estrela que ilumina os seres humanos. Os magos representam aqueles que se deixam guiar pela mensagem de paz e de amor de Cristo. São a imagem também da Igreja, formada de gente de todas as raças, línguas e culturas.
9. Para fazer parte da Igreja não é preciso renunciar à própria identidade, ao contrário, a Igreja e o próprio evangelho se enriquece com modos diferentes de viver uma mesma fé e suas expressões. A humildade de ajoelhar-se diante do menino para adorá-lo e a atitude de reconhecimento dessa Palavra que ilumina todos os povos, independente da cultura, pois nossos anseios de plenitude se identificam de alguma forma e se encontram em Cristo, luz do mundo.


 Pe. João Bosco Vieira Leite