Quinta, 03 de abril de 2025

(Ex 32,4-14; Sl 105[106]; Jo 5,31-47) 4ª Semana da Quaresma.

“E o Senhor disse ainda a Moisés: ‘Vejo que este é o povo de cabeça dura’” Ex 32,9.

“’Vejo que este povo é um povo de cabeça dura’ (Ex 32,9), assim diz Deus a respeito de Israel (primeira leitura). Depois do pecado do bezerro de ouro, JHWH já não chama Israel ‘o Meu povo’, porque já não o reconhece, já não é aquele para quem olhava com tanto amor quando lhe propunha a aliança, já não é ‘sua propriedade especial entre todos os povos’ (Ex 19,5): Israel perverteu-se, tornou-se duro de cabeça e de coração, já não escuta a voz do seu Senhor, já não anda nos Seus caminhos, tornou-se impenetrável ao Seu amor. A ‘cabeça dura’ indica precisamente a atitude de fechamento, de orgulho, de afirmação de si mesmo e de reconhecimento de que não precisa de salvação. É uma atitude que está na raiz do pecado de Adão e Eva, da construção da torre de Babel e de todos os outros pecados. ‘Vós nunca ouvistes a Sua voz nem vistes a Sua face. Desse modo a Sua palavra não permanece em vós [...] conheço-vos muito bem: o amor de Deus não está dentro de vós’ (Jo 5,38.42), diz Jesus aos judeus que não creem n’Ele (Evangelho). É ainda a dureza, o fechamento que torna o coração indiferente ao testemunho e insensível ao amor de Deus. À perversão opõe-se a conversão, e à dureza de cerviz o coração contrito. Julgamos que Deus pode mudar o coração de pedra em coração de carne (Ez 36,26) e que seu Espírito consegue dobrar o que é rígido e aquecer o que é gélido. Ele inflama-Se de ira perante os filhos perversos, mas tem piedade e mostra a Sua ternura de Pai logo que eles se convertem a Ele. Agrada-lhe ‘um espírito contrito’ e jamais despreza ‘um coração contrito e humilhado’ (Sl 50,19). Porventura todos nós precisamos de nos sentir provocados pela Palavra, precisamos de que nos dirijam palavras duras de Jesus que nos sacudam da modorra, da preguiça, da ilusão de estarmos bem, daquela procura de ‘receber a glória uns dos outros’ (Jo 5,44), precisamos experimentar a dor da ‘compunctio cordis’, de deixar que Deus nos toque o coração de modo a provocar em nós um despertar e nos disponha a acolher o Seu amor misericordioso” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite