(2Rs 5,9-14; Sl 31[32]; 1Cor 10,31—11,1; Mc 1,40-45)
1. Estranhamente o periódico ‘O
Domingo’ nos traz o texto da cura de Naamã ao invés do texto previsto que seria
do Livro do Levítico 13, que traz algumas prescrições a respeito da doença da
lepra. Nesse dia dos enfermos, talvez seja mais oportuna uma reflexão sobre a
misericórdia divina para com esses irmãos do que a narrativa sobre a
discriminação sofrida.
2. O episódio do sírio Naamã é na
realidade um milagre doméstico que resultaria na confissão de fé monoteísta no
Deus de Israel por parte de tal personagem estrangeiro. A doença não é
propriamente lepra: se fosse, o perigo de contágio o afastaria de qualquer
cargo de governo; trata-se de uma doença crônica de pele.
3. Para não nos perdermos nos detalhes
da narrativa, o texto trata do reconhecimento da ação profética em Israel, pois
este revela o poder de Deus e também a questão da fé e da obediência ao
profeta. A partir dessa janela vislumbramos melhor o evangelho de Marcos, a
atitude de Jesus que vai na contramão, no final do seu 1º capítulo.
4. Nesse último ato Jesus cura um
leproso, algo como trazer alguém de volta à vida; algo reservado a Deus. Mais
do que o milagre ou a cura em si, o fato é tomado como um sinal da presença do
Reino de Deus esperado.
5. O que mais angustia um enfermo é o
seu desligamento da vida comum dos demais; a doença restringe. Se à sogra de
Pedro ele levanta com sua mão, aqui Jesus permite proximidade e toca o enfermo.
Diferentemente das autoridades religiosas do seu tempo, ele demonstra ternura,
benevolência e vence a exclusão que pesa sobre o leproso. Esse ‘cheio de
compaixão’ resume bem a atitude de Jesus.
6. O texto acende uma luz que nos
convida a refletir, enquanto discípulos, como agimos em relação a essas
realidades.
7. O final da narrativa soa um pouco
brusca, pois mesmo enviando o leproso aos sacerdotes para que possa retomar a
sua vida comunitária, ele o proíbe de divulgar o fato. Para os estudiosos,
Jesus não quer que haja confusão sobre a sua messianidade, pois o que virá pela
frente vai chocar as expectativas do povo. A salvação virá de um modo
inesperado.
8. Mesmo pedindo segredo, Jesus vê
divulgar-se sua ação libertadora. Para Marcos isso é inevitável. Se ele mesmo
disse que não se acende uma luz para escondê-la. As autoridades religiosas
devem saber que algo novo teve início e o povo saberá de uma Palavra nova
carregada dos cuidados divino.
9. Por fim, ele mesmo se exclui, se
afasta e faz a experiência do isolamento. Mas as pessoas não deixam de
busca-lo. É fora dessa realidade estruturada e engessada das cidades que ele
tenta fazer algo novo. E a partir de seu agir nos convida a refletir
sobre essas realidades que nos cercam marcadas pela exclusão, isolamentos e
enfermidades. Que talvez seja a nossa experiência pessoal nesse momento que
também o buscamos.
10. Para Paulo, qualquer atitude nossa,
ainda que pequena ou insignificante, pela fé, tem um peso particular, pois tudo
dá glória a Deus ou pode escandalizar, o bom senso e um pouco de conhecimento
ajuda no discernimento.
Pe.
João Bosco Vieira Leite