Quarta, 01 de outubro de 2025

(Ne 2,1-8; Sl 136[137]; Lc 9,57-62) 26ª Semana do Tempo Comum.

“Enquanto Jesus e seus discípulos caminhavam, alguém na estrada disse a Jesus:

‘Eu te seguirei para onde quer que fores” Lc 9,57

“Lucas descreve o cristianismo como sendo um ‘seguir’. A nossa incumbência é seguir Jesus. Isso torna-se claro no início do grande ‘Relato da viagem’. Jesus foi rejeitado pelos samaritanos. Ele é o ‘sem pátria’, que anda por este mundo afora sem encontrar quem o receba. Ser ‘sem pátria’ faz parte também do nosso ‘ser cristão’. Lucas expressa isso numa narração: enquanto eles andavam, alguém disse a Jesus no caminho: ‘Eu te seguirei para onde quer que vás’. Jesus lhe disse: ‘As raposas têm tocas, e as aves do céu seus ninhos; o Filho do Homem, porém, não tem onde encostar a cabeça’. A um outro ele disse: ‘Segue-me’. Este respondeu: ‘Deixa-me primeiro sepultar meu pai’. Jesus, porém, lhe disse: ‘Deixa os mortos sepultarem seus mortos; tu, porém, vai anunciar o Reino de Deus’. Um outro ainda lhe disse: ‘Eu vou te seguir, Senhor, mas primeiro permite-me despedir-me de minha família’. Jesus lhe respondeu: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus’ (Lc 9,57-62). São três imagens do ‘seguir’ que Lucas nos descreve aqui. Seguir Jesus significa que não temos mais aqui uma morada permanente. Nem a família, nem a nossa casa oferecem-nos um ninho que nos possa servir de esconderijo. Nós, seres humanos, temos um cerne divino que nos impele para a frente, no nosso caminho, até que encontremos em Deus a nossa pátria. Aos que querem segui-lo, Jesus responde com um provérbio que os gregos também conheciam. Enquanto todos os animais têm onde morar, o ser humano não possui morada. O seu lar, em que ele possa realmente sentir-se em casa, é somente Deus, a quem ele pertence por sua própria natureza” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

 


Terça, 30 de setembro de 2025

(Zc 8,20-23; Sl 86[87]; Lc 9,51-56) 26ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os” Lc 9,55.

“As divergências entre judeus e samaritanos eram bem conhecidas, no tempo de Jesus. Por razões históricas, eles se tinham na conta de inimigos, recusando-se a se reconciliar. Atravessar a Samaria, rumo a Jerusalém, era sempre perigoso. Podia-se contar, com certeza, com a hostilidade dos samaritanos. Mesmo assim, Jesus tomou a decisão de atravessar a Samaria, rumo a Jerusalém. E, mais, seus discípulos entraram num povoado samaritano, pedindo hospedagem para o Mestre. A rejeição foi imediata. Os samaritanos recusaram-se a dar-lhe acolhida, pois souberam que estavam a caminho de Jerusalém. Tiago e João, apelidados de “filhos do Trovão”, desafogam seu fanatismo, pedindo que o Mestre destrua os inóspitos samaritanos, com fogo enviado do céu. A intolerância desses dois discípulos era sintoma de seus ideias messiânicos, feitos de gestos espetaculares, nos moldes dos antigos profetas. O profeta Elias, por exemplo, havia destruído com o fogo do céu os emissários do rei, enviados para prendê-lo. Coisa semelhante desejavam ver Tiago e João! O pedido dos discípulos foi rechaçado por parte de Jesus. Antes, eles foram severamente repreendidos, por sua dureza de coração. Seu fanatismo era fruto de incompreensão do projeto do Mestre. A rejeição dos samaritanos era insignificante diante da que ele haveria de padecer em Jerusalém. – Espírito de tolerância, ajuda-me a ser compreensivo e paciente nas experiências de fracasso, sem nutrir desejos de ódio e de vingança (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 29 de setembro de 2025

(Dn 7,9-10.13-14; Sl 137[138]; Jo 1,47-51) Santos Miguel, Gabriel e Rafael.

“Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, porque ouvistes as palavras dos meus lábios!

Perante os vossos anjos vou cantar-vos e ante o vosso templo vou prostrar-me” Sl 137[138],1-2.

“Este salmo de ação de graças, que a Setenta atribui a Zacarias, foi recitado pelo Orante no Templo com o olhar voltado para o edifício do Templo (v. 2) e contém, além do agradecimento pelo atendimento da prece (v. 3), tons de entusiasmo hínico (vv. 4-6), que devem ser entendidos como eco da experiência cultual do poeta, que lhe comunicou a certeza de ter sido ouvido e de participar da salvação realizada por Deus. É essa a razão pela qual ele contempla e entende o seu encontro e a sua experiência pessoal com Deus dentro de amplo leque de referências. Que o poeta tenha sido um dirigente do povo ou rei não se pode saber pelo próprio salmo; o v. 6 leva a pensar de preferência em simples membro da comunidade; por isso é sem perspectivas todo ensaio de datar o salmo, porque faltam outras afirmações concretas. [...] Somente no contexto universal da revelação salvífica divina o orante chega a saber que o Deus a quem todos os reis da terra prestam homenagens inclina-se para a sua humildade e o liberta da angústia conservando-lhe a vida, de sorte a perceber que a sua salvação pessoal forma parte da salvação do mundo todo, da revelação da glória de Deus. Sobre tal convicção funda-se também a confiança que anima o orante de que Deus ainda consumará sua obra salvífica. Entende-se abrigado no amor eterno de Deus. A tal ponto se lhe tornou própria a causa de Deus, que ousa orar pedindo-lhe que não abandone sua obra, pois que a obra de Deus não deixa de ser sua salvação; e o agir salvífico de Deus continua para sempre” (Artur Weiser – Os Salmos – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite


26º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Am 6,1.4-7; Sl 145[146]; 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31) *

1. Acabamos de escutar a parábola também conhecida como do rico epulão e do pobre Lázaro. Antes de qualquer coisa é importante saber que estamos diante de uma parábola, não de uma história real, ainda que inspirada numa situação concreta. O nome Lázaro, dado ao pobre, serve apenas a dar maior consistência e vivacidade.

2. As tais ‘sobras’ que caiam da mesa do rico eram pedaços ou miolo de pão que servia para mergulhar no molho ou limpar os dedos e depois eram jogados ao chão. O fato dos cães lhe lamberem as feridas não lhe causava alívio, mas piorava a situação de um mendicante que, provavelmente paralítico, não os podia afastar.

3. Mas fiquemos nessas simples observações, para não corremos o risco de passar todo o tempo tentando resolver problemas filológicos marginais e esquecendo a mensagem central e findando por neutralizar a sua carga revolucionária e inquietante. 

4. O elemento principal a ser colocado em evidência na parábola é a sua atualidade; mostrar como essa situação se repete também hoje, em meio a nós, em dois níveis: mundial e nacional. Poderíamos pensar de maneira global, as diferenças entre o hemisfério norte e o sul. 1º e 3º mundo.

5. Mas esse mesmo contraste se repete, em escala diferente, ao interno desses dois hemisférios. Ricos e pobres vivendo lado a lado. Mesmo em nosso país, como em toda a sociedade do “bem-estar”, há pessoas do mundo do espetáculo, do esporte, da finança, da indústria, do comércio, que ganham milhões.

6. Tudo isso diante do olhar de milhares de pessoas que não sabem como vão chegar, com o salário que ganham ou auxílio desemprego, pagar o aluguel, o remédio, o colégio dos filhos, etc. O que mais nos incomoda na história narrada por Jesus é a ostentação do rico. Seu luxo se dá em dois âmbitos: no comer e no vestir.

7. O contraste não é só entre quem se entope de comida e quem passa fome, mas também entre quem muda de roupa a cada dia e quem não tem o que trocar ou vestir. Em alguns lugares, o que mais humilha o pobre ali não é tanto não ter o que comer (isso se dá no âmbito interno, da casa e ninguém o sabe), mas sair, ou mandar os próprios filhos como maltrapilhos.

8. Talvez fiquemos assustados, ou nos ponhamos a pensar, quando em certos desfiles de moda, alguém se apresente com pedrarias e outros materiais caros numa roupa que custa mundos e fundos. Por vezes vemos mandadas aos ares as leis da moral e do bom senso. Essa observação não é nenhuma novidade.

9. Mas toda a parábola é vista como uma retrospectiva de um final de história. Como alguns filmes, poderíamos começar do desfecho e voltar a ele em flashback. Morre primeiro o pobre, pois está em desvantagem, depois o rico, que pode pagar tudo, mas não pode fugir da morte. Morrem os dois, com fins diversos.

10. Certamente não é intenção de Jesus nos dar uma descrição topográfica do que acontece no outro lado. Sua narrativa é uma adaptação das ideias que tinham os que o escutavam, para assim melhor fazer-se entender. Lázaro e o rico parecem estar muito próximo e falam entre si.

11. Se olharmos bem, aqui estão os elementos essenciais. O seio de Abraão é um lugar de consolação e de felicidade; o rico está num lugar de tormento. Um abismo separa as duas situações e não há como passar de um lugar para o outro. Não estamos muito longe daquilo que entendemos hoje como paraíso e inferno.

12. Essa denúncia sobre a riqueza e o luxo vem ecoando ao longo dos séculos, de várias maneiras e nós a sentimos em nosso tempo. Mas Aquele que nos narra essa parábola está preocupado tanto com os ricos como com os pobres, talvez mais com os primeiros que os segundos, que já estão sob seu olhar.

13. Jesus não está condenando a riqueza em si, que é um bem, não um mal, mas o uso que se faz da mesma. Condena o egoísmo desmedido que torna impermeável o sentimento de solidariedade humana. No episódio de Zaqueu, Jesus deixa claro que há possibilidade de salvação.

14. Dar a metade dos bens hoje pode significar criar postos de trabalho e não ficar mandando dinheiro para o exterior para escapar dos impostos. Ainda hoje o rico da parábola tem cinco irmãos (muitos) no mundo. É a esses que a liturgia fala por meio de Moisés, dos profetas e sobretudo através de Jesus.

15. Que esse convite a dar-nos conta do pobre Lázaro não caia no vazio também em nós, mas encontre eco em nosso coração, pois há confrontos e fome em muitas partes do mundo; somos um pouco, todos nós, irmãos do rico epulão.

* com base em texto de Raniero Cantalamessa


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 27 de setembro de 2025

(Zc 2,5-9.14-15; Sl Jr 31; Lc 9,43-45) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Prestai bem atenção às palavras que eu vou dizer: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens” Lc 9,44.

“Não chegavam a compreender o que poderia significar aquela expressão de Jesus: ‘O Filho do Homem há de ser entregue às mãos dos homens’ (v. 44), em poder dos homens; ser entregue aos homens era sinônimo de ser entregue à morte e isso na mente deles era incompreensível, para a qual o Messias devia mostrar-se sempre e em toda ocasião glorioso e nacionalmente vitorioso. A paixão no Messias era um paradoxo; as palavras eram claras, mas o Rei-Messias sofredor era contraditório. Também para o mundo de hoje, inclusive para alguns discípulos de Jesus, pode parecer estranho o fato de que Deus permita que seus filhos sofram; se é Deus, se é Pai, como permitir o sofrimento? Nessas ocasiões, quando chegar para você a hora da desolação espiritual, da aridez, quando você estiver sofrendo e angustiado(a), nunca chegue a duvidar da infinita bondade e Providência de seu Pai celestial; seria esse o mais grave pecado que você poderia cometer e o que mais ofenderia o coração infinitamente bondoso do Senhor” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 26 de setembro de 2025

(Ag 1,15—2,9; Sl 42[43]; Lc 9,18-22) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Mas Jesus perguntou: ‘E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: ‘O Cristo de Deus’” Lc 9,20.

“Num momento de oração, Jesus questiona os discípulos acerca de uma questão fundamental, formulada em duas etapas. Na primeira, a pergunta – ‘Quem sou eu, na opinião do povo?’ – visa explicitar a maneira como a pessoa de Jesus era considerada por quem o ouvia, era beneficiado por seus milagres e tinha notícias de seus grandes feitos. Enfim, gente sem muita proximidade com ele. As respostas, elencadas pelos apóstolos, trazem a marca das tradições messiânicas populares. Aí, o Messias é identificado com algum dos profetas passados, cuja reaparição, na história humana, era sinal da chegada do fim dos tempos. Na segunda etapa, a pergunta constitui em saber o pensamento dos discípulos: ‘Para vocês quem sou eu?’ Tendo privado da intimidade de Jesus, deveriam estar em condições de estar uma resposta mais próxima da realidade, condizente com a verdadeira identidade de Jesus. É Pedro quem se adianta e responde, em nome do grupo: ‘Tu és o Cristo de Deus!’ Esta resposta revelou, na verdade, um avanço em relação à mentalidade popular. Mais que algum personagem do passado, Jesus era o Ungido, enviado por Deus ao mundo. Sua presença era sinal do amor de Deus pela humanidade. Apesar de estar correta essa resposta, foi necessário que Jesus acrescentasse algo que os próprios discípulos desconheciam. Embora sendo o Cristo de Deus, Jesus estava para se defrontar, não com um destino de glória, mas sim, de sofrimento, de morte e de ressurreição. Esta era a vontade do Pai! – Espírito que nos faz conhecer Jesus, dá-me a graça de conhecer a verdadeira identidade do Filho de Deus, purificada de meus preconceitos pessoais” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 25 de setembro de 2025

(Ag 1,1-8; Sl 149; Lc 9,7-9) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Então Herodes disse: ‘Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?’

E procurava ver Jesus” Lc 9,9.

“Lucas não refere a morte por decapitação do precursor, embora tenha já antecipado a notícia da sua prisão no começo do Evangelho (3,19-20), e, aqui (v. 9), demonstra saber como tudo aconteceu. A fama de Jesus chega ao palácio do tetrarca Herodes Antipas. A pergunta que corre entre as pessoas e os seus cortesãos tornara-se também a do rei: ‘Quem é realmente Jesus?’ Para um helenista culto como Herodes, Jesus não passa de um enigma que tem de resolver. É por isso que O quer ‘ver’ (v. 9). [Compreender a Palavra:] Os boatos que chegavam ao palácio do tetrarca Herodes estavam de acordo num ponto: Jesus é o profeta esperado no fim dos tempos. Porventura, ninguém ousava pensar num novo profeta enviado por Deus; julgava-se que tinha ressuscitado simplesmente um que que já tinha vivido: Elias, João ou um dos antigos profetas. Herodes, porém, é um helenista e – como mais tarde os filósofos do areópago de Atenas aquando da pregação de Paulo – não acreditava nas histórias de ressurreição que tanto impressionavam o povo. Ele raciocinava concretamente: João mandei-o decapitar, por isso já não está vivo. Quem morreu, morreu. Mas então quem é Jesus? Aquilo que se diz que Ele faz e prega precisa de uma explicação. Por isso Herodes deseja vê-lo, para ficar com uma ideia acerca d’Ele. Mas, para compreender quem é Jesus não basta falar com Ele ou ver as Suas obras, sem que isso dê em discussão. O único meio para O conhecer é o da fé” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 24 de setembro de 2025

(Es 9,5-9; Sl Tb 13; Lc 9,1-6) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa-nova

e fazendo curas em todos os lugares” Lc 9,6.

“O apóstolo evangeliza e cura, prega e age. O bem que anuncia é também por ele realizado. Os apóstolos não são homens que se detenham na palavra, passam a realizar a força que emana da palavra que pregam. Curar ao mesmo tempo que se prega supõe que o Reino não é simplesmente um empreendimento espiritual, mas que aponta para a plena renovação do homem no corpo e na alma. Jesus confere aos apóstolos duas coisas: poder e autoridade. Aqui Jesus confere primeiro um poder divino, semelhante ao que saiu dele para que a autoridade de sua missão consiga sua finalidade. A finalidade da pregação dos discípulos enviados é o Reino de Deus; os missionários de hoje devem também limitar-se a anunciar o Reino, não a pregar a si mesmos, não a transmitir as próprias ideias ou teorias, não a propagar doutrinas humanas, mas pregar unicamente o Reino de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 23 de setembro de 2025

(Es 6,7-8.12.14-20; Sl 121[122]; Lc 8,19-21) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Esta casa de Deus foi concluída no terceiro dia do mês de Adar, no sexto mês do reinado de Dario. [...]

Os deportados celebraram a Páscoa no dia catorze do primeiro mês” Es 6,15.19

“A reconstrução da cidade de Jerusalém e do seu Templo, no mesmo lugar onde se erguia antes (cf. v. 7), revelou-se lenta e difícil. Nem sequer era possível falar da retomada do esplendor do reino davídico, desejado por muitos: depois do exílio, Jerusalém não passava de uma das muitas províncias do império persa. As disposições dos poderosos e as palavras dos profetas sustentam a fadiga do novo começo. [Compreender a Palavra:] O novo imperador da Pérsia, Dario, promulga um outro edito, que confirma o do predecessor Ciro e dá um novo impulso à reconstrução do Templo. O dinheiro para os trabalhos devia provir dos cofres da província persa da Samaria. Mas é sobretudo a palavra dos profetas Ageu e Zacarias que renovam o entusiasmo para levar a termo os trabalhos do Templo, que foi consagrado no ano de 515 a.C. Não era certamente o esplêndido Templo de Salomão, mas estava destinado a durar muito tempo. E também o povo enfesta era gente pobre, sem importância alguma na grande política internacional da época. Todavia neste ‘resto’ reconhece-se o inteiro povo de Israel. O versículo 14 insere ainda uma vez todos os acontecimentos num quadro teológico: na origem de tudo está a ordem de Deus e depois seguem-se os decretos dos vários poderosos deste mundo, os quais, embora sem o sabermos, são instrumentos nas mãos do único Senhor do mundo e da História” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 22 de setembro de 2025

(Es 1,1-6; Sl 125[126]; Lc 8,16-18) 25ª Semana do Tempo Comum.

“Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama;

ao contrário coloca-a no candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz” Lc 8,16.

“As exigências do Reino e as dificuldades inerentes à sua vivência podem levar a comunidade cristã a voltar-se para si mesma, tornando-se uma espécie de gueto fechado, sem contato com o mundo. Este modo de proceder contradiz a dinâmica do Reino, tornando a comunidade infiel ao projeto cristão. O destino do Reino é que seja testemunhado a toda a humanidade; seus benefícios devem atingir cada ser humano. A parábola da lâmpada alerta para o comportamento que se exige da comunidade cristã. Como a luz é acesa e posta no candeeiro, de modo a espargir seus raios por toda a casa, igualmente os cristãos devem procurar a posição a partir da qual seu testemunho possa atingir o maior número de pessoas. Supõe-se que seja uma comunidade capaz de acolher a todos, sem distinção, integrando-os em seu meio. Uma comunidade missionária, disposta a ir a todos os recantos da Terra para levar a mensagem do Evangelho. Uma comunidade cujo testemunho de vida corresponda às exigências do Reino, de forma a apresentá-lo como projeto de vida para os que vagueiam nas trevas do erro. Em suma, uma comunidade em que a semente do Reino produz frutos. Assim, recusando a tentação do sectarismo, a comunidade cristã assume seu papel de fazer a luz do Evangelho chegar a todos os rincões do mundo. – Espírito que ilumina a humanidade, faze que as comunidades cristãs sejam autênticas portadoras da luz do Evangelho para os que estão perdidos nas trevas do erro e da maldade” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite


25º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Am 8,4-7; Sl 112[113]; 1Tm 2,1-8; Lc 6,1-13) *

1. O Evangelho deste domingo nos apresenta uma parábola que em certos elementos soa bastante atual. O personagem principal é um administrador de um proprietário de terras ou latifundiário. Como as melhores parábolas, ela começa com um drama em miniatura, cheia de movimentos e mudanças de cena.

2. Num 1º cenário temos o administrador e seu patrão. Uma demissão se projeta. O sujeito nem esboça uma autodefesa. Sua consciência o acusa da verdade de tudo isso.

3. Na 2ª cena temos o tal administrador em diálogo consigo mesmo. Percebemos que ele não se dá por vencido, pensa logo em como remediar a situação e garantir o futuro.

4. Passamos a 3ª cena, acompanhamos o administrador em ação abordando aos que devem ao seu patrão. Um caso clássico de corrupção de contabilidade falsa que se faz análoga a episódios frequentes em nossa sociedade e em maiores escalas. A conclusão é a coisa mais desconcertante de todas.

5. Seria intenção de Jesus aprovar e encorajar a corrupção? No ensinamento em parábolas, o autor ou narrador não se detém ou se perde em detalhes morais, mas somente naquele aspecto que ele deseja valorizar. Muitas vezes a história narrada na parábola serve apenas de suporte a uma ideia que é necessário individualizar e recolher, deixando de lado todo o resto.

6. Assim fica clara a intenção de Jesus com esta parábola: o patrão elogia o seu administrador pelo seu bom senso, prudência, ou esperteza, como dizemos, não por outra coisa. O texto não diz que ele voltou atrás na demissão do mesmo. De uma situação complicada, rapidamente ele descobre uma saída. O resto fica por conta da nossa imaginação...

7. Mesmo não agindo de maneira honesta, numa situação de emergência, quando todo seu futuro estava em jogo, ele dá prova de duas coisas: decisão extrema e de grande perspicácia. Rapidez e inteligência.

8. “A vida – dizia o filósofo Sêneca – a ninguém é dada como posse, mas a todos como algo a administrar”. Somos todos ‘administradores’. E como o administrador da parábola não dá para ficar remandando; está em jogo qualquer coisa de muito importante para ficarmos remandando ao acaso.

9. Se Jesus tivesse que atualizar essa parábola, talvez ele nominasse aqui os que trabalham nas bolsas de valores, com seus olhos grudados nas telas e seus ouvidos e boca preso ao telefone para receber e dar ordens. Quando percebe que determinados títulos vão baixar, não pensam duas vezes: vendem tudo e investem em outros títulos.

10. E vocês? Não deveriam fazer também o mesmo para colocar em segurança aquele capital imensamente superior que é a vida eterna? Como não lembrar aquela cena do jovem rico que Jesus desafia a vender tudo para conquistar um tesouro no céu? Ele, que sabia quem era Jesus?

11. Também a nós se dirige Jesus. Não de vender materialmente tudo para doar aos pobres, mas de saber dividir com estes – se temos mais que o necessário – os bens terrenos e as riquezas que Deus nos deu. É a essa conclusão que chega Jesus ao final da parábola. 

12. Quando os primeiros cristãos liam a exortação do Evangelho de fazer-se amigo dos pobres, imediatamente eles pensavam no dever da esmola. Hoje compreendemos de maneira mais ampla o que significa a justiça para com os pobres, como nos recorda Amós na 1ª leitura: sobre muitas formas estes são explorados.

13. Dizia São Basílio de Cesareia: “O pão que lhe sobra é o pão do faminto. A roupa inutilizada no armário, é a roupa de quem está nu. Os sapatos que não calças é daqueles que vão de pés descalços”. Aquilo que consideramos esmola, é, comumente, restituições parciais que fazemos. Toda boa história nos convida a pensar...      

* com base em texto de Raniero Cantalamessa 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 20 de setembro de 2025

(1Tm 6,13-16; Sl 99[100]; Lc 8,4-15) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Reuniu-se uma grande multidão, e de todas as cidades iam ter com Jesus. Então ele contou esta parábola”

Lc 8,4.

“As comunidades cristãs primitivas viam-se às voltas com problemas que as faziam esmorecer. O resultado do trabalho missionário estava longe de corresponder às suas expectativas. Muita gente boa tinha se convertido ao Evangelho, mas depois, virou as costas para a comunidade, como se a Palavra jamais tivesse lançado raízes em seu coração. Outros haviam acolhido o Reino, porém eram desesperadoramente lentos em dar mostras de sua conversão. Estavam sempre aquém do esperado. A parábola do semeador oferece uma pista para interpretar a situação, sem se deixar abater. É preciso saber que a Palavra semeada só frutifica, quando encontra corações que a acolham e lhe ofereçam as condições necessárias para desabrochar. Existem pessoas que são superficiais na escuta da Palavra, ou têm medo de enfrentar as perseguições, ou são facilmente seduzidas pelos prazeres e pelas riquezas. Entretanto, existem também aquelas que têm um coração bom e sincero, e são suficientemente resistentes para perseverar na sua opção pelo Reino. Sendo assim, seria inconveniente cruzar os braços e se recusar a levar adiante a missão. É tempo de continuar a proclamar a Boa Nova do Reino, sem cair no erro de fazer de antemão, a escolha do terreno. Em outras palavras, a comunidade deve evitar fechar-se em si mesma e criar discriminações entre as pessoas. – Espírito de perseverança na missão, que eu seja suficientemente forte para enfrentar os reveses do trabalho missionário, sempre na esperança de encontrar corações solícitos (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

           


Sexta, 19 de setembro de 2025

(1Tm 6,2-12; Sl 48[49]; Lc 8,1-3) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Os doze iam com ele; e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças [...] que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam” Lc 8,1-3.

“É assim o grupo de Jesus: um grupo de pecadores perdoados, que não podem viver sem ele. Sua vida torna-se doação a Jesus e assim entregam-se a ele e convertem-se em seus apóstolos e percorrem com Jesus os povoados e as aldeias, anunciando o Messias que eles conheceram. Servir ao Senhor e servi-lo com tudo que possas ter; esse deve ser seu lema. Tudo que você tem, tudo que recebeu de Deus e, em último termo, tudo que possui é de Deus antes de ser seu; pois, falando com propriedade, nada é seu, Deus é o dono e Senhor de todas as coisas, e existem algumas coisas que ele atribuiu a você para que as custodie, para que as empregue para o bem e para proveito seu e também dos outros. Sirva, pois, ao Senhor com todas as suas coisas: com seus talentos, com suas qualidades, com suas habilidades, com seu tempo, com suas iniciativas e com seus planos, com seus esforços e seu cansaço. Sirva também com seus bens não só espirituais, mas também materiais ou temporais. Sirva-o com sua profissão, com seu trabalho, com sua atividade social; sirva-o com seu dinheiro e seus bens terrenos, porque nem mesmo isso é seu” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

  Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 18 de setembro de 2025

(1Tm 4,12-16; Sl 110[111]; Lc 7, 36-50) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Por essa razão, eu te declaro: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito amor. Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor” Lc 7,47.

“Nessa cena, Lucas não quer apenas pintar a atitude carinhosa de Jesus para com a pecadora. Com certeza ele visa também à situação na sua comunidade. Presumivelmente havia lá entre os cristãos alguns ‘fariseus’, que desdenhavam recém-convertidos que não tinham um passado lá muito respeitável. Muitas vezes são exatamente as pessoas convertidas depois de uma situação trapalhada que mostram uma cordialidade especial. Seu amor é expressão do perdão que experienciaram. Quem vivencia o perdão como libertação de uma vida de fracassos sabe também perdoar os outros de todo coração. Não se coloca acima dos pecadores, pois sabe que ele mesmo estragou a própria vida antes que o perdão o colocasse no novo caminho da salvação. Como Estevão, perdoará até seus assassinos, imitando assim o exemplo de Jesus (At 7,60)” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 17 de setembro de 2025

(1Tm 3,14-16; Sl 110[111]; Lc 7,31-35) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Mas a sabedoria foi justificada por todos os filhos de Deus” Lc 7,35.

“Tanto João Batista quanto Jesus, foram objeto de rejeição e acolhida. Tudo dependia da maneira como as pessoas se aproximavam deles e se deixavam tocar por suas palavras. Havia gente sinceramente desejosa de converter-se. Mas, havia, também, gente fechada em seus esquemas, que se irritava diante do convite à conversão. Os pobres, os excluídos e os pecadores mostravam-se sensíveis às palavras que Deus lhes dirigia, e davam ouvido a Jesus e a João, reconhecendo neles a preocupação divina com a salvação de seu povo. Com esta ajuda, reconstruíam sua própria dignidade. No polo oposto, estava a liderança judaica, cuja hostilidade Jesus e João tiveram sempre que enfrentar. Tudo quanto faziam, era mal interpretado. A vida ascética e dura do Batista era tida como obra do demônio. Só um possesso podia ser antissocial. A vida normal de Jesus, no convívio com as pessoas, fazia dele um comilão e beberrão, vergonhosamente misturado com gente de conduta censurável. Esta má vontade persiste da liderança judaica não lhe permitia deixar-se tocar por quem quer que fosse. Uma semelhante atitude era grave, pois se opunha ao projeto divino. Urgia comportar-se como filhos da sabedoria e deixar-se instruir pelos enviados de Deus. – Espírito que gera filhos da sabedoria, que eu não demore em deixar-me tocar pela palavra de Jesus, sem interpor dificuldades (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 16 de setembro de 2025

(1Tm 3,1-13; Sl 100[101]; Lc 7,11-17) 24ª Semana do Tempo Comum.

“Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse:

‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!’” Lc 7,14.

“Jesus faz parar o cortejo fúnebre e, diante da expectativa da multidão que formava o cortejo e daqueles que, acidentalmente, se encontravam presentes à cena, com gesto majestoso e segurança na voz, estende o braço em direção ao corpo do defunto e manda-lhe com autoridade: ‘Moço, eu te ordeno, levanta-te!’ (v. 14). Jesus aparece-nos aqui, por um lado, como um dos profetas do povo de Deus, que dá a vida aos mortos, porque somente os profetas de Deus podem falar com a autoridade do próprio Deus. Mas Jesus nos aparece também como o profeta por excelência, anunciado pelos outros profetas no Antigo Testamento. Jesus é o Messias prometido, maior que todos os profetas a ele anteriores ou posteriores. É ele quem dá sentido a todas as profecias. Não se esqueça de que agora é você o/a chamado(a) para transmitir a doutrina de Jesus. Você, ante o cadáver do mundo de hoje, que perdeu a vida da graça, deve assumir seu papel profético e, mesmo achando-se diante de um cadáver, revista-se primeiro da confiança de poder fazer reviver esses ossos áridos pela vitalidade da palavra de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 15 de setembro de 2025

(Hb 5,7-9; Sl 30[31]; Jo 19,25-27) Nossa Senhora das Dores.

“Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas,

àquele que era capaz de salvá-lo da morte”. Hb 5,7.

“A Liturgia apresenta Nossa Senhora das Dores a participar estreitamente da Paixão de Nosso Senhor, como participou das vicissitudes de sua vida inteira. Realizou-se a profecia de Simeão: ‘Uma espada transpassará tua alma’ (Lc 2,35), envolvendo Maria nos sofrimentos de Jesus. Penetrava Nossa Senhora cada dia mais profundamente no mistério da Cruz. Lemos hoje na 1ª leitura da Missa: “Cristo, nos dias de sua vida mortal’ (Hb 5,7), quis compartilhar da sorte dos pecadores, quis padecer, isto é, ‘padecer com’ eles e por eles. ‘Gemidos e lágrimas’ (ibidem) arrancou-lhe o peso imenso desse padecimento! Pensemos nas agonias do Getsêmani e do Calvário! Entretanto, Jesus se sujeitou a tudo voluntariamente em obediência ao querer do Pai celeste. Não obstante fosse Filho de Deus, ‘pelos sofrimentos suportados conheceu por experiência a submissão’ (ibidem, 8). Nossa Senhora seguiu o seu Jesus nesta estrada: sofreu com ele e com a humanidade inteira para salvá-la. Cada novo sofrimento sempre a encontrou disponível ao divino querer, pronta a repetir o ‘Fiat’ da Anunciação. Submetendo-se à vontade do Pai, tornou-se Cristo ‘causa da salvação eterna para todos os que lhe obedecessem’ (ibidem, 9), e Maria, pela participação na obediência e no sofrimento dele, cooperou na Redenção dos homens. Ao mesmo tempo, em união com o Filho, a todos ensinou o caminho da obediência. Quanto custou a Nossa Senhora a submissão à vontade de Deus, di-lo a espada que lhe traspassou a alma durante a vida inteira, assim como o holocausto supremo que consumou, enfim, aos pés da cruz. Aí ‘esteve não sem desígnio divino, sofrendo intensamente junto com seu Unigênito. Com Ânimo materno se associou ao sacrifício dele, consentindo com amor na imolação da vítima por ela mesma gerada’ (LG 58). Grande realidade exprime o título de ‘Rainha dos mártires’ que a Igreja atribui a Nossa Senhora! Sofreu mais que todos os mártires, pois somente a ela foi pedido sacrificar o dileto Filho que era também seu amadíssimo Deus. Mil vezes mais doce ser-lhe-ia certamente morrer que assistir à crucifixão e à morte de Jesus! O cristão sente necessidade de compartilhar de dor tamanha, e reza com a Liturgia: ‘Ó Deus, quiseste que, junto ao vosso Filho elevado na cruz, estivesse presente sua Mãe Dolorosa: concedei à vossa Igreja associar-se com ela à Paixão de Cristo, para participar da vida do Senhor Ressuscitado’ (Coleta da Missa)”. (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola)

 Pe. João Bosco Vieira Leite