(Gn
22,1-2.9a.10-13.15-18; Sl 115[116B]; Rm 8,31b-34; Mc 9,2-10)
1. Num tempo em que sacrifícios humanos
pareciam aplacar a divindade, e que crianças não tinham valor, o autor sagrado
parece se inspirar para nos trazer mais uma das provas passadas por Abraão ao
longo de sua jornada de fé. O texto pode suscitar muitas interrogações a
respeito desse Deus que nos foi apresentado por Jesus, mas ele quer justamente
esclarecer quem é o Deus de Israel.
2. Em primeiro lugar aparece a
fidelidade de Abraão, que chega a nos assustar, mas o autor sagrado nos diz que
ele confiou de modo absoluto em Deus, desde o começo. Rompeu com todo o passado
e acreditou na promessa divina, mesmo quando o seu futuro parecia ameaçado com
o sacrifício do único filho.
3. Em segundo lugar, o autor quer
deixar claro que o Deus de Israel não aceita nem pede sacrifícios humanos como
acontecia no passado, mas exige que nos mantenhamos firmes na fé que temos
n’Ele, mesmo quando tudo ao nosso redor parece desmoronar.
4. Assim o texto prepara o terreno para
a narrativa do evangelho. Assim como Abraão teve uma experiência de Deus numa
alta montanha, assim os três discípulos que acompanham Jesus entram na mesma
dinâmica.
5. O terreno do sagrado é carregado de
realidades simbólicas que o autor não dispensa: a montanha, a roupa
translúcida, a presença de Moisés e Elias, a nuvem, a voz do alto, tudo aponta
para uma única realidade: Jesus em divindade.
6. Por que tudo isso, aqui e agora? No
capítulo anterior Jesus anuncia a sua paixão, Pedro se coloca em oposição e
Jesus convida seus discípulos a tomarem a sua cruz. Mas não sem antes ter
perguntado aos discípulos quem eles achavam que era Jesus, pergunta que se
arrasta desde o início do evangelho na boca de muitos.
7. Talvez como Abraão eles estão
chocados com o que se revela, mas tendo só Jesus como referencial do caminho
que vem pela frente, eles poderão experimentar a mesma glória do Filho amado ao
final da jornada. Toda vitória honesta tem seu custo, seu desgaste, sua cruz.
Jesus convida a descer e a seguir adiante. É no embaraçado das situações da
vida que podemos ler esse texto e apostar também nossas fichas em Jesus e
seguir firme na escuta de sua Palavra.
8. Paulo também nos motiva a seguir,
pois na entrega do seu Filho, Deus deu-nos não só o perdão dos pecados, mas
revelou-se amoroso na gratuidade do seu gesto. Podemos caminhar desconfiado de
muitas coisas e de muita gente, mas nunca do amor que Deus tem por nós.
9. Pela fé, o que é preciso deixar ou
entregar? A quem devemos ter presente como centro de nossa vida? Eis o caminho
da quaresma como proposta de renovação.
Pe. João Bosco Vieira Leite