Ascensão do Senhor – Ano C

(At 1,1-11; Sl 46[47]; Ef 1,17-23; Lc 24,46-53)

1. Entre os evangelistas, Lucas é o que mais põe em relevo a Ascensão de Cristo ao céu. É com esse fato que ele termina o seu evangelho e começa a narrativa dos Atos dos Apóstolos, como nos recorda a 1ª leitura. É uma maneira de afirmar que a Ascensão encerra “o tempo de Jesus” e inaugura “o tempo da Igreja”.

2. Mas esse encerramento do ‘tempo de Jesus’ não significa que Ele tenha se ausentado, ao contrário, se estabelece para sempre em meio a nós, ainda que as figurações sobre esse fato nos deem a ideia de uma partida, os Atos nos diz que uma nuvem o encobriu...

3. Jesus desaparece, sim, da vista dos apóstolos, mas para estar presente de um outro modo, mais íntimo, não fora, mas dentro deles. Como a Eucaristia que contemplamos; adoramos. Depois recebemos e desaparece dentro de nós inaugurando uma presença nova e mais forte.

4. Se Jesus não é mais visível, como se poderá crer, como saberá o mundo de sua presença? A resposta é simples e clara: ele se faz presente através dos seus discípulos! Tanto nos Atos como no Evangelho, Lucas associa estreitamente a Ascensão ao tema do testemunho: “Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

5. Conhecemos um pouco desse testemunho dos apóstolos que tem em Pentecostes o seu impulso inicial e que se seguiu através dos seus sucessores, bispos, sacerdotes. Mas esse “vós”, num sentido mais amplo, se estendia a todos os batizados e que creem em Cristo.

6. Então, se todos são testemunhas, é necessário saber o que deve fazer uma testemunha. Testemunha é um que ‘atesta’, que afirma uma coisa. Mas nem todos que atestam uma coisa são testemunhas, só quem atesta uma coisa que viu e ouviu pessoalmente. Não quem se refere a algo que soube através de outros...

7. Paulo VI, que celebramos nessa quinta passada, tem uma célebre afirmação: “O mundo tem necessidade mais de testemunhas que de mestres”. Nosso tempo ‘pipoca’ de mestres, verdadeiros e falsos, mas escasseia de testemunhas, pois segundo o provérbio, há uma grande diferença entre o dizer e o fazer.

8. A testemunha é alguém que fala com a vida. Nesse sentido, Cristo é o modelo de testemunho, que diante de Pilatos, se define como ‘testemunha da verdade’. De fato, ele viveu até a última vírgula tudo que ensinou e dá a sua vida para dar testemunho da verdade.

9. E assim o seguiram de modo bem próximo os mártires do 1º século da Igreja, e em menor escala seguiram-se tantos outros como Maximiliano Kolbe, Edith Stein, Oscar Romero, os sete monges trapistas de Tibhirine na Argélia, as irmãs e os missionários que estão entre as vítimas de guerras e de guerrilheiros na África, na América Latina.

10. Mas não queremos nos perder nesse aspecto do testemunho. Existe, particularmente, o assim chamado ‘martírio cotidiano’, isto é, o testemunho de todo dia, que por vezes não é menos exigente que o martírio de sangue. Que está presente na vida dos pais que devem ser para os filhos ‘as primeiras testemunhas da fé’.

11. A alma de uma criança é como uma chapa fotográfica: tudo que vê e escuta nos anos da infância se incidem nela e um dia se ‘desenvolverá’ e dará seus frutos, bons ou ruins.

12. Jesus sabe que sozinhos não somos capazes de dar testemunho. Se deixar-nos sós, faremos como Pedro no processo da paixão, negando a cada momento. Por isso, antes de desaparecer aos olhos dos discípulos, ele nos faz uma promessa na 1ª leitura: “Recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós para serdes minhas testemunhas...”

13. Vivamos esses dias de espera para a festa de Pentecostes em intensa oração: “Vem Espírito...”.     

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 31 de maio de 2025

(Sf 3,14-18; Sl 12; Lc 1,39-56) Visitação da Bem-aventurada Virgem Maria.

“Maria disse: ‘A minha alma engrandece o Senhor’” Lc 1,46.

“Na liturgia das Vésperas, de tardinha, canta-se diariamente o Magnificat. É o canto de louvor, cantado por Maria. Canta não apenas aquilo que Deus fez a ela, mas a atuação de Deus na história, como Deus agiu em Jesus Cristo, derrubando todas as normas deste mundo. Em Jesus, Deus inverteu as relações de poder deste mundo. Lucas compõe o hino de Maria com orações judaicas. Tem semelhança com salmos dos fariseus. Mas ao mesmo tempo alude a temas gregos. A inversão das relações é um ‘topos’ conhecido também na literatura grega. A liturgia cristã tem interpretado o Magnificat não apenas em função do nascimento de Jesus, mas vendo-o também à luz de sua morte e ressurreição. Na morte e ressurreição de Jesus, Deus acabou com todos os critérios deste mundo. No nascimento de Jesus já se torna claro que o Senhor do mundo nasce como criança pobre, e que os ricos, por isso, ficam de mãos vazias. O que se iniciou no nascimento de Jesus completou-se na sua morte e ressurreição – o crucificado torna-se rei, o morto torna-se o príncipe da vida. A luz brilha na escuridão, o sepulcro torna-se o espaço da vida. No Magnificat, Lucas refere-se à Igreja um cântico que descreve o mistério de Jesus em imagens que ao mesmo tempo simbolizam também a transformação da nossa própria vida. Ao olharmos para o Cristo e para Maria, revela-se-nos que também para nós Deus fez grandes coisas. Neste cântico, portanto, misturam-se não apenas o passado com o presente, mas ao mesmo tempo a vivência de Maria com as minhas experiências pessoais, e o destino de Jesus com a minha própria sorte. Lucas é mestre na arte de transpor o passado para o presente, de ligar a vida de Jesus à história da Igreja e à nossa história muito pessoal. No Magnificat ele consegue isso de maneira insuperável. Na morte de cada dia, pois, louvamos neste cântico, em comunhão com Maria, nossa irmã na fé, a bondosa ação de Deus para conosco” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 30 de maio de 2025

(At 18,9-18; Sl 46[47]; Jo 16,20-23) 6ª Semana do Tempo Pascal.

“... porque eu estou contigo. Ninguém te porá a mão para fazer mal.

Nesta cidade há um povo numeroso que me pertence” At 18,10.

“Paulo, num encontro particularmente difícil da viagem (cf. At 18,5-6), tem uma visão: o Senhor confirma-o na sua missão. Por isso fica em Corinto ainda durante um ano e meio ensinando a Palavra de Deus. Novamente os judeus se opõem e arrastam-no ao tribunal, mas o procônsul Galião remete os judeus para a sua própria Lei (cf. v. 15). Expulsos do tribunal romano, os judeus começam a discutir entre si e apoderam-se do pobre Sóstenes, chefe da sinagoga, a quem maltratam na presença do procônsul, que assiste indiferente a tudo. [Compreender a Palavra:] Paulo é confirmado pelo Senhor na sua caminhada missionária. As palavras que Jesus lhe dirige são ao mesmo tempo um dom e uma tarefa. ‘Não temas’ (v. 9a): é o imperativo que encontramos em muitas narrações do Antigo Testamento relativas a vocação (cf. Is 41,10; Jr 1,18). Nestas é Deus que fala aos seus vocacionados, mas no texto de hoje a exortação vem do próprio Jesus Ressuscitado. O convite a que não tema baseia-se num fundamento sólido: ‘Eu estou contigo’. É uma promessa que mostra certeza, já que o Senhor tem ‘um povo numeroso nesta cidade’ (v. 10). A certeza do missionário apoia-se na fidelidade de Jesus: este é o aspecto do dom. Mas inclui também uma tarefa: ‘Continua a falar, não te cales’ (v. 9b). Temos nestas palavras um admirável retrato do missionário: o missionário é aquele que, antes de mais e em primeiro lugar, anuncia a Palavra. Ninguém tem o direito de o mandar calar, nenhum obstáculo justifica o seu silêncio. Recebeu uma Palavra que, precisamente porque recebida, deve anunciar, sempre em qualquer parte. E se algum ou muitos a rejeitam, o missionário não para: dirige-se para outros mais disponíveis ao acolhimento. E mesmo quando é rejeitado, sempre fica nesse lugar alguém que acolheu a Boa Notícia” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de maio de 2025

(At 18,1-8; Sl 97[98]; Jo 16,16-20) 6ª Semana da Páscoa.

“Em verdade, em verdade vos digo, vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará.

Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza de transformará em alegria” Jo 16,20.

“A linguagem enigmática de Jesus deixava confusos os discípulos. Estando para concluir seu ministério, referia-se a um tempo de separação, seguido de um tempo de reencontro. Falava em ir para o Pai. No ar, pairava algo de abandono, de ruptura. Os discípulos não se sentiam preparados para enfrentar esta realidade. Também não estavam em condições de compreender o que se passava com Jesus. O pano de fundo das palavras de Jesus tem a ver com o destino de morte e de ressurreição que o esperava. O tempo da não-visão corresponderia à experiência de morte a ser enfrentada por ele. Sem o apoio de sua presença, a comunidade ficaria exposta à tristeza, à confusão, e à zombaria do mundo. Julgando ter alcançado seu objetivo de eliminar o Filho de Deus, seus inimigos teriam motivos para se alegrar com o desespero dos discípulos. O tempo da visão correspondia à Páscoa. Momento de reencontro do Senhor com sua comunidade, sem as limitações do tempo e do espaço. E, por isso, motivo de alegria para os discípulos. Pelo contrário, tempo de tristeza para o mundo, que verá frustrados todos seus intentos de eliminar o Filho de Deus. Ver-se-á derrotado, quando pensava ter sido vitorioso. A alegria sucede à tristeza. Ela é o ponto de chegada para o discípulo que sabe compreender o sentido da morte de Jesus, e se prepara para colhê-lo na Ressurreição. – Espírito de júbilo, transforma, em alegria, a tristeza de meu coração, fazendo-me compreender que o Ressuscitado está vivo, no meio de nós” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de maio de 2025

(At 17,15.22—18,1; Sl 148; Jo 16,12-15) 6ª Semana da Páscoa.

“Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso disse que o que ele receberá e vos anunciará é meu” Jo 16,15.

“Neste texto a ação de Espírito é explicada em relação às três Pessoas Divinas: ao mesmo Espírito (v. 13), ao Filho (v. 14), ao Pai (v. 15). A conclusão dos três versículos é sempre a mesma: ‘há de anunciá-lo’. O Espírito, concedido aos crentes, agirá neles e auxiliá-los-á a compreender as antigas profecias. Assim o Espírito anuncia e abre para uma verdade diferente das que o ‘mundo’ propõe. O Espírito permite aos crentes penetrar na profundidade da Escritura na qual estão contidas, na linguagem dos homens, as palavras de Deus e da qual, segundo a bela expressão de São Gregório Magno, o homem pode ‘captar o coração de Deus’. Afirma a Dei Verbum, no número 12, que ‘a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita’. É por isso necessário que os fiéis, com a sua vida, permitam verdadeiramente ao Espírito que fale. Esta atitude não tem nada de abstrato ou fantasioso, mas requer atenção aos acontecimentos concretos de cada dia, pedindo a Deus o dom do discernimento; requer oração, amor para com o próximo, o abandono da idolatria no tocante ao dinheiro e ao poder sobre os outros e, muito importante, a celebração da liturgia. Com efeito, a assembleia litúrgica é o lugar privilegiado para a escuta da Escritura. Nela Cristo está ‘presente na sua Palavra, pois que é Ele que fala quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura’ (Sacrosantum concilium, 7). Tudo isto nos diz que para entrar na lógica nova de Jesus, para nos deixarmos instruir nisto pelo Espírito, temos diante de nós um caminho novo já marcado: a vida cristã diária e normal” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de maio de 2025

(At 16,22-34; Sl 137[138]; Jo 16,5-11) 6ª Semana da Páscoa.

“Paulo e Silas responderam: ‘Crê no Senhor e serei salvo tu e todos de tua família” At 16,31.

“Para compreendermos o texto é necessário ter presente que a reação desencadeada contra Paulo e Silas (v. 22) foi causada pela intervenção de Paulo: o Apóstolo tinha libertado de um espírito uma jovem escrava, a qual queria colocar o seu poder ao serviço dos ‘servos de Deus Altíssimo que anunciam o caminho da salvação’ (At 16,17). A Boa notícia de Jesus não precisa desta propaganda ambígua. Os donos da jovem veem dissipar-se os lugares provenientes dos oráculos pronunciados pela jovem (cf. At 16,16.19).Por esse motivo os dois missionários são açoitados e metidos na prisão. [Compreender a Palavra:] A narração começa sob o signo de uma perseguição injusta e termina num clima de alegria partilhada. Paulo e Silas, embora perseguidos, entoam louvores a Deus. A intervenção de Deus foi inesperada. Um terremoto abre dois caminhos: o da libertação dos prisioneiros e do carcereiro para a fé. Deus intervém na vida do carcereiro e transforma-o de cego executor das ordens dos magistrados, num homem à procura de luz. Por isso coloca aos missionários uma pergunta precisa: ‘Senhores, que devo fazer para ser salvo?’ (v. 30), a mesma que os primeiros crentes tinham feito a Pedro (cf. At 2,32) e que as multidões faziam a João Batista (cf. Lc 3,10). A resposta foi: ‘Acredita no Senhor Jesus’ (cf. v. 31). Toda a casa do carcereiro acolhe o anúncio dos missionários. Este lava as chagas de Paulo e de Silas e, por sua vez, é lavado pelo Batismo: uma transformação dupla e significativa. Por fim o texto sublinha o clima de alegria que nasce de terem acreditado em Deus e que se exprime numa refeição fraterna, uma velada alusão à Eucaristia (v. 34)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de maio de 2025

(At 16,11-15; Sl 149; Jo 15,26—16,4) 6ª Semana do Tempo Pascal.

“Eu vos digo isso para que vos lembreis do que eu disse, quando chegar a hora” Jo 15,4.

“O risco maior a que os discípulos poderiam correr, seria o renegar sua própria fé. A isto se refere Jesus, quando falou de ‘escândalo’. Para que os discípulos o evitassem, Jesus lhes expusera, com toda a clareza, o destino de ódio e perseguição que lhes estava reservado. Mas também lhes prometeu enviar um Defensor, para estar sempre com eles. A missão dos discípulos consistiria em dar testemunho do Mestre, sem se deixarem intimidar. Missão dura, ao se virem expulsos da sinagoga, sua comunidade de fé, ou vítimas da sanha assassina dos seus inimigos. Julgando estar prestando um serviço a Deus, banindo-os da face da terra como indivíduos blasfemos, esses não teriam escrúpulos de assassiná-los. Então, deveriam ter fé redobrada para, por Jesus e pela causa do Reino, não desistirem da missão abraçada. Aqui entra em jogo a própria condição de discípulo, provada pelos acontecimentos. Quem se deixou ajudar pelo Paráclito e teve sua fé reforçada por ele, fará frente às investidas dos inimigos, mantendo-se fiel a Jesus. Quem titubear, ou, pior ainda, debandar, demonstrará estar longe de ter compreendido as reais exigências do discipulado, estar despreparado para ser discípulo. O discípulo fiel, embora submetido a provações, não se escandaliza. Lembrando-se das palavras do Senhor, ele resiste por saber-se bem protegido pelo Espírito de Verdade, enviado pelo Pai. – Espírito de firmeza, nos momentos de provação, vem em meu socorro, para que eu não sucumba à tentação de apartar-me de meu Mestre e Senhor (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

6º Domingo da Páscoa – Ano C

(At 15,1-2.22-29; Sl 66[67]; Ap 21,10-14.22-23; Jo 14,23-29)

1. Estamos à dois domingos da Festa de Pentecostes e já temos uma menção ao Espírito Santo no Evangelho de hoje. Jesus está se despedindo dos seus discípulos e lhe promete enviar o Espírito, como sinal da sua contínua presença entre nós.

2. O Espírito Santo, esse desconhecido, esse esquecido, esse ‘parente pobre’ da Santíssima Trindade, adquire toda a sua importância decisiva de protagonista justamente quando vem esquecido. Paradoxalmente nos damos conta d’Ele, quando não está.

3. Quando o Espírito Santo não está presente assumimos uma atitude de defesa, nos refugiamos na sacristia, levantamos muros para proteger-nos contra o mundo externo. Vemos inimigos por toda parte. E assim evitamos a entrada desse ‘sopro’ do Espírito, que seria fator de perturbação dessa paz aparente.

4. Quando o Espírito não está presente se criam oposições arbitrárias, irredutíveis entre realidades que deveriam estar harmonizadas: o dever político e a contemplação. O sacro e o profano, a Igreja e o mundo. Tradição e renovação. Autoridade e responsabilidade. Oração e amor ao próximo. O Espírito é princípio de unidade.

5. O Espírito é a alma da Igreja. Quando se descuida da alma, para conservar a coesão, se reforça a carcaça. Ficamos presos às estruturas. Nos preocupamos mais com elas do que com as pessoas. Com as normas do que com a vida e a alegria de viver.

6. E assim, por essa ausência, se proliferam as leis, a regulamentação, as normas detalhadas. Substituímos o ‘sopro’ original pelos códigos. Com menos presença do Espírito, vem em primeiro plano a ordem e a disciplina exterior. A uniformidade dos comportamentos se sobrepõe a verdadeira unidade dos corações em Cristo.

7. E poderíamos acrescentar ainda mais coisas, mas creio que isso já seria suficiente para intuirmos e sublinharmos a gravidade e a dramaticidade de Sua ausência. E assim se faz necessário e urgente abrir às portas a esse ‘Desconhecido’ cuja presença se faz sentir quando está ausente.

8. Jesus fala da presença do Espírito em termos de memória e fantasia. “O Espírito vos recordará tudo que vos tenho dito”; e mais adiante: “Muitas coisas ainda tenho a dizer, mas no momento não sois capazes de suportar. Quando vier o Espírito da verdade, ele vos ensinará toda verdade... e vos anunciará as coisas que virão” (16,12-13).

9. O Espírito nos faz olhar para trás para recordar, mas nos obriga a olhar para frente, para inventar, para antecipar. A memória não pode acomodar-se no passado num sentido nostálgico. Deve fazer que o passado reviva no presente e prepare o futuro. A memória não deve tornar-nos escravo do passado, mas livres para o hoje.

10. O nosso poder de conservação é rigorosamente proporcional à nossa capacidade de renovação e de criação. A visão do passado é justa e necessária. É útil. Mas deve ser operacional, não contemplativa.

11. Um terreno incapaz de fazer germinar novas sementes é inadequado até mesmo para conservar e alimentar as plantas que já possui. Para salvar o presente, é necessário garantir o futuro. A verdadeira importância do passado se demonstra olhando o futuro. Se se ama verdadeiramente o passado, preocupemo-nos com o futuro.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de maio de 2025

(At 16,1-10; Sl 99[100]; Jo 15,18-21) 5ª Semana da Páscoa.

“Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhes pertence. Mas, porque não sois do mundo,

porque eu vos escolhi e apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia” Jo 15,19.

“O Evangelho propõe uma outra passagem do último discurso de Jesus aos discípulos. Embora em continuidade com a página de ontem, de repente a narração de João muda de tom: o amor e a alegria parecem dar lugar ao ódio e à perseguição. A sorte dos discípulos no tempo da Igreja é perfeitamente simétrica à de Jesus (v. 18). A hostilidade do mundo em relação aos discípulos não só é anunciada, mas é também explicada: ela tem origem no fato de eles não serem do mundo, mas pertencerem a Jesus que os escolheu (v. 19). [Compreender a Palavra:] A reflexão de Jesus é lúcida: o que caracterizou a Sua vida marcará também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa’ (v. 20). É significativa a mudança do tema: de odiar e amar para perseguir e guardar (a Palavra). O que acontece aos discípulos aconteceu primeiro a Jesus: é uma prioridade não só de ordem cronológica, mas teológica. Na história de Cristo está revelado o como e o porquê da história do discípulo: é um claro convite dirigido aos discípulos para que saibam ler o sentido das suas vidas à luz da vida do seu Mestre. É verdade que o discípulo encontra perseguição: esta não é um revés, mas vitória; não ausência do Pai, mas a Sua presença segundo os modos e os tempos, que não são os da lógica do mundo. Os discípulos não pertencem ao mundo; isto é, eles não vão buscar a lógica humana os critérios que inspiram as suas vidas e as suas ações, mas a Cristo, à sua lógica de vida (uma vida teimosamente doada a Deus e aos homens); uma lógica que o mundo não pode aceitar porque lhe é perfeitamente estranha. A perseguição, então, de motivo de escândalo torna-se sinal de pertença: o mundo, com efeito, ama só aquilo que é seu; se não ama os discípulos é porque estes não lhe pertencem” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 23 de maio de 2025

(At 15,22-31; Sl 56[57]; Jo 15,12-17) 5ª Semana da Páscoa.

“Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu chamo-vos amigos,

porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” Jo 15,15.

“Jesus rompeu a visão rígida de discipulado que vigorava em sua época, recusando-se a considerar seus discípulos como servos, por considerá-los como amigos. Ele não era um rabino a mais, preso a esquemas incompatíveis com o Reino. Sua postura foi inovadora. O esquema servo-senhor era-lhes insuficientes para expressar seu modo de considerar os discípulos. Um patrão não tem satisfações a dar a seus empregados, uma vez que são considerados como meros executores das ordens recebidas. Os laços de comunhão entre eles são frágeis, pois o empregado, quase sempre, quer ver-se livre da tutela do seu patrão. A um e outro falta o amor. O esquema amigo-amigo revela o que Jesus pretende ser para os seus discípulos. A amizade comporta afeto, comunhão de interesses e busca de ideias comuns. Embora correndo o risco de ser rompida, a amizade autêntica tende a ser estável. Nela, um amigo não se sente tutelado pelo outro. Tudo se fundamenta na liberdade e no respeito. Ao convocar seus discípulos, Jesus quis, logo, estabelecer laços de amizades com eles. Chamou a cada um por decisão pessoal. Comunicou-lhe tudo quanto aprendeu do Pai. Assumiu-os como colaboradores em sua missão. Não lhe impôs normas ou regras, a não ser o mandamento do amor mútuo. Manifestou-lhes, até o extremo, seu bem-querer, a ponto de dar a vida por eles. – Espírito que constrói amizade, reforça os laços que me unem a Jesus e aos meus semelhantes (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de maio de 2025

(At 15,7-21; Sl 95[96]; Jo 15,9-11) 5ª Semana da Páscoa.

“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei

os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor” Jo 15,10.

“Deveríamos sentir profunda vergonha de que o Senhor Jesus tenha repetido, tão insistentemente, que nos ama e nos tenha pedido que permaneçamos em seu amor. Jesus nos ama com o mesmo amor com que ama o Pai celestial. Não se pode, pois nem pensar nem dizer mais; Deus não pode fazer nada mais nem melhor por sua criatura. Você deve convencer-se de que Cristo o ama até o excesso, ama-o infinitamente, pois ele é infinito e tudo o que faz também o é. Mas ele quer que nós o amemos, como ele nos ama; você não pode aceitar que Deus o ame ilimitadamente e você, por sua vez, corresponda com amor frio e dividido a esse infinito amor. Se você ama de verdade, terá de sacrificar-se por ele, imitá-lo, amar os outros. Jesus prevê as dificuldades e os obstáculos que seus discípulos vão encontrar, para lhes permanecerem fiéis, e por isso adverte-os: ‘Perseverai no meu amor’ (v. 9). E diz-lhes como devem perseverar: ‘se guardardes os meus mandamentos’ (v. 10).’Perseverai no meu amor’, diz-nos Jesus, uma vez que tão-somente a perseverança no bem é o que dará valor a nossos atos; começar é fácil, perseverar já é mais difícil” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de maio de 2025

(At 15,1-6; Sl 121[122]; Jo 15,1-8) 5ª Semana da Páscoa.

“Isso provocou muita confusão, e houve uma grande discussão de Paulo e Barnabé com eles. Finalmente, decidiram que Paulo e Barnabé e alguns outros fossem a Jerusalém para tratar dessa questão com os apóstolos e anciãos” At 15,2.

“O capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos leva-nos da Antioquia a Jerusalém para depois fazer-nos regressar de novo a Antioquia. No centro da narração, Lucas coloca o debate na assembleia de Jerusalém (cf. At 16,67-30). Na Igreja de Antioquia, formada por cristãos provenientes do mundo hebraico e do mundo pagão, o Evangelho é pregado aos pagãos sem que lhes seja imposta a circuncisão, e os judeu-cristãos sentam-se à mesa com os pagão-cristãos, ultrapassando assim as leis judaicas da impureza. Esta opção não é partilhada por um grupo de cristãos vindo da Judeia, os quais levantam o problema: ‘Se não receberdes a circuncisão [...] não podereis salvar-se” (v. 2). [Compreender a Palavra:] O ensinamento dado pelos cristãos da Judeia deve colocar-se na sua justa perspectiva. Não se trata de negar a oferta da salvação a todos: eles afirmam que para se salvarem é preciso pertencer antes, mediante a circuncisão, ao povo da promessa. Paulo e Barnabé opõem-se a essa doutrina e discutem animadamente (vv. 1-2). Dirigem-se então a Jerusalém com uma delegação da comunidade de Antioquia, para enfrentar e resolver o problema com os Apóstolos e aos anciãos (vv. 3-21). À sua chegada, contam à Igreja de Jerusalém ‘tudo o que Deus tinha feito por seu intermédio’ (v. 4): é a narração do que acontecera em Antioquia, interpretada como uma ação segundo a vontade de Deus. A primeira resposta formulada por alguns cristãos provenientes do judaísmo parece intransigente: era preciso circundar os gentios e impor-lhes a observância da Lei de Moisés’ (v. 5). Em Jerusalém abre-se então o debate/confronto entre duas comunidades de proveniência religiosa e de orientação teológica diferentes” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de maio de 2025

(At 14,19-28; Sl 144[145]; Jo 14,27-31) 5ª Semana da Páscoa.   

“Ouvistes que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vos’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu” Jo 14,28.

“Jesus procurou evitar que sua partida para junto do Pai, a sua morte, fosse motivo de perturbação para os seus discípulos. Na perspectiva deles, isto resultaria na perda de um amigo querido, com quem haviam estabelecido um relacionamento de profunda confiança. Não era isso, porém, que preocupava Jesus. No seu horizonte, despontava a ação malévola do Príncipe deste mundo, cuja ação enganadora visaria desviar os discípulos do caminho do Mestre, causando-lhes toda sorte de dificuldades. De fato, a perspectiva de perseguição não deixava de ser preocupante. Se os discípulos tivessem consciência do que isto significava, teriam mais razão ainda para entristecer-se e perturbar-se. Apesar da incerteza do futuro, os discípulos deveriam alegrar-se. Ao partir, Jesus os precederia no caminho que todos haveriam de trilhar também. E, na casa do Pai, lhes prepararia um lugar. A partida de Jesus era inevitável e inadiável. Sua permanência terrena junto aos seus não podia prologar-se indefinidamente. Uma vez concluída sua missão terrena, era hora de começar sua missão celeste. Aos discípulos caberia levar adiante a missão do Mestre. A compreensão disto deveria afastar deles todo medo e toda tristeza. Embora sendo uma dura experiência, os discípulos tinham motivos para se alegrar com a partida de Jesus. – Espírito de segurança, que a ausência física de Jesus não me deixe perturbado, e sim, seja motivo de alegria, para mim, porque sei que ele nos precedeu junto do Pai (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de maio de 2025

(At 14,5-18; Sl 113B[115]; Jo 14,21-26) 5ª Semana da Páscoa.

“Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama” Jo 14,21a.

“Jesus deu-nos provas suficientes de que nos ama; e espera, consequentemente, nosso amor sério, perseverante, sincero, acima de qualquer sacrifício, uma vez que o amor com amor se paga. Quem ama sinceramente a Jesus atrai a benevolência do Pai, que, assim como teve suas complacências com seu Filho Jesus (Mateus 3,17), também as tem com os que amam a Jesus. Por parte de Jesus não fica interrompida a correspondência ao amor que nós lhe tenhamos. Ele não tem segredos para seus amigos; ele nos manifestou as intimidades de Deus e descobriu-nos os segredos do seu divino coração e como está disposto a tratar as almas que a ele se entregam. Também você pode pertencer ao número das almas que são íntimas do coração de Cristo e que recebem dele suas mais notáveis graças; porém, para isso, é necessário que você esteja disposto(a) a receber as confidências de Cristo. Amar a Cristo é guardar seus mandamentos, visto que amar uma pessoa é dobrar-se à sua vontade; amor que não é acompanhado de obras, que não é entrega da vontade, não é verdadeiro amor. Tanto mais perfeito será nosso amor, quanto com maior perfeição cumpramos seus mandamentos e com maior fidelidade façamos o que a ele agrada” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

5º Domingo da Páscoa – Ano C

(At 14,21b-27; Sl 144[145]; Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35)*

1. A palavra ‘novo’, ‘nova’, domina a 2ª leitura e o nosso Evangelho. Na realidade, o ‘novo’ mandamento dado por Jesus é um mandamento antigo. Antigo segundo a letra, porque já foi dado tempos atrás; mas novo segundo o Espírito, porque só com Jesus nos é dada a força para colocá-lo em prática. Era preciso, para isto, a graça.

2. Não é quando Jesus o formula em vida que este mandamento se torna novo, mas quando morrendo na cruz e dando-nos o Espírito Santo, nos torna, de fato, capazes de amar-nos uns aos outros, infundindo em nós o amor que Ele mesmo tem por cada um de nós.

3. O mandamento de Jesus é um mandamento novo num sentido ativo e dinâmico: porque ‘renova’, faz novo, transforma tudo. Se o amor falasse, poderia fazer sua as palavras que Deus pronuncia na 2ª leitura: “Eis que faço novas todas as coisas”.

4. Um pouco desse novo céu e dessa nova terra se instaura onde se vive um ato de amor, mesmo que discreto e pequeno. Não devemos esperar que acabe esse mundo para que venha esses novos céus e nova terra. Esses vêm a cada dia. Depende também de nós fazê-los vir.

5. E não é necessário que este amor seja sempre explicitamente inspirado da fé em Cristo. Quando é genuíno e desinteressado, não precisa ser feito por amor a Ele. Ele declara que tudo o que vem feito a um desses pequeninos, é a Ele mesmo que é feito. Isso não quer dizer que seja indiferente e sem consequências o fato de referir-se a Cristo, de contar com seu exemplo e sua graça.

6. Não é fácil para nós amar o próximo, amar a longo prazo, amar desinteressadamente, sem um motivo superior. É algo absolutamente acima de nossas forças. Teresa de Calcutá dizia que sem o contato cotidiano com Jesus na Eucaristia, não teria a força de fazer a cada dia o que fazia.

7. O mandamento do amor tem como modelo o próprio Jesus. Esse amor de Jesus, segundo as Escrituras, tem três características: Ele nos amou primeiro (1Jo 4,10); nos amou ‘enquanto ainda éramos inimigos’ (Rm 5,10); e nos amou até o fim (Jo 13,1).

8. A respeito desse amar por primeiro, lembremos essas situações cotidianas do tipo: “Não o saúdo porque ele não me saúda”, e se o outro estiver pensando a mesma coisa? Se não se rompe o gelo, o gelo vai consolidando-se. Jesus nos provoca a dar o 1º passo.

9. Nas relações familiares esse 1º passo é imprescindível. Muitas dificuldades e crises matrimoniais nascem do fato que cada um espera que seja o outro a fazê-lo. Seria necessário convencer-nos que humilhante não é prevenir o outro, mas deixar-se prevenir pelo outro; não chegar em primeiro, mas em segundo.

10. Amar o inimigo é a dificuldade das dificuldades! Eis aqui a novidade no mandamento de Jesus. Não porque se trata de um grau avançado em termos de religião, mas porque com Seu exemplo e com a Sua graça, nos é dada a possibilidade de amar, mesmo os nossos inimigos.

11. Não consegues amar o teu inimigo ou quem lhe fez algum mal? Não se assuste, ninguém consegue. O que deves fazer é pedir a Jesus para lhe dar o ‘seu’ amor pelos inimigos, que Ele o ajude a realizá-lo, já que é isto que pede a você.

12. Esse amor até o fim diz respeito a intensidade, a um amor capaz de dar a própria vida; amar até o último suspiro, que nesse caso se aplica a Jesus. Todos somos capazes de alguns impulsos generosos, mas quando se trata de perseverar no amor e de sermos constantes, as coisas mudam.

13. Esse tipo de amor que tem a coragem de recomeçar cada dia de novo, com um sorriso nos lábios, mesmo em meio as dificuldades, está presente naqueles que trabalham por vocação. Mas também entre os genitores que tem um filho com alguma deficiência ou mesmo doente em casa, podemos encontrar exemplos luminosos.

14. Amar até o fim, sem esperar nada: nos vem a tentação de dizer que tudo isto está fora da realidade e que é injusto para consigo mesmo. Procurar só o bem do outro é possível? É justo? Quando pensamos assim esquecemos que na realidade, entre os dois, aquele que a ama e aquele que é amado – quem mais ganha é aquele que ama.  

15. O amor enriquece, descortina novos horizontes impensáveis a quem o doa; ilumina a vida e, aquilo que é mais importante, lhe faz assemelhar-se a Deus.

com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de maio de 2025

(At 13,44-52; Sl 97[98]; Jo 14,7-14) 4ª Semana da Páscoa.

“Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes” Jo 14,7.

“Não se pode compreender a existência de Jesus, prescindindo de sua intima comunhão com o Pai. Suas palavras e seus gestos foram sempre referidos ao Pai. A consciência de ser Filho enviado estava sempre presente em tudo quanto fazia. E mais: tinha consciência de estar chegando a hora de voltar para junto do Pai. Sendo assim, o Filho divino pode ser considerado como a transparência do Pai. Quem o conhece, conhece o Pai. Quem o vê, vê também o Pai. Ouvi-lo, significa ouvir o Pai. Contemplar seus milagres, corresponde a contemplar o Pai manifestando seu amor pela humanidade. É, pois, inútil pretender ter acesso a Deus, prescindindo de Jesus. Evidentemente, o Pai não é Jesus. E Jesus não é o Pai. As palavras de Jesus não dão margem para equívocos. Seria falsa qualquer identificação, e não corresponderia ao pensamento de Jesus. A comunhão entre ambos não redunda da fusão de um no outro. Apesar disso, Jesus não titubeou em fazer esta afirmação ousada: ‘Quem me vê, vê o Pai’. Da contemplação e da vida de Jesus, é possível chegar a compreender quais são as pautas da ação de Deus, ou seja, a maneira como ele se relaciona com os seres humanos, e o que espera deles. Portanto, não é preciso ir longe para encontrar Deus. Jesus é o caminho pelo qual chegamos até o Pai. – Espírito de discernimento, ilumina minha mente e meu coração para que eu possa reconhecer o Pai na contemplação do Filho Jesus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 16 de maio de 2025

(At 13,26-33; Sl 02; Jo 14,1-6) 4ª Semana da Páscoa.

“Jesus respondeu: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim’” Jo 14,6.

“O tema da ‘viagem’ caracteriza o capítulo 14 de João (notemos o emprego de termos como ‘ir’, ‘vir’, ‘caminho’). Uma leitura atenta de todo o capítulo faz-nos compreender que o tema de fundo não é tanto a iminente partida de Jesus, mas sim a situação na qual virão a encontrar-se os crentes depois da Sua morte e ressurreição. O contexto para indicar-nos que se trata de um tempo de dificuldade, de perseguição, de incompreensão, de crise. Eis então que as palavras do Mestre se tornam uma chave de interpretação da vida do cristão. [Compreender a Palavra:] Se os discípulos quiserem compreender o sentido da História na qual vivem, amiúde colocada sob o signo do desmentido (Cristo ressuscitou, mas nada muda!), devem movimentar-se no horizonte da fé, isto é, acreditar que Jesus, com a Sua morte e ressurreição, nos antecipou e nos preparou um lugar. Por conseguinte, o caminho que o discípulo deve percorrer é o caminho da Cruz e da ressurreição. Compreendemos assim por que Jesus, respondendo à pergunta de Tomé, disse: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’ (v. 6). O Mestre não afirma que diz a verdade ou que fala em nome da verdade, mas que é a verdade. Para João, a verdade não é conhecimento do ser, tal como a entendia o mundo grego; nem, como a entendia o mundo helénico-gnóstico, alguma coisa que se alcança somente siando da matéria, fugindo da História de forma a unir-se ao que é divino. Para João não é assim. Ele entende por verdade o movimento de comunhão que une o Pai e Filho: Jesus é a transparência plena, concreta, atingível dessa comunhão. A verdade manifesta-se numa história particular – a do Verbo que se fez homem – não num sistema de doutrinas” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 15 de maio de 2025

(At 13,13-25; Sl 88[89]; 13,16-20) 4ª Semana da Páscoa.

“Em verdade, em verdade vos digo, o servo não está acima do seu senhor

e o mensageiro não é maior do que aquele que o enviou” Jo 13,16.

“Esta mensagem do Evangelho segundo São João, colocada na última Ceia de Jesus com seus discípulos, depois do lava-pés que Jesus realizou, dando-nos um maravilhoso exemplo de humildade e advertindo-nos: ‘Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós’ (v. 15). Perante os olhos admirados dos apóstolos, o Senhor toma novamente assento entre eles, e começa a instruí-lo, fazendo-lhes entender que ele realizou, de fato, com eles, o que agora ia-lhes ensinar por meio de suas palavras. Afinal esse sempre foi o método didático empregado por Jesus, conforme São Lucas: ‘contei toda a sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, desde o princípio’ (Atos 1,1-2). Não quis nunca ensinar-nos com palavras o que antes não tivesse realizado; como também não quis exigir de nós nada que ele não tivesse vivido. Assim, nessa oportunidade, disse aos apóstolos: ‘Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, assim façais também vós’ (v. 15). Rodeado já por seus apóstolos e a com a atenção deles presa no Mestre, diz-lhes o Senhor Jesus: ‘Em verdade, em verdade vos digo (frase que exprime decisão e firmeza naquilo que afirma): o servo não é o maior do que seu senhor, nem o enviado é maior do aquele que o enviou’ (v. 16). Os apóstolos são os servos e os enviados por Jesus ao mundo; portanto não poderão eximir-se de submeter-se a tudo o que Jesus se submeteu e fazer o que Jesus fez e como ele fez. Jesus deve ser seu modelo e seu exemplo; você deve olhar para ele, a fim de que sua vida pareça-se com a dele; deve copiar os sentimentos do Senhor e fazê-los seus, para que você possa ir adquirindo semelhança com ele. Para alcançar essa semelhança, você deverá desapegar-se de muitas coisas que são suas e que não podem ser de Jesus, de muitas de atuar, de reagir; de atitudes que terão muito de humano, mas não tanto de evangélico e, portanto, muito pouco de Jesus. Na comunhão você recebe Jesus, transforma-se nele; os seus olhos são os olhos pelos quais Jesus vê, suas mãos... sua língua... sua memória... seu coração... você não os deve empregar, a não ser para o que e da forma que Jesus os empregaria. Ele é o mestre, o modelo, e você deve aprender dele, imitá-lo. Em cada um de seus atos deve aparecer a marca de Jesus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 14 de maio de 2025

(At 1,15-17.20-26; Sl 112[113]; Jo 15,9-17) 4ª Semana da Páscoa.

“E eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” Jo 15,11.

“As primeiras gerações cristãs cuidavam muito da alegria. Parecia-lhes impossível viver de outra maneira. As cartas de Paulo de Tarso, que circulavam pelas comunidades, repetiam constantemente o convite a ‘estar alegres no Senhor’. O Evangelho de João põe nos lábios de Jesus estas palavras inesquecíveis: ‘Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja convosco e vossa alegria seja completa’. O que poderá ter ocorrido para que a religião dos cristãos apareça diante de muitos como algo triste, enfadonho e penoso? Em que convertemos a adesão a Cristo Ressuscitado? O que houve com essa alegria que Jesus transmitia a seus seguidores? Onde está ela? A alegria não é algo secundário na vida de um cristão. É um traço característico, a única maneira de seguir e de viver a Jesus. Ainda que nos pareça ‘normal’, é realmente estranho ‘praticar’ a religião cristã sem experimentar que Cristo é fonte de alegria vital. Esta alegria do crente não é fruto de um temperamento otimista, nem resultado de um bem-estar tranquilo. Não deve ser confundida com uma vida sem problemas ou conflitos. Todos sabemos que um cristão experimenta a dureza da vida com a mesma fragilidade que qualquer outro ser humano. O segredo desta alegria está em outro lugar: está além da alegria que se experimenta quando ‘as coisas vão bem’. Paulo de Tarso diz que é ‘uma alegria no Senhor’ que se vive quando estamos arraigados em Jesus. João diz mais: é a própria alegria de Jesus dentro de nós. A alegria cristã nasce da união íntima com Jesus Cristo. Por isso não se manifesta de ordinário na euforia ou no otimismo a todo transe, mas se esconde humildemente no fundo da alma crente. É uma alegria que está na própria raiz da vida sustentada pela fé em Jesus. Não se vive essa alegria de costas para o sofrimento que existe no mundo, pois é a alegria do próprio Jesus dentro de nós. Ao contrário, converte-se em princípio de luta contra a tristeza. Poucas coisas maiores e mais evangélicas podemos fazer do que aliviar o sofrimento das pessoas transmitindo-lhes alegria realista e esperança” (José Antonio Pagola – O Caminho Aberto por Jesus – João – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de maio de 2025

(At 11,19-26; Sl 86[87]; Jo 10,22-30) 4ª Semana da Páscoa.

“Os judeus rodeavam-no e disseram: ‘Até quando nos deixarás em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente’” Jo 10,24.

Os judeus insistiam com Jesus, exigindo que ele afirmasse, abertamente, sua identidade de Messias. Jesus, porém, tinha motivos para não ceder a tal pressão. Existe um caminho muito simples para reconhecê-lo: prestar atenção nas obras que ele realiza! Só consegue reconhecer Jesus a partir de suas obras, quem se faz discípulo dele. A condição de discípulo coloca o indivíduo na perspectiva justa para observar o agir de Jesus e tirar as conclusões a respeito de sua identidade. Como? Permitindo olhá-lo com benevolência, sem preconceitos, nem má intenção. Colocando-se em sintonia com o Senhor, o discípulo pode discernir quem, de fato, é Jesus. Igualmente, capacita-o para ler, nas entrelinhas da ação de Jesus, na sua condição de Messias, realizador das antigas esperanças de Israel, restaurador da vida e da esperança. E mais, sua condição divina, pois, as obras que Jesus realiza são exclusivas de quem é o Filho de Deus. Quem não se torna discípulo, ou seja, sua ovelha, não está em condições de reconhecê-lo como Messias, por mais prodigiosa que seja a obra realizada por Jesus. Quem não está predisposto a ser discípulo, não abre mão da sua posição já tomada, nem confessa a messianidade de Jesus. Por isso, não era oportuno perder tempo com tal tipo de gente. Se não quisessem crer nele a partir das obras, paciência! – Espírito do Messias, coloca-me na perspectiva justa, para reconhecer a confessar a messianidade do Filho Jesus (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de maio de 2025

(At 11,1-18; Sl 41[42]; Jo 10,1-10) 4ª Semana da Páscoa.

“Jesus contou-lhe esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer” Jo 10,6.

“Jesus mesmo desfaz o enigma de sua fala, identificando-se primeiro com a porta (10,7-10), e depois com o pastor (10,11-18). Todo o discurso recebe a sua estrutura das quatro afirmações, que começam com ‘Eu sou’. Duas vezes Jesus afirma: ‘Eu sou a porta’. Ele é a porta que leva às ovelhas (10,7). Só Jesus tem acesso autorizado às ovelhas. Mas ele serve também de porta para passagem das ovelhas.  É pela porta chamada Jesus que as ovelhas podem entrar e sair, encontrar pasto bom e experimentar uma vida em plenitude (10,9-10). A porta sempre foi um símbolo para o homem, pois ela representa a passagem de um âmbito para o outro, por exemplo, do âmbito terreno para a celestial. Em muitas culturas existe a figura da porta do céu que possibilita o acesso ao âmbito divino. A porta é também um símbolo importante nos sonhos. Às vezes sonhamos que não estamos encontrando a porta de nossa casa. Ou que a porta está trancada. Estamos excluídos do âmbito interior da nossa alma. Vagamos pelo mundo exterior, sem ter acesso a nós mesmos. Jesus se identifica com a porta. Ele é a porta que conduz ao nosso próprio âmago. Ele tem acesso ao nosso coração. E por meio de Jesus entramos em contato com nós mesmos. Para mim, a grande questão é saber qual foi a experiência que essa imagem desencadeou nos discípulos, ou que experiência de Jesus se exprime nela. Certamente, os primeiros cristãos experimentavam Jesus e as suas palavras como uma porta que os levava a eles próprios. Meditando sobre Jesus descobriram de repente quem eram eles mesmos. Através de Jesus como porta podiam entrar em sua própria casa para sentirem-se em casa. Jesus era para eles a porta para o seu verdadeiro eu. E é esse também o desafio para mim hoje: compreendendo Jesus compreendo a mim mesmo, descubro quem sou eu de verdade, ganho acesso a mim mesmo. Para Werner Huth, um terapeuta experiente, o impasse do homem de hoje consiste justamente no fato de ter perdido seu eixo espiritual, perdendo o contato com seu próprio centro (cf. HUTH, 2000, p. 474). Para mim importa sobretudo interpretar a metáfora da porta de tal maneira que o ser humano se sinta tocado em seu anseio por um centro interior que lhe franqueie o contato com o seu verdadeiro eu”. (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

4° Domingo da Páscoa – Ano C

(At 13,14.43-52; Sl 99[100]; Ap 7,9.14b-17; Jo 27-30)

1. A mentalidade moderna tem uma certa dificuldade de entrar em sintonia com parábola do pastor e do rebanho. Por vezes as imagens inspiradas pela mesma são um pouco ‘adocicadas’, trazendo um Jesus loiro de cabelos encaracolados, olhos azuis, bem vestido e com uma ovelha sobre os ombros.   

2. Alguns provam certa repugnância de sentir-se parte de um rebanho, ainda que conduzido por Cristo. As ovelhas tendem a imitar umas as outras e parecem tão somente servir ao pastor seja na tosa ou na carne. 

3. O rebanho traz a ideia de conformismo e nivelamento. A pessoa desaparece, absorvida pela coletividade, até perder a própria identidade. Nietzche já dizia: “A comunidade torna comum”.

4. Mas tal fenômeno só é possível quando certas pessoas aceitam perder-se no anonimato, de deixar-se absorver numa massa indiferenciável, de dissolver-se num pleno conformismo, de caminhar de cabeça baixa. Certamente não era essa a intenção de Jesus com sua parábola.

5. Segundo o plano divino, a comunidade constituída pelo seu povo representa seja a superação do individualismo (para ser você mesmo é necessário viver-com), seja a superação do conformismo gregário (para viver-com é preciso conservar a própria singularidade).

6. A contribuição que o indivíduo traz ao ‘rebanho’ (grupo) deve ser uma contribuição pessoal, dinâmica, inteligente. Que é o oposto do ‘dissolver-se na coletividade’.

7. Não se trata de seguir, mais ou menos passivamente, o movimento geral; um certo conformismo esconde uma indiferença, uma preguiça ou um certo medo que lesam efetivamente a comunidade. Esta só é rica pela contribuição dos seus membros. Ao não contribuir com o todo, eu também me empobreço.

8. Diz um autor (A. Motte): “O céu não é um sono hipnótico coletivo de uma multidão anônima onde cada um está fora de si. Ou mesmo um pasto onde cada um senta-se numa pequena mesa distante uns dos outros. Não. É um concerto onde cada um tem sua própria voz, insubstituível. E onde as vozes que participam se chamam, se completam e se sustentam umas às outras”.

9. A sinfonia tem necessidade da minha voz pessoal. Se me recuso, permaneço só, pobre, com a minha nota que resulta inevitavelmente fora do tom.

10. Cristo é pastor, o verdadeiro pastor, enquanto representa o oposto do ‘mercenário’. De fato, ele dá a sua vida pelas ovelhas. Não as desfruta. Não as instrumentaliza. Não as domina. Mas serve a elas.

11. Por Ele somos conhecidos pelo nome, cada um tem sua importância, único aos seus olhos, respeitado e amado no seu itinerário irrepetível. Ele não deseja que assumamos atitudes passivas. Exige que nos comportemos como pessoas livres, criativas.

12. O seu cuidado pelo rebanho não é nivelador, mas personalizado. Corrigida assim a imagem do ‘bom pastor’, nos resta admitir as nossas falhas em nossa relação com Ele. É certo, caminhar não é fácil, viver em comunidade é sempre um desafio, e especialmente quando nosso olhar está demasiado preso ao chão, sem olharmos o Pastor que vai à frente. Precisamos reaprender a levantar a cabeça para olhar a Ele, e vermos não somente o chão, mas estrada, o Caminho que é Ele mesmo.

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 10 de maio de 2025

(At 9,31-42; Sl 115[116B]; Jo 6,60-69)

“Muitos dos discípulos de Jesus que o escutaram, disseram: ‘Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” Jo 6,60.

“A obstinação dos adversários de Jesus chegou a contaminar os discípulos. O linguajar acerca do alimento eucarístico parecia-lhes cada vez menos compreensível. O simbolismo das palavras ‘carne, sangue, comer, beber, possuir a vida’ etc., por não ter sido decodificado, não permitia que as pessoas instruíssem o que Jesus realmente queria dizer. A situação agravou-se, quando os próprios discípulos de Jesus começaram a se escandalizar com a linguagem do Mestre. Não se pode ignorar, que eles vivam no mesmo ambiente cultural e teológico dos adversários de Jesus. A superação de seus esquemas mentais não era só uma questão de vontade ou de amizade com Deus. Era coisa muito séria. Os discípulos eram convidados a abrir mão daquele universo teológico rígido e contaminado por uma mentalidade demasiado estreita, para aderir à proposta de Jesus. Esta foi a mesma exigência que o Mestre impôs aos seus adversários.  Muitos discípulos, incapazes de dar o salto qualitativo da fé, optaram por afastar-se do Mestre, aliando-se aos seus adversários. Entretanto, os que permaneceram foram também desafiados a fazer o mesmo. A intervenção de Pedro foi fundamental para recolocar as coisas nos seus devidos lugares. Era inútil correr atrás de outros mestres. Só em Jesus encontram-se palavras de vida eterna. – Espírito de convicção, que eu me deixe convencer pelas palavras de Jesus, e as escolha, na certeza de que, só nelas, conseguirei a vida eterna” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 09 de maio de 2025

(At 9,1-20; Sl 116[117]; Jo 6,52-59) 3ª Semana da Páscoa.

“Mas o Senhor disse a Ananias: ‘Vai, porque esse homem é instrumento que escolhi

para anunciar o meu nome aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel’” At 9,15.

“Temos finalmente em primeiro plano o personagem conhecido de relance no episódio do martírio de Estevão, onde a técnica narrativa de Lucas o tinha apontado num prelúdio antecipador da sua importância no seguimento da narração. Entre os lapidadores do protomártir Estevão, sobressaía de fato a figura silenciosa e cúmplice do jovem Saulo. Tinha depois rebentado nesse dia (cf. At 8,1) uma violenta perseguição contra a Igreja, e mais uma vez Saulo desempenha papel ativo. Mas o Senhor esperava-o no caminho de Damasco. [Compreendera Palavra:] Saulo conhece muito bem a cultura helenista, é inclusive cidadão romano por nascimento e tem como romano um segundo nome que depois usará de preferência: Paulo, que significa ‘o pequeno’. Ao mesmo tempo é um hebreu zeloso, fariseu por opção, instruído na Lei pelo rabino Gamaliel, e nada tolerante. Considera os discípulos de Jesus uma ameaça para a integridade da fé dos antepassados, baseada na observância da legislação mosaica, e por isso se dedica com afinco à repressão contra eles (vv. 1-2). Contra todas as previsões, a experiência que vai ter do Senhor baralha os seus planos apanhando-o na profundidade da sua vivência, e deixa sinal, fechando os olhos de Saulo à realidade como ele a conhece (vv. 3-9), para voltar a abri-los a seguir à luz do Espírito (vv. 18-20). Tendo embora recebido uma vocação totalmente singular, Saulo chega à fé através da mediação da Igreja na pessoa de Ananias, a quem o Senhor revela a vocação do eleito para o apostolado entre os gentios (vv. 10-17)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 08 de maio de 2025

(At 8,26-40; Sl 65[66]; Jo 6,44-51) 3ª Semana da Páscoa.

“Está escrito nos Profetas: ‘Todos serão discípulos de Deus’. Ora, todo aquele que escutou o Pai

e por ele foi instruído vem a mim” Jo 6,45.

“É o Pai quem tem a inciativa na dinâmica da fé dos cristãos. No seu amor, elege o ser humano para ser objeto de sua revelação, e o convida a aderir ao Filho Jesus. Só vai a Jesus quem é escolhido e impelido pelo Pai. Só se entrega a Jesus quem se deixa guiar a humanidade para o Filho. O ato de fé no Senhor Jesus é, portanto, indício de obediência ao ensinamento do Pai e de submissão à sua vontade. A incredulidade configura-se como rebeldia contra o Pai. Não se trata de mera oposição a Jesus, numa atitude sem maiores consequências. Nem, tampouco, pode ser considerada como uma fatalidade na vida das pessoas, numa espécie de anulação de sua liberdade. No ato de fé, está implicada a liberdade humana. Instruído pelo Pai, cabe ao ser humano acolher ou não a instrução recebida. Se a acolhe, sem dúvida será capaz de reconhecer em Jesus o enviado do Pai. Não é possível acolher a moção do Pai, mas fechar-se para o Filho. Ou seja, não dá para ficar no meio do caminho. Quem recebeu o ensinamento do Pai, necessariamente, irá a Jesus. - Espírito de docilidade ao Pai, reforça minha disposição para acolher os ensinamentos divinos e colocar-me, resolutamente, na busca do Ressuscitado” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 07 de maio de 2025

(At 8,1-8; Sl 65[66]; Jo 6,35-40) 3ª Semana da Páscoa.

“E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu,

mas os ressuscite no último dia” Jo 6,39.

“O texto prossegue o discurso sobre o ‘pão da vida’ retomando o versículo conclusivo do Evangelho de ontem: ‘Eu sou o pão da vida’ (v. 35). Perante a autorrevelação de Jesus delineia-se imediatamente a incredulidade dos seus sequazes superficiais, que O seguem apenas materialmente com vista a obter benefícios e prodígios. Não obstante a esterilidade deste tipo de sequela, a vontade de salvação de Deus será cumprida porque o Filho dará a vida àqueles que o Pai lhe confiou. [Compreender a Palavra:] A sabedoria de Deus no Antigo Testamento oferece o alimento da vida: ‘Vinde comer do meu pão, e beber do vinho que preparei para vós’ (Pr 9,5). ‘Os que se alimentam de mim terão ainda mais fome, e os que me bebem terão ainda mais sede’ (Eclo 24,20). O dom de Cristo é incomparavelmente maior: ‘Quem vem a Mim nunca mais terá fome e quem acredita em Mim nunca mais terá sede’ (v. 35). A sabedoria é uma pálida sombra do que a revelação cristã nos diz sobre a pessoa do Filho, eterna Palavra do eterno Pai. No Evangelho de hoje o Filho apresenta-se, na sua relação com o homem, como fonte de vida inexaurível e de saciedade perfeita, resposta à vontade de salvação universal do Pai (vv. 37-39). Ir a Jesus, seguir Jesus não significa pedir somente a satisfação de necessidades materiais ou psicológicas, mas procurar e encontrar a vida plena, uma dimensão que pode conciliar-se também com o sofrimento e com a morte (v. 40)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 06 de maio de 2025

(At 7,51—8,1; Sl 30[31]; Jo 6,30-35) 3ª Semana da Páscoa.

“Jesus lhes disse: ‘Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome

e quem crê em mim nunca mais terá sede’” Jo 6,35.

“Nós temos fome da verdade, sede de felicidade; Jesus é quem preenche estas nossas aspirações. Nossa inteligência procura a verdade absoluta e total, que nos satisfaça plenamente; somente encontramos fragmentos da mesma que não fazem outra coisa senão aumentar em nós a ânsia da verdade absoluta. Somente em Jesus Cristo poderemos saciar plenamente nossa fome e essa nossa sede, pois ele não só nos propõe a verdade, mas ele próprio é a Verdade do Pai, a verdade absoluta. Nosso coração procura a felicidade e a procura desesperadamente; e em vez disso, a única coisa que encontra e a que tem acesso é umas poucas migalhas, em muitas ocasiões enganadoras, que ao invés de saciar nosso apetite, o reacendem muito mais, ao desiludi-lo; e, quando são verdadeiras, o deixam insatisfeito por serem passageiras e pouco eficientes. Santo Agostinho, resumindo suas experiências pessoais, terminou dizendo: ‘Senhor, fizeste-nos para ti e nosso coração está inquieto e desassossegado, enquanto não descansar em ti’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 05 de maio de 2025

(At 5,27-33; Sl 33[34]; Jo 3,31-36) 3ª Semana da Páscoa.  

“Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade eu vos digo, estais me procurando não porque vistes sinais,

mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos’” Jo 6,26.

“Não foi fácil para Jesus levar o povo a estabelecer com ele um relacionamento correto. Muitas vezes, seus gestos poderosos despertavam sentimentos inoportunos, com os quais ele não estava de acordo. Jamais o Mestre se deixava aliciar! A multiplicação dos pães prestou-se para mal-entendidos. Depois de ter sido alimentada, a multidão foi, novamente no encalço de Jesus. Não por reconhecer sua qualidade de enviado do Pai, mas por ter comido e se saciado, interessada na repetição do milagre. No entanto, não interessava a Jesus ser procurado na qualidade de milagreiro. Ele esperava ser reconhecido como Filho do Homem, portador de um alimento especial para a humanidade, penhor da vida divina. O seu era um pão diferente: ele próprio. A apropriação deste pão dar-se-ia por meio da fé, ou seja, da adesão a Jesus. Ao aderir a ele, o discípulo afasta de si tudo quanto gera morte, e assimila o dinamismo vital que o animava, cuja fonte era o próprio Pai. Jesus estava interessado em saciar, em primeiro lugar, não a fome física, mas uma outra muito mais fundamental. Saciado com o pão do céu, o discípulo estaria apto para promover a partilha do pão material que sacia a fome do povo. A fé em Jesus não se expressa num intimismo estéril. Pelo contrário, ela deve ser expressa através de gestos, à semelhança daqueles realizados por Jesus. Também o discípulo é chamado a multiplicar os pães. – Espírito de adesão, transforma minha fé numa assimilação sincera da vida do Ressuscitado, que me leve a transmitir esta mesma vida a quem está faminto de Deus” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo de Páscoa – Ano C

(At 5,27b-32.40b-41; Sl 29[30]; Ap 5,11-14; Jo 21,1-19) *

1. Uma parte considerável do evangelho se desenvolve junto ao mar (lago), num ambiente de pescadores: o chamado dos primeiros discípulos, a tempestade acalmada, a pesca milagrosa, Jesus que caminha sobre as águas.

2. Os pescadores da Galileia eram associados em pequenas cooperativas e tinham uma vida bastante difícil, pois deviam repassar quase todo o ganho aos publicanos, que financiavam suas atividades. É nesse quadro que temos essa pequena cooperativa formada pelos filhos de Jonas: Simão e André e pelos filhos de Zebedeu: Tiago e João. Seus filhos serão os primeiros quatro apóstolos.  

3. São e eles e mais alguns que reencontramos no Evangelho deste domingo. Trata-se de dois episódios que se ligam, mas ao mesmo tempo são distintos: a pesca milagrosa e o diálogo entre Jesus e Pedro, mandando que este apascente as suas ovelhas.

4. Estamos nesse período de 40 dias que se desenvolvem após a ressurreição. Os apóstolos precisam sobreviver e voltar a pescar é o que lhes resta. Eis que ao amanhecer, sem nada pescar, e alguém lhes sugere, da margem, lançar a rede novamente, do outro lado e assim são surpreendidos com uma pesca abundante.

5. É uma cena que se liga facilmente à nossa existência. Também nós buscamos a solução dos nossos problemas numa determinada direção: lutamos, trabalhamos bastante, por vezes sem nem escutar algum conselho. É também a nós que se dirige a palavra de Jesus: busca em outra parte ou de outro modo. Com mais calma e mais confiança em mim. Busca com a fé e a oração.

6. Segundo alguns, o número de peixes pescado tem um valor simbólico. Alguns apontam para o número das espécies de peixes que se acreditava ter ali, outras para o número das nações conhecidas, numa referência ao mar do mundo onde os apóstolos lançariam suas redes sobre pessoas de todas as raças, povos e nações.

7. A condição de ressuscitado de Jesus, diferentemente de Lázaro que retorna o mesmo, não permite o reconhecimento imediato. Para reconhecê-lo é preciso um outro olhar, aquele da fé, que às vezes se abre lentamente.

8. Ali, onde algo já estava preparado e onde se soma o que se traz, há uma referência a Eucaristia. Fazemos uma passagem para o diálogo com Pedro, que aqui tem um peso maior. A insistência na pergunta de Jesus dá a Pedro, de modo gradual, a possibilidade de cancelar sua negação durante a paixão.

9. Ao mesmo tempo, o pedido/mandato de Jesus, segundo a interpretação católica, confere a Pedro e aos seus sucessores o papel e supremo e universal pastor do rebanho de Cristo. O que antes tinha sido uma promessa, agora se efetiva.

10. Mesmo Pedro tendo sido infiel, Jesus permanece fiel à promessa feita. Deus dá sempre ao ser humano outra possibilidade, outra chance. O perdão de Deus restaura e cria o novo em nós. Assim foi Pedro nos momentos difíceis dos primeiros passos do cristianismo, até dá a própria vida.

11. Pedro entendeu que o seu apascentar seria caracterizado pela dinâmica do amor, do cuidado e do serviço e não do domínio. É o amor a Cristo que caracterizará o seu modo de servir. Não será Pedro quem recebe os frutos desse amor, mas as ovelhas.

12. Santo Agostinho lembra que essa mesma pergunta se volta a cada um de nós: ‘Tu me amas?’ O cristianismo não é um conjunto de doutrinas e práticas; é algo de mais íntimo e profundo. É uma relação de amizade com a pessoa de Jesus Cristo.

13. Assim amam os pais a Jesus no cuidado com os filhos, que são também de Deus. Não só cuidando da saúde física, mas também da sua sanidade moral. Assim amará quem presta serviços: sendo justo e respeitoso para com quem os busca. Amamos em nossa capacidade de perdoar. Em observarmos os seus mandamentos. Como estamos respondendo a essa indagação de Jesus?

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 03 de maio de 2025

(1Cor 15,1-8; Sl 18[19]; Jo 14,6-14) 2ª Semana da Páscoa.

“Disse Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!’” Jo 14,8.

“Podemos pensar que Filipe também se dirige a nós ao pronunciar estes dois verbos que supõe um compromisso pessoal. Diz para nós também o que diz a Natanael: ‘Venha, e você verá’ (Jo 1,46). O apóstolo nos incentiva a conhecer Jesus de perto. De fato, a amizade, o verdadeiro conhecimento do outro, necessita de proximidade e às vezes vive graças a esta. Além do mais, não devemos esquecer que, segundo o que escreve Marcos, Jesus elegeu os Doze com o objetivo inicial de que ‘ficassem com ele’ (Mc 3,14), quer dizer, que compartilhem a sua vida e aprendam diretamente dele não só o estilo de seu comportamento, mas especialmente quem era Ele de verdade. Só assim, participando de sua vida, podiam conhecê-lo e em seguida anunciá-lo. Mais tarde, na carta de Paulo aos Efésios, leremos que o importante é ‘aprender a Cristo’ (4,20), quer dizer, não só escutar os seus ensinamentos, suas palavras, mas conhecer a Ele em pessoa, quer dizer, a sua humanidade e divindade, seu mistério, sua beleza. E não só Ele é um Mestre, mas também um Amigo, ou melhor, um Irmão. Como poderíamos conhecê-lo a fundo se permanecemos afastados dele? A intimidade, a familiaridade, os hábitos nos fazem descobrir a verdadeira identidade de Jesus Cristo. O mesmo que nos ensina Filipe. E por isso nos convida a ‘ir’, a ‘ver’, quer dizer, a entrar num contato de escuta, de resposta e de comunhão de vida com Jesus a cada dia” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 02 de maio de 2025

(At 5,34-42; Sl 26[27]; Jo 6,1-15) 2ª Semana da Páscoa.

“Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia o que ia fazer”. Jo 6,6.

“O acontecimento da multiplicação dos pães e dos peixes é verificado várias vezes no evangelho, visto que foram pelo menos duas as vezes em que o Senhor realizou este milagre, pela notável impressão que esse milagre produziu naquelas pessoas. Jesus não se preocupa exclusivamente com as necessidades espirituais daqueles que o seguem; atende também às necessidades de ordem material, tais como essa ocasião que o evangelho de hoje nos narra: ‘Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com ele’ (v. 5), e logo percebeu que eram pessoas carentes, e nesse mesmo momento resolveu realizar um maravilhoso milagre, a fim de suprir aquela necessidade e dar-lhe de comer; e assim multiplica milagrosamente aqueles poucos pães e aqueles poucos peixinhos, que um menino levava consigo. Jesus quer provar o apóstolo Filipe e por isso ‘para prová-lo’, perguntou-lhe: ‘Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que comer?’ (v. 5). Deus, às vezes, nos coloca em circunstâncias de provação. A tentação tem duplo sentido: incitação ao pecado e, neste caso, o diabo tenta, induzindo-nos sempre ao mal; porém a tentação tem também sentido de provação ou purificação e, neste caso, Deus permite que sejamos tentados para que lhe possamos demonstrar que o amamos de verdade” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite