(Am 8,4-7; Sl 112[113]; 1Tm 2,1-8; Lc 6,1-13) *
1. O Evangelho deste domingo nos apresenta uma parábola que em certos elementos soa bastante atual. O personagem principal é um administrador de um proprietário de terras ou latifundiário. Como as melhores parábolas, ela começa com um drama em miniatura, cheia de movimentos e mudanças de cena.
2. Num 1º cenário temos o administrador e seu patrão. Uma demissão se projeta. O sujeito nem esboça uma autodefesa. Sua consciência o acusa da verdade de tudo isso.
3. Na 2ª cena temos o tal administrador em diálogo consigo mesmo. Percebemos que ele não se dá por vencido, pensa logo em como remediar a situação e garantir o futuro.
4. Passamos a 3ª cena, acompanhamos o administrador em ação abordando aos que devem ao seu patrão. Um caso clássico de corrupção de contabilidade falsa que se faz análoga a episódios frequentes em nossa sociedade e em maiores escalas. A conclusão é a coisa mais desconcertante de todas.
5. Seria intenção de Jesus aprovar e encorajar a corrupção? No ensinamento em parábolas, o autor ou narrador não se detém ou se perde em detalhes morais, mas somente naquele aspecto que ele deseja valorizar. Muitas vezes a história narrada na parábola serve apenas de suporte a uma ideia que é necessário individualizar e recolher, deixando de lado todo o resto.
6. Assim fica clara a intenção de Jesus com esta parábola: o patrão elogia o seu administrador pelo seu bom senso, prudência, ou esperteza, como dizemos, não por outra coisa. O texto não diz que ele voltou atrás na demissão do mesmo. De uma situação complicada, rapidamente ele descobre uma saída. O resto fica por conta da nossa imaginação...
7. Mesmo não agindo de maneira honesta, numa situação de emergência, quando todo seu futuro estava em jogo, ele dá prova de duas coisas: decisão extrema e de grande perspicácia. Rapidez e inteligência.
8. “A vida – dizia o filósofo Sêneca – a ninguém é dada como posse, mas a todos como algo a administrar”. Somos todos ‘administradores’. E como o administrador da parábola não dá para ficar remandando; está em jogo qualquer coisa de muito importante para ficarmos remandando ao acaso.
9. Se Jesus tivesse que atualizar essa parábola, talvez ele nominasse aqui os que trabalham nas bolsas de valores, com seus olhos grudados nas telas e seus ouvidos e boca preso ao telefone para receber e dar ordens. Quando percebe que determinados títulos vão baixar, não pensam duas vezes: vendem tudo e investem em outros títulos.
10. E vocês? Não deveriam fazer também o mesmo para colocar em segurança aquele capital imensamente superior que é a vida eterna? Como não lembrar aquela cena do jovem rico que Jesus desafia a vender tudo para conquistar um tesouro no céu? Ele, que sabia quem era Jesus?
11. Também a nós se dirige Jesus. Não de vender materialmente tudo para doar aos pobres, mas de saber dividir com estes – se temos mais que o necessário – os bens terrenos e as riquezas que Deus nos deu. É a essa conclusão que chega Jesus ao final da parábola.
12. Quando os primeiros cristãos liam a exortação do Evangelho de fazer-se amigo dos pobres, imediatamente eles pensavam no dever da esmola. Hoje compreendemos de maneira mais ampla o que significa a justiça para com os pobres, como nos recorda Amós na 1ª leitura: sobre muitas formas estes são explorados.
13. Dizia São Basílio de Cesareia: “O pão que lhe sobra é o pão do faminto. A roupa inutilizada no armário, é a roupa de quem está nu. Os sapatos que não calças é daqueles que vão de pés descalços”. Aquilo que consideramos esmola, é, comumente, restituições parciais que fazemos. Toda boa história nos convida a pensar...
* com base em texto de Raniero Cantalamessa
Pe. João Bosco Vieira Leite