(Sb 7,7-11; Sl 89[90]; Hb
4,12-13; Mc 10,17-30)
1. Nossa liturgia da palavra se abre com esse texto que faz
referência à escolha de Salomão. Ele poderia ter escolhido alguma outra coisa,
como aquelas que para nós tem especial valor. Ao escolher a sabedoria, ele
escolhe a fonte de alegria de todas as coisas: quem faz as escolhas conforme o
projeto de Deus, nada perde, aproveita tudo, encontra a verdadeira felicidade.
2. Com essa pequena luz, iluminaremos a leitura do
evangelho. Esse projeto divino aparece na própria Palavra que nos é oferecida
como fonte de meditação e vida, nos diz o autor da carta aos hebreus. Ao
escutar atentamente a Palavra sabemos de sua força, como ela sonda as intenções
do coração e que por sua força divina, não voltará a Deus sem antes ter gerado
algo novo naquele que a acolhe, diz o profeta Isaias.
3. O que parece uma ameaça, é na realidade uma fonte de
sabedoria. O nosso medo deve ser o de estar distraído, magoado e ferido e não
escutar a Deus que nos fala, diz santo Agostinho. Para cada momento de nossa
vida Ele tem algo a nos dizer, a nos ensinar.
4. O evangelho é longo e complexo, mas devemos colocá-lo no
conjunto da radicalidade do seguimento que Jesus vem propondo em Marcos, em seu
evangelho. Em toda e qualquer vocação a exigência é a mesma, como vimos no
domingo anterior ao falar do matrimônio. Não criemos categorias de mais ou de
menos santidade.
5. O jovem que se aproxima de Jesus e lhe pergunta sobre a
vida eterna, tem plena consciência de que esta é um dom; Mas ele entende também
que não se pode ficar de maneira estática ou levar uma vida destrambelhada e
tudo dará no mesmo.
6. Na ótica de Jesus, ao citar os mandamentos que ele deve
observar, os mais importantes são aqueles relacionados ao próximo. O caminho
até Deus passa pelas nossas relações, pelo nosso cuidado com o outro. A
aparente felicidade dos que vivem na base do “não estou nem aí” para os
processos da vida tem seu preço. Cuidar da vida não é uma fonte de recompensas,
mas uma tomada de consciência.
7. Que se passa com esse jovem de uma vida impecável? Ele
traz consigo o desejo de um voo mais alto. Jesus sabe o que lhe prende. Ele não
tem feito o bom uso do que possui. Não tem sido sábio na administração de suas
conquistas, não se deu conta de quanto tudo é passageiro.
8. Os discípulos sempre nos representam nesse espanto com as
palavras de Jesus. Não se trata de uma condenação da riqueza, nem elogio da
pobreza ou miséria. Para Jesus o que deve caracterizar o ser humano é a
fraternidade; pecado não é ficar rico, pecado é não saber partilhar.
9. Todos carregamos uma sede de infinito que aqui e acolá
ressurge e nos pergunta se estamos vivendo de modo sábio, se as escolhas são
iluminadas pela Palavra de Deus; onde está o teu coração, aí está o teu
tesouro. A imagem do camelo e da agulha nos diz que o desprendimento exige um
ato de generosidade tão grande que só mesmo um milagre de Deus nos permite
realiza-lo.
10. É fácil confundir amor com apego doentio; é fácil
fechar-se no nosso mundo, deixar-se dominar por um egoísmo sem se dar conta das
realidades que nos cercam. É verdade que o nosso mundo tem ficado cada vez mais
violento, que a sobrevivência tem exigido mais de nós e que cada vez mais nosso
ciclo de relações está diminuindo, a pergunta é: somos, de fato, em tudo isso,
mais felizes e realizados?
Pe. João Bosco Vieira Leite