(Est
5,1b-2;7,2b-3; Ap 12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11)
1. Rodrigo Alvarez fez um apanhado histórico no seu livro
“Aparecida” (Globo Livros, 2014) para nos levar a uma visão ampla de como a
imagem de Aparecida tornou-se um símbolo nacional. Vale conferir pela própria
fluidez da narrativa. A liturgia da Palavra desse dia de hoje também segue o
caminho, não histórico, mas de figuras simbólicas para nos ajudar a penetrar no
sentido da festa que celebramos.
2. Um trecho do livro de Ester nos leva a encontrar-se com
essa jovem judia que cresceu na Mesopotâmia, onde fora exilada e que virá a ser
esposa do rei Assuero. Tal posição nunca a fez esquecer suas origens; é quando,
por algumas circunstâncias políticas, se projeta um atentado contra o seu povo
ali exilado.
3. Ester serve-se de sua posição de rainha, de sua inteligência
e beleza para interceder junto ao rei e temos a salvação do povo graças à sua
coragem e tomada de posição. Nesse livro de tons novelísticos, a liturgia vai
buscar o tema da oração, lembrando do quanto essa é capaz, e de como o nosso
povo tem recorrido à intercessão de Nossa Senhora em suas lidas.
4. A oração tem como objetivo alimentar a fé, a fé busca
entender quem é Deus e o que ele deseja de nós e para nós. É nesse cruzamento
que a nossa oração se encontra. É sabendo de suas intervenções na história que
o ser humano da bíblia reza. “Em cada acontecimento, em cada escolha, mesmo na
mais insensata, ele atua, não interferindo, não limitando a liberdade do homem,
mas coordenando tudo para a vitória do bem”.
5. Ninguém melhor que Maria para nos ajudar nessa travessia
de uma fé que muitas vezes é colocada a duras provas. Na imagem do Apocalipse
eis que se nos apresenta, mais uma vez, a mulher símbolo de uma comunidade que
ao gerar em si a força e a presença do Messias sente-se ameaçada por forças contrárias,
mas sabe que não está sozinha, a ajuda virá para que a história prossiga.
6. Ainda que a mulher do texto não seja Maria, recolhemos do
pouco que a Palavra testemunha a seu respeito, a dramaticidade que foi a sua fé
assumida. A posição que o próprio filho lhe confere na história da salvação a
faz irmã e companheira porque sabe o quanto difícil é viver a fé em todo o seu
comprometimento.
7. A narrativa das bodas de Caná, por si só mereceria um
espaço maior na nossa reflexão para compreendermos toda a teologia que se
esconde nessa narrativa joanina. Um simples “milagre”, serve de base para
apresentar Jesus a seus discípulos e ao mesmo tempo insere Maria como modelo na
nova relação entre Deus e o seu povo.
8. O matrimônio, as núpcias, sempre foi uma imagem explorada
pelo Antigo Testamento para expressar simbolicamente a relação de Deus com o
seu povo. Mas na atual circunstância ou festa da vida daquele povo a quem Jesus
veio ao encontro, falta a felicidade e amor, simbolizados pela ausência do
vinho. A instituição religiosa de seu tempo transformou as relações entre Deus
e seu povo num difícil fardo a ser carregado.
9. Jesus traz o vinho novo, novas relações entre Deus e o
seu povo. Os noivos não nominados na narrativa se escondem nos protagonistas da
cena: Jesus e Maria, a quem Jesus não chama de Mãe. Nesse 1º sinal realizado
por Jesus, uma nova relação se estabelece, melhor que a anterior. Maria
representa a noiva, a nova comunidade que apresenta ao noivo sua atual situação
e conta com ele para restaurá-la.
10. Em linhas gerais, sem entrarmos nos detalhes da
narrativa, compreendemos que Maria aparece aqui como intercessora, como irmã de
caminhada e como modelo dessa nova relação que se estabelece com Deus. Por seu
comprometimento com a causa do reino, podemos toma-la como modelo de discípula,
e como intercessora, conhecedora dos difíceis caminhos da vida e da fé.
11. Na história da aparição da imagem de negra cor, alguns
elementos do cotidiano da fé se misturam com a religiosidade de um povo. Mas
Deus, que sabe se servir das circunstâncias históricas para comunicar a sua
presença, em Aparecida deixa-nos sua mensagem de esperança, para todos os
tempos: bons ou difíceis: “Fazei tudo o
que ele vos disser”.
Pe. João Bosco Vieira Leite