30º Domingo do Tempo Comum, Ano B

(Jr 31, 7-9; Sl 125/126; Hb 5, 1-6; Mc 10, 46-52)

1. O texto que acompanhamos como 1ª leitura remonta ao retorno de Israel de um de seus exílios, desta vez de Nínive; um grupo de pessoas frágeis são conduzidas pelo deserto. O Antigo Testamento sempre teve essa preocupação de mostrar como o olhar de Deus se dirige aos mais frágeis e deles se ocupa, nessa viagem; ele não abandona ninguém. 
2. Dois caminhos de meditação se abrem: aquele da consciência de nossas fragilidades, e como Deus nos conduz, apesar de tudo; um convite a não desesperar. O outro é o da consciência da importância que realmente damos aos mais frágeis da família, do grupo, da comunidade. Que olhar dirigimos a eles? Como os ajudamos a caminhar?
3. O autor da carta aos hebreus tem um conhecimento das tradições judaicas e compara Jesus a um sacerdote. Este, na sua humanidade, é capaz de compadecer-se da fraqueza do outro. Se Jesus é um sumo sacerdote, foi o Pai que o escolheu para essa função, não tanto oferecendo sacrifícios, mas oferecendo-se a si mesmo como vítima de expiação.
4. O texto chama a atenção sobre a importância da mediação desse alguém que não atribui a si mesmo tal escolha, mas ao chamado de Deus. Muitos perguntam ao sacerdote porque ele escolheu ser padre, e, no entanto, não se trata tanto de uma escolha, mas de um chamado, de uma atitude de escuta que leva a uma decisão.
5. Assim podemos entrar no nosso evangelho. Esse é o segundo cego curado por Jesus no evangelho de Marcos. No contexto da narrativa, os estudiosos são unanimes em afirmar, que essa sua presença aqui é estratégica. Como assim? Jesus está à poucos quilômetros de Jerusalém. Ele já avisou do que lhe vai acontecer por lá, mas parece que ninguém lhe ouve, nem consegue enxergar o que está por vir.
6. Mais do que um fato, temos uma “catequese” da verdadeira atitude do discípulo que escuta e acolhe o chamado de Jesus. A cegueira pode estar dominando a multidão que o segue. Por outro lado, no caminho da fé, existe sempre o risco do comodismo. Dar-se conta que é preciso avançar, já é o primeiro passo.
7. Há uma luz que se acende internamente nos advertindo a necessidade de mudança de hábitos. Buscamos através dos companheiros de caminho responder a essa insatisfação, que podem ser um obstáculo ou uma ajuda. Mas nada substitui o contato pessoal com o próprio Jesus. A real necessidade não nos faz cessar a busca: continuamos “gritando”, até que ele nos escute e nos envie alguém que nos conduza em nossa busca.
8. O pobre homem deixa para trás seu manto e talvez algumas moedas. Conhecemos bem o que é necessário deixar para abraçar o novo que se nos apresenta. As velhas “seguranças” não condizem com o caminho proposto. Ao professar a fé em Jesus, ele percebe que a luz oferecida o desinstala e o coloca a caminho.
9. Uns enxergando e outros nem tanto, chegarão a Jerusalém. Quando os fatos se derem, enfrentarão a crise de saber se realmente eram seus discípulos. Tal drama nos é muito próximo em algumas situações diárias em que nos vemos obrigados a uma escolha que de modo sensato se aproxime de nossa fé ou não, nos deixando claro se somos seus discípulos ou não.



Pe. João Bosco Vieira Leite