Quinta, 17 de julho de 2025

(Ex 3,13-20; Sl 104[105]; Mt 11,28-30) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” Mt 11,30.

“O Senhor está se referindo aqui à opressão de tanto formalismo na observância da lei, que os rabinos exigiam rígida e asperamente; no entanto, Jesus promete ser manso e bondoso, simples e compreensivo. Por sua vez, diz o Senhor que seu jugo, a lei que ele impõe, é suave, é suportável, não é opressor. Essas palavras de Jesus devem fazer-nos pensar que se a observância da lei, seja da lei natural ou da lei eclesiástica, ou de outra qualquer lei legítima à qual estejamos submetidos em razão de nossa vocação, nos é pesada e difícil, devemos pensar que não é tanto a lei, mas sim as disposições pessoais com as quais enfrentamos o cumprimento da lei, as causadoras desse peso e dessa dificuldade. Por isso nos diz: ‘Aprendei de mim’, se bem que apesar de ser essa a tradução mais corrente e literal, a intenção do Senhor, ao falar assim, é dizer-nos que ‘nos deixemos instruir por ele’, que aprendamos o que ele ensina na sua escola a seus discípulos, que também nós frequentemos sua escola. Consequentemente, mais que como exemplo, Jesus se apresenta a nós aqui como Mestre que ensina, mas que ensina o que primeiramente ele fez e viveu. Assim nos diz Lucas: ‘Contei toda a sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus’ (Atos 1,1)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de julho de 2025

(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) Bem-aventurada Virgem Maria do Carmelo.

“A minha alma engradece ao Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu salvador” Lc 1, 46-47.

“Maria é verdadeiramente ‘a honra e a glória do nosso povo’ (cf. Jd 15,9), honrada não só pelos carmelitas, mas também por inúmeros fiéis espalhados no mundo inteiro, como Rainha e esplendor do Carmelo. Sob este título, seu culto remonta os primórdios da Ordem Carmelita. Liga-o a tradição à branca nuvenzinha avistada no monte Carmelo enquanto o profeta Elias suplicava a Deus que pudesse fim a uma longa seca. Naquela nuvenzinha semelhante ‘à palavra da mão de um homem’ (1Rs 18,44), que surgiu do mar e logo recobriu o céu de grossa nuvens carregadas de chuvas, reconheceu-se uma figura da Virgem Maria. Ao dar ao mundo o Salvador, foi portadora da vivificante água da graça. ‘Chova as nuvens o justo’ canta a Igreja no Advento, retomando um versículo de Isaías (45,8). A Virgem é bendita, toda santa e cheia de graça desde o primeiro momento de sua imaculada conceição, a mística nuvem que deu ao mundo o Salvador. Comprazem-se seus filhos em aplicar a Nossa Senhora do Carmo, juntamente com a Liturgia, o cântico do profeta: ‘Muitíssimo me alegrarei no Senhor, minha alma exultará no meu Deus, porque me revestiu com veste de salvação, cobriu-me com o manto da justiça’ (Is 61,10). Tais palavras são como um prelúdio do Magnificat, o Canto de Maria! Muito bem exprimem a gratidão da Virgem pelos privilégios com que a ornou Deus, preparando-a para Mãe de seu Unigênito. Dela, de fato, como de um jardim maravilhoso, ‘fará germinar a justiça’ (ibidem, 11), isto é, Jesus bendito ‘tornado para nós... justiça, santificação, redenção’ (1Cor 1,30). Maria não conserva só para si os dons insignes de que foi enriquecida, mas os reparte com todos os homens; a todos deu seu Jesus, e a todos quer revestir com suas ‘vestes de salvação’, com seu ‘manto de justiça’, ou seja, com a graça e a santidade merecidas pelo Filho. Eis o significado do escapulário e do bentinho de Nossa Senhora do Carmo, símbolos expressivos de sua obra materna em favor de seus devotos que a escolheram por especial padroeira” (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola)

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de julho de 2025

(Ex 2,1-15; Sl 68[69]; Mt 11,20-24) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres,

porque não se tinham convertido” Mt 11,20.

“Como os antigos profetas, Jesus lançou terríveis invectivas contra Corozaim, Betsaida e Cafarnaum, cidades que se recusaram a acolher sua pregação e converter-se de seus pecados. A impenitência destas cidades era injustificável. Afinal, a pregação de Jesus tinha sido suficientemente clara, revelando as exigências de Deus para aquele povo pecador. E mais, suas palavras haviam sido confirmadas por meio de numerosos milagres. Portanto, só lhes restava dar ouvidos às palavras de Jesus, e se converterem. As palavras incisivas do Mestre são justificáveis. Sua passagem pela vida das pessoas corresponde a um apelo escatológico, último, dirigido pelo Pai. Rejeitá-lo significa fechar-se à oferta da salvação provinda de Deus. Acolhê-lo é sinal de abertura para o Pai e para a vida eterna propiciada por ele. Seria admirável se Jesus, vendo alguém colocar-se no caminho da condenação, nada fizesse para demovê-lo desta atitude insensata. Ao falar duro, estava tentando chamar as cidades impenitentes ao bom senso. Bastava ver o que aconteceu com Sodoma e Gomorra, para se darem conta do futuro que teriam pela frente. Insistir na impenitência correspondia a caminhar para o mesmo destino delas. – Espírito de penitência, que eu saiba acolher o apelo de Jesus, e me disponha a mudar de vida, segundo as exigências do Reino (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 14 de julho de 2025

(Ex 1,8-14.22; Sl 123[124]; Mt 10,34—11,1) 15ª Semana do Tempo Comum.

“Quem não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim” Mt 10,38.

“Tomar a cruz ou carregá-la quer dizer: o verdadeiro discípulo de Jesus deve estar disposto a padecer qualquer tipo de sofrimentos, privações e humilhações, antes que romper a fidelidade ao Senhor. Os sinóticos repetem muitas vezes a mesma frase: ‘tomar a cruz’; é sinal de que da boca do Senhor saiu com frequência e calou fundamente no coração dos seus discípulos, pela ênfase com que a pronunciara o Mestre. Seguir Jesus com a cruz, ir atrás dele, outra coisa não é senão seguir e imitar seus exemplos, moldar nossa vida à dele, viver de seu espírito. Tudo isso exigirá as próprias renúncias de todo discípulo do Senhor. Só o amor explica a renúncia à família, à formação do próprio lar, inclusive à aceitação da cruz, até o martírio se for preciso” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

15º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Dt 30,10-14; Sl 68[69]; Cl 1,15-20; Lc 10,25-37)*

- Uma senhora, que levava uma criança pela mão, veio a cair desmaiada na estação do metrô. Foi levada a uma enfermaria. No meio da confusão, a criança quase foi esquecida. Uma jovem a pegou no colo enquanto a mãe era medicada. E ali ficou até que retomasse os sentidos. Nesse ínterim, procurou acalmar e distrair a criança. Devolveu-a a mãe. Ao se despedir perguntou-lhe se queria que telefonasse para algum parente ou amigo para vir buscá-la. A senhora, então, lhe respondeu: - ‘Eu não tenho ninguém!’.

- Não ter ninguém é o mesmo que não ter alguém pela gente. Sem nenhuma pessoa que se interesse pela gente, não ser importante para o outro.

1. No nosso Evangelho, logo percebemos que a preocupação do mestre da Lei está no fazer. Jesus faz que entenda que o principal é o ser, o resto é consequência. Na palavra de Nosso Senhor, o amor a Deus não está longe do amor ao próximo, mas em íntima conexão, tanto assim que se fundem.

2. O amor ao próximo deve deitar raízes no amor a Deus, do contrário corre o perigo de esgotar-se. Perguntava-se à madre Teresa de Calcutá por que ela e suas irmãs se impunham tantas horas de oração, após um dia inteiro dedicado aos pobres e doentes.

3. Ela respondeu que justamente da familiaridade com Deus buscava força para servir os marginalizados, superar o cansaço e a repugnância, como também a ingratidão.

4. Separada do amor de Deus, a filantropia se irrita e desanima ao verificar que nem sempre o serviço ao próximo é gratificante. A filantropia acaba perdendo de vista a verdadeira dignidade do ser humano, as motivações profundas da sua dedicação.

5. Cristo não toma partido nas longas discussões sobre o raio de atingimento do termo ‘próximo’. Não se perde em determinar se se reduz aos familiares de casa ou se estende até o pagão convertido ao judaísmo, passando pela graduação dos amigos, vizinhos e compatriotas. A interrogação gira sobre a indicação do ‘próximo’.

6. Jesus apresenta uma contra pergunta, a qual inverte os termos da conversa, apontando não mais quem deve ser o objeto do amor, mas quem é o seu sujeito. Não se trata de saber quem é o meu próximo, mas de quem eu sou próximo? De todo aquele se aproxima de mim ou de quem eu me aproximo.  A parábola do samaritano é a concretização do amor ao próximo: doação.

7. O amor é bem característico. Não se confunde com o gostar, o qual implica um tipo de sentimento que se volta sobre si. Não é pura simpatia: esta seleciona os amigos em função de si. É mais do que solidariedade, porquanto esta é abstrata e não compromete.

8. Mais imperiosa do que a afinidade racial, nacional e religiosa, é a necessidade da ajuda. Sou o próximo para o outro quando me coloco no seu lugar, fazendo-lhe o que faria por mim ou para um ente querido nessas circunstâncias. 

9. São 27 Km que separam Jerusalém de Jericó. É uma estrada que avança por regiões escarpadas e desertas. Sua situação se presta para covis de assaltantes. Foi chamada de passagem sangrenta. Provavelmente o sacerdote e o levita se perguntaram: ‘Se eu parar, o que será de mim?’ O samaritano se fez uma pergunta diferente: ‘Se eu não parar, o que será do homem ferido?’.

10. Para prestar auxílio, corre-se o risco de renúncias pessoais: gasto de tempo, abalo de posição, mal-entendidos, sacrifício de comodidade, etc. Mas o essencial no preceito do amor é sair de si mesmo.

11. O samaritano fez a caridade por inteiro, não deixando nada para trás. Desde sua aproximação do ferido até a providência para gastos ulteriores, sua dedicação foi total. Nada teve de façanha heroica, apenas fez o necessário para salvar uma vida.

12. A atenção, eis o que se revela como condição de um amor concreto: estar atento para perceber o que é útil para aquela pessoa, naquele preciso momento de sua indigência. O samaritano não se restringiu ao indispensável, foi mais longe.  A caridade é o que se acrescenta à justiça.

13. Cristo é o Bom Samaritano. Se doou a todos, socorrendo principalmente os mais necessitados. Sua doação foi arriscada: pôs-se ao lado dos mais fracos. Não deixou nada para preencher em sua doação: deu-se até a morte na cruz. Quando alguém recorre a nós, nesse momento somos Cristo para ele. O que estende a mão para nós, representa Cristo.

(reflexão retirada do livro “À escuta de Deus” – Frei Paulo Gollarte - Vozes)   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de julho de 2025

(Gn 49,29-32; 50,15-26; Sl 104[105]; Mt 10,24-33) 14ª Semana do Tempo Comum.

“O discípulo não está acima do mestre nem o servo acima do seu senhor” Mt 10,24.

“Na perspectiva de Jesus, o ideal do discípulo é ser como o mestre. Em outras palavras, é no mestre que o discípulo deve se espelhar. Se consideramos as instruções recebidas pelos discípulos, constatamos que Jesus propõe-lhe como projeto de vida, os mesmos princípios que pautaram a sua ação missionária. Como ele, os discípulos teriam a missão de ir pelo mundo anunciar o Evangelho, e realizar os sinais indicativos da presença do Reino. Deveriam abrir mão de qualquer recompensa e viver a gratuidade e a pobreza. Deveriam estar preparados para a rejeição, a perseguição, o martírio. Contudo, não deveriam se preocupar, pois estariam sob a proteção do Espírito do Pai. Este lhes inspiraria a respeito do testemunho a ser dado. Por sua vez, o Pai irá preparar-lhes uma recompensa condigna, por terem vivido o discipulado com fidelidade. Tudo isto já tinha sido experienciado por Jesus, desde o início de seu ministério. Portanto, sua proposta aos discípulos é um projeto existencial, não uma imposição. Ele a pôs em prática, antes de transformá-la em pauta de ação para os seus seguidores. No exercício de sua missão, os discípulos encontram em Jesus um modelo consumado de vivência missionária. Só quem estiver disposto a partilhar a mesma sorte do Mestre, estará em condições de se tornar seu seguidor. – Espírito de conformidade com Jesus, disponha-me a partilhar a missão do Mestre, fazendo-me como ele, fiel até o fim, o projeto do Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de julho de 2025

(Gn 46,1-7.28-30; Sl 36[37]; Mt 10,16-23) 14ª Semana do Tempo Comum.

“Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes

e simples como as pombas” Mt 10,16.

“Devendo viver rodeados de tantos perigos e de tão encarniçados inimigos, deveremos manter-nos sempre com prudência e simplicidade, deveremos ser sempre circunspectos, a fim de evitar que, de um modo ou de outro, possam interpretar nosso viver como um antitestemunho de nossa fé, de nossa fé; mas ao mesmo tempo viver com simplicidade e humildade, querendo bem a todos, tratando-os com respeito e compreensão amistosa. O sentido do termo aramaico, empregado por São Mateus, e traduzido por ‘simples’, indica preferivelmente ‘ser perfeitos’. A perfeição consiste na simplicidade, na singeleza e ausência de complicações. Ao verdadeiro apóstolo de Jesus nada deve ser complicado; para ele, o mais simples e perfeito a que deve tender é viver no amor de Deus. Porém não devemos confundir a simplicidade com a ingenuidade, nem o apostolado com o ímpeto descontrolado, nem a prudência com o cálculo egoísta. Certo medo e timidez, certa preguiça para o apostolado, certo egoísmo em nossa vida comunitária, costumamos cobri-los com as aparências de prudência e moderação” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 10 de julho de 2025

(Gn 44,18-21.23-29; 45,1-5; Sl 104[105]; Mt 10,7-15) 14ª Semana do Tempo Comum.

“Entretanto, não vos aflijais nem vos atormenteis por me terdes vendido a este país. Porque foi para a vossa salvação que Deus me mandou adiante de vós para o Egito” Mt 10,5.

“A história de José chegou ao momento crucial. Irreconhecível para os irmãos, coloca-os à prova para verificar se os seus corações tinham mudado em relação ao pai, a quem tinham causado desgosto com a pretensa morte do filho amado, e para compreender qual a sua atitude para com Benjamim, filho, tal como José, de Raquel. A comoção de José é de tal modo que ele não consegue manter a dissimulação e revela-se aos irmãos, tranquilizando-os com uma frase que é a razão de ser de toda a narração. [Compreender a Palavra:] Mais do que analisar os pormenores da longa narração, que o autor conduz com grande perícia, é importante compreender o sentido do conjunto, expresso na afirmação final: ‘Foi para salvar as vossas vidas que Deus me enviou aqui’ (45,9). Não há ressentimento nem rancor em José, nem autocompaixão pelo seu muito sofrimento: ele sabe ler, na sua vida tecida de tanta dor, um desígnio divino que ultrapassa a visão humana e que do sofrimento de um sabe extrair, com infinita misericórdia, por caminhos misteriosos, o bem de muitos. A história de José torna-se assim emblemática do próprio Povo de Deus repelido, maltratado, exilado, mas também da sorte do justo perseguido até à morte, servo por amor. Assim José, o preferido do pai, o atraiçoado dos irmãos e mais tarde seu salvador, torna-se ‘tipo’, isto é, figura de Cristo, o único inocente, o Filho amado, atraiçoado até à morte pelos irmãos, e seu salvador. O desenvolvimento desta tipologia pode levar muito longe” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum I] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 09 de julho de 2025

(Gn 41,55-57; 42,5-7.17-24; Sl 32[33]; Mt 10,1-7) 14ª Semana do Tempo Comum.

“Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” Mt 10,6.

“Jesus organiza o apostolado; reúne em torno de si um número de pessoas, às quais forma para a missão, às quais dota de todos os poderes e qualidades, que essa missão há de exigir. Jesus envia os apóstolos para destruir o mal no mundo; é, pois, lógico que os dotasse de poderes contra o mal, afirmado no evangelho com a expressão ‘espíritos imundos’. A vontade salvífica de Deus ultrapassa naturalmente o horizonte da Palestina, embora a missão apostólica da vida terrestre de Jesus se tenha realizado dentro dos limites palestinenses. Talvez a vontade de Deus seja que eu limite meu apostolado a determinado setor; talvez me envie como apóstolo volante a evangelizar campos virgens; talvez meu campo de ação veja-se reduzido ao lar, à comunidade, à minha paróquia; talvez tenha-me concedido o carisma de Paulo, enviado aos pagãos, aos que não têm fé. ‘A palavra de Deus não se deixa acorrentar’ (2Timóteo 2,9) a nenhum lugar, a nenhuma pessoa, a nenhuma circunstância, nem a nenhum condicionamento: ‘Prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir’ (2Timóteo 4,2). Não poucas vezes a prudência humana opõe-se à prudência do espírito de Deus. Não poucas vezes o medo ou a timidez disfarçam-se de prudência humana. Dessa prudência humana que acorrenta a palavra de Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 8 de julho de 2025

(Gn 32,23-33; Sl 16[17]; Mt 9,32-38) 14ª Semana do Tempo Comum.

“Quando o demônio foi expulso, o mundo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e diziam:

‘Nunca se viu coisa igual em Israel’” Mt 9,33.

“A ação taumatúrgica de Jesus deixava as multidões estupefatas. Na opinião delas, jamais havia acontecido algo semelhante em Israel. Esta sensibilidade diante dos milagres de Jesus predispunha as pessoas a acolhê-lo na fé, e a aceitar tornar-se discípulo dele. Onde se situava a admirabilidade dos milagres de Jesus? Quais eram suas peculiaridades? Ele agia com um poder vindo diretamente de Deus. Não pretendia chamara a atenção sobre si mesmo. Curava os doentes e expulsava os demônios por força de sua palavra cheia de autoridade, sem recorrer a gestos ou palavras mágicas. Seus milagres não eram feitos para agradar ou captar a benevolência de ninguém. Tudo se passava no âmbito de uma fé profunda. Evitava qualquer tipo de exibicionismo de poder, que transformaria seus milagres em verdadeiros shows. Os milagres de Jesus correspondiam às esperanças messiânicas, que atribuíam ao Messias o poder de realizar prodígios reveladores de sua identidade. Por fim, correspondiam, também, aos anseios humanos de vida, saúde e libertação. Mesmo assim, os milagres não chegavam a convencer a quem estivesse fechado para Jesus. É por isso que os fariseus não hesitavam em atribuí-los a um poder recebido do príncipe dos demônios. – Espírito de admiração, ao contemplar os milagres de Jesus, tenha eu sensibilidade para descobrir neles o poder divino atuando em favor da humanidade carente de vida” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

Segunda, 07 de julho de 2025

(Gn 28,10-22; Sl 90[91]; Mt 9,18-26) 14ª Semana do Tempo Comum.

“Enquanto Jesus estava falando, um chefe aproximou-se, inclinou-se profundamente diante dele e disse: ‘Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela, e ela viverá’” Mt 9,18.

“A série de milagres volta com um novo grupo de quatro episódios que narram o regresso à vida (cf. Mt 9,18-34). O primeiro, na simples narração de Mateus, tem por objeto a restituição da vida física à filha de um chefe, representante do judaísmo oficial; e a restituição à vida social de uma mulher legalmente impura e, portanto, excluída da esfera religiosa do seu povo, com consequências equivalentes a uma morte civil. [Compreender a Palavra:] O interesse principal do duplo milagre é o de evidenciar a importância da fé em Jesus, que restitui a saúde aos corpos e ressuscita os mortos. Mateus não atribui um nome ao homem que, já certo da morte da filha, recorre igualmente ao Mestre, demonstrando fé no Seu poder capaz de salvar. O evangelista não cita sequer as multidões que se atropelam junto de Jesus, e que na narração de Marcos representam o cenário tumultuoso em que a hemorrágica temerosa exprime uma fé segura no Senhor (cf. Mc 5,24.31). Jesus aparece somente com os discípulos e com mulher que crê – só isto importa – e concede a salvação (o verbo ‘sózo’, salvar, aparece três vezes nos vv. 21-22). Assim também, com extrema simplicidade, Mateus narra a ressurreição da menina como se tratasse de um caso entre Jesus e rapariguinha, sem citar os pais dela nem os três discípulos que, segunda a narração de Marcos, ele quis que O acompanhassem (cf. Mc 5,37): também aqui, o verbo utilizado (eghérthe) ‘levantou-se’ é o mesmo da ressurreição do Filho do homem” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum I] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

14º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Is 66,10-14; Sl 65[66]; Gl 6,14-18; Lc 10,1-12.17-20)

1. O envio em missão dos 72 discípulos, que é exclusivo de Lucas, para ser entendido em todo seu alcance exige sublinhar brevemente alguns elementos do texto.

2. O número dos enviados oferece uma indicação significativa. Segundo a antiga tradição judaica, este era o número dos povos dispersos pela face da terra. Sendo assim, a mensagem de Cristo não exclui ninguém. Todos os povos são chamados a fazer parte do Reino.

3. Devem ir “dois a dois”. Segundo o costume hebraico, para que haja uma testemunha válida segundo a Lei. Além de ajudar-se mutuamente. Na prática, a comunidade cristã, não o indivíduo, é que deve ser missionária.

4. “Como Cordeiros para o meio de lobos”. Não é uma perspectiva alegre. A fragilidade, a mansidão, representam componentes essenciais ao estilo que deve caracterizar a missão cristã. É proibido iludir-se. Não se trata de triunfo, mas de uma perspectiva de dificuldades. Não faltará a ajuda do Pastor.

5. “Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias...”. São expressões que não devem ser tomadas ao pé da letra, mas que indicam, sem possibilidades de equívocos, que esta deve ser vivida sob o sinal da liberdade. Os discípulos não devem buscar outro apoio que não próprio Cristo.

6. O discípulo é forte unicamente na fragilidade da Palavra de Deus. O Evangelho não precisa de meios adequados e muito chamativos. O que precisa aparecer é a força que está no Evangelho, não nos meios. Não confundamos eficácia com eficiência. Incidência evangélica e possibilidades humanas caminham em direções contrárias.

7. “... não cumprimenteis ninguém pelo caminho”. O discípulo é alguém que tem pressa de levar a boa nova; é nessa perspectiva que devemos compreender a recomendação de Jesus. É a urgência da missão. Tenhamos em conta os usos impostos pelo cerimonial oriental para uma saudação, curvar-se, ajoelhar-se, prostrar-se. Muito salamaleque. A importância da notícia vale mais que galanteio.

8. “Quando entrardes numa cidade e não forem bem recebidos...”. Jesus assinala tarefas, mas não garante o sucesso. A atividade missionária encontra necessariamente várias dificuldades e oposições. Não há porque admirar-se, nem desanimar. O anúncio do Reino é compatível com certo sofrimento e tempos longos. Não com a facilidade e a impaciência.

9. “A paz esteja nesta casa”. O mensageiro do evangelho deve ser portador de paz. Cristo traz a plenitude, a alegria, não o luto, desventura ou castigo. O seu representante não pode ostentar outra coisa. Não devemos cansar de anunciar a paz. A palavra proclamada é já palavra eficaz. É acontecimento.

10. O envio em missão não diz respeito a uma categoria de pessoas, quase um grupo especial de expedição. Faz parte da vida de todos os batizados. Essa página do Evangelho diz respeito a todos nós. Ser cristão não significa acolher uma alegre notícia tão somente para si. Significa assumir a responsabilidade de levá-la a outros.

11. Cristão não é um que simplesmente sabe. É um que faz saber, comunica, transmite. Antes de partir, Jesus envia seus discípulos a anunciar o evangelho ao mundo, a todas as criaturas. É preciso caminhar. Não se trata de conquistar. Simplesmente caminhar. O cristão é um que se caracteriza pelo gosto da estrada. Seguir adiante, avançar...

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 05 de julho de 2025

(Gn 27,1-5.15-29; Sl 134[135]; Mt 9,14-17) 13ª Semana do Tempo Comum.

“Disse-lhes Jesus: ‘Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles?

Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão’” Mt 9,15.

“Jesus não admitia intromissões na sua maneira de formar os discípulos. Por isso, muitas vezes foi obrigado a enfrentar os fariseus e outros grupos que queriam comparar-se com os discípulos de Jesus, apresentando-se como modelo. A questão da prática do jejum era um dos muitos pontos de conflito. Porque jejuavam, essas pessoas não podiam admitir que os discípulos de Jesus não fizessem o mesmo. Em última análise, não podiam aceitar que o Mestre os orientasse para um evidente desrespeito à prática já consagrada. A resposta de Jesus deixa entrever que os seus adversários viviam num tempo de tristeza e de incerteza, preparando-se ainda para a chegada do Messias. Os discípulos estavam dispensados disso. Afinal, tinham junto de si o Messias esperado. Não era necessário que se entregassem a jejuns prolongados, pois viviam num tempo de alegria. Consequentemente, para eles não tinha valor o ultrapassado esquema farisaico. O jejum cristão é outra coisa. Seu contexto é a espera da volta de Jesus. Num clima de preparação para acolhê-lo, é que os cristãos jejuarão. Só quem passou por uma radical renovação interior será capaz de compreender este ensinamento do Mestre. – Espírito que renova interiormente, torna-me apto para assimilar o ensinamento de Jesus, sem querer enquadrá-lo em esquemas humanos convenientes” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 04 de julho de 2025

(Gn 23,1-4.19; 24,1-8.62-67; Sl 105[106]; Mt 9,9-13) 13ª Semana do Tempo Comum.

“Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’. De fato,

eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” Mt 9,13.

“Deus prefere a misericórdia ao sacrifício; este texto é tomado do profeta Oséias: ‘Porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos’ (Oséias 6,6). O texto de Oséias vem a ser uma repreensão tácita do espírito farisaico, que colocava a santidade nas aparências e nos ritos externos, descuidando da caridade interior, que deve animar toda a vida do justo. O sacrifício é o ato externo de maior valor cultual; no entanto, mais agradável a Deus é o que se lhe dedica autenticamente pela prática de seus preceitos, e não pelo rito externo, a simples observância mecânica de alguns sacrifícios, regras ou costumes, se não forem verdadeira expressão da plena dedicação de nossa vida inteira a Deus. E isto é o que o Senhor quer, ao falar da misericórdia e dos sacrifícios; assim, curar os enfermos era a misericórdia dedicada à caridade; por isso, diz o Senhor que prefere a misericórdia. A misericórdia para com o próximo, isto é, o amor, a caridade, a compreensão para com cada um, sem as quais os próprios sacrifícios oferecidos a Deus, como expressão do culto devido a ele, não serão aceitos perante sua divina presença” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 03 de julho de 2025

(Ef 2,19-22; Sl 116[117]; Jo 20,24-29) São Tomé, apóstolo.

“Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio” Jo 20,24.

“Conhecidíssima e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, realizada oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, não acreditou que Jesus tivesse aparecido em sua ausência e disse: “Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão na ferida dele, eu não acreditarei” (jo,25). Do fundo destas palavras emerge a convicção de que Jesus agora são, antes de tudo, suas feridas, nas quais se revela até que ponto ele nos amou. Nisso o apóstolo não se equivoca. Como sabemos, oito dias depois Jesus volta a aparecer entre os seus discípulos, e desta vez, Tomé está presente. E Jesus o interpela: “Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque a minha ferida. Não seja incrédulo, mas tenha fé” (Jo 20,27). Santo Agostinho comenta a este propósito: Tomé ‘via e tocava ao homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via e nem tocava. Mas aquilo que via e tocava o induzia a crer naquilo de que até aquele momento duvidava” (In Iohann, 121,5). O evangelista continua com uma última palavra de Jesus a Tomé: ‘Você acreditou porque viu? Felizes os que acreditaram sem ser visto!’ (Jo,29). Esta frase também pode ser transportada para o presente. Aqui Jesus enuncia um princípio fundamental para os cristãos que viram depois de Tomé, quer dizer, para todos nós. É interessante observar como outro Tomás, o grande teólogo medieval de Aquino, compara esta forma de felicidade com aquela aparentemente oposta que transmite Lucas: ‘Felizes os olhos que veem o que vocês veem’ (Lc 10,23). Mas o de Aquino comenta: ‘Merece muito mais quem crê sem ver do que quem crê vendo’ (In Iohann, XX lectio VI,2566). De fato, a Carta aos Judeus, quando refere toda a série de antigos patriarcas bíblicos, que acreditaram em Deus sem ver a realização de suas promessas, define a fé como uma ‘forma de possuir o que se espera, um meio de conhecer as coisas que não se veem’ (Hb 11,1). O caso do apóstolo Tomé é importante para nós ao menos por três motivos: primeiro, porque nos consola de nossa insegurança; segundo, porque nos demonstra que toda dúvida pode desembocar numa saída luminosa livre de qualquer incerteza; e, por último, porque as palavras que lhe dirige Jesus nos lembram o verdadeiro sentido da fé madura e nos anima a continuar, apesar das dificuldades, em nosso caminho de adesão a Ele” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 02 de julho de 2025

(Gn 21,5.8-20; Sl 33[34]; Mt 8,28-34) 13ª Semana do Tempo Comum.

“E disse a Abraão: ‘Manda embora essa escrava e seu filho, pois o filho de uma escrava

não pode ser herdeiro com o meu filho Isaac” Gn 21,10.

“Do texto de hoje sobressai um confronto entre duas mulheres e dois filhos, entre a mulher livre e a escrava, entre o filho carnal e o filho da promessa. O episódio, descrito como um banal conflito familiar, esclarece o fato de que cada pessoa tem uma parte insubstituível na História e que o Senhor cuida de cada um, mas também que escolhe livremente quem deve desempenhar um papel específico na História da Salvação, e que essa escolha passa por vezes através dos caprichos dos homens. [Compreender a Palavra:] O autor sagrado, enquanto narra a expulsão da escrava Agar em benefício do filho de Sara (Isaac), preocupa-se em sublinhar que Abraão, perturbado com o repúdio do filho Ismael que Sara lhe pediu, se decidiu a efetuar esse gesto só depois de ter compreendido que a vontade de Deus passava através dessa dolorosa circunstância. Dos dois filhos, de fato, nascerão dois povos distintos, com duas grandezas diferentes e com duas histórias distintas, e só por Isaac passará a linha da História da Salvação. ‘Concede a Sara tudo o que ela e pedir’ (v. 12): a palavra de Sara é considerada profética, embora movida por considerações humanas, porque de certo modo lê os sinais e movimenta a História segundo a vontade de Deus. Na base desse episódio, Sara está incluída pela tradição hebraica nas sete profetisas bíblicas, juntamente com Míriam, Débora, Hulda (as únicas três que recebem o nome de ‘profetisa’ pela Escritura), Ana, Abigail, Ester. Mas também a Agar, a egípcia, a Palavra de Deus ‘abriu-lhes os olhos’ (v. 19) e orienta-a para que continue a viver” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum I] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite