(At 5,27b-32.40b-41; Sl 29[30]; Ap 5,11-14; Jo 21,1-19) *
1.
Uma parte considerável do evangelho se desenvolve junto ao mar (lago), num
ambiente de pescadores: o chamado dos primeiros discípulos, a tempestade
acalmada, a pesca milagrosa, Jesus que caminha sobre as águas.
2.
Os pescadores da Galileia eram associados em pequenas cooperativas e tinham uma
vida bastante difícil, pois deviam repassar quase todo o ganho aos publicanos,
que financiavam suas atividades. É nesse quadro que temos essa pequena
cooperativa formada pelos filhos de Jonas: Simão e André e pelos filhos de
Zebedeu: Tiago e João. Seus filhos serão os primeiros quatro apóstolos.
3.
São e eles e mais alguns que reencontramos no Evangelho deste domingo. Trata-se
de dois episódios que se ligam, mas ao mesmo tempo são distintos: a pesca
milagrosa e o diálogo entre Jesus e Pedro, mandando que este apascente as suas
ovelhas.
4.
Estamos nesse período de 40 dias que se desenvolvem após a ressurreição. Os
apóstolos precisam sobreviver e voltar a pescar é o que lhes resta. Eis que ao
amanhecer, sem nada pescar, e alguém lhes sugere, da margem, lançar a rede
novamente, do outro lado e assim são surpreendidos com uma pesca abundante.
5.
É uma cena que se liga facilmente à nossa existência. Também nós buscamos a
solução dos nossos problemas numa determinada direção: lutamos, trabalhamos
bastante, por vezes sem nem escutar algum conselho. É também a nós que se
dirige a palavra de Jesus: busca em outra parte ou de outro modo. Com mais
calma e mais confiança em mim. Busca com a fé e a oração.
6.
Segundo alguns, o número de peixes pescado tem um valor simbólico. Alguns
apontam para o número das espécies de peixes que se acreditava ter ali, outras
para o número das nações conhecidas, numa referência ao mar do mundo onde os
apóstolos lançariam suas redes sobre pessoas de todas as raças, povos e nações.
7.
A condição de ressuscitado de Jesus, diferentemente de Lázaro que retorna o
mesmo, não permite o reconhecimento imediato. Para reconhecê-lo é preciso um
outro olhar, aquele da fé, que às vezes se abre lentamente.
8.
Ali, onde algo já estava preparado e onde se soma o que se traz, há uma
referência a Eucaristia. Fazemos uma passagem para o diálogo com Pedro, que
aqui tem um peso maior. A insistência na pergunta de Jesus dá a Pedro, de modo
gradual, a possibilidade de cancelar sua negação durante a paixão.
9.
Ao mesmo tempo, o pedido/mandato de Jesus, segundo a interpretação católica,
confere a Pedro e aos seus sucessores o papel e supremo e universal pastor do
rebanho de Cristo. O que antes tinha sido uma promessa, agora se efetiva.
10.
Mesmo Pedro tendo sido infiel, Jesus permanece fiel à promessa feita. Deus dá
sempre ao ser humano outra possibilidade, outra chance. O perdão de Deus
restaura e cria o novo em nós. Assim foi Pedro nos momentos difíceis dos
primeiros passos do cristianismo, até dá a própria vida.
11.
Pedro entendeu que o seu apascentar seria caracterizado pela dinâmica do amor,
do cuidado e do serviço e não do domínio. É o amor a Cristo que caracterizará o
seu modo de servir. Não será Pedro quem recebe os frutos desse amor, mas as
ovelhas.
12.
Santo Agostinho lembra que essa mesma pergunta se volta a cada um de nós: ‘Tu
me amas?’ O cristianismo não é um conjunto de doutrinas e práticas; é algo de
mais íntimo e profundo. É uma relação de amizade com a pessoa de Jesus Cristo.
13.
Assim amam os pais a Jesus no cuidado com os filhos, que são também de Deus.
Não só cuidando da saúde física, mas também da sua sanidade moral. Assim amará
quem presta serviços: sendo justo e respeitoso para com quem os busca. Amamos
em nossa capacidade de perdoar. Em observarmos os seus mandamentos. Como
estamos respondendo a essa indagação de Jesus?
* Com base em texto de Raniero
Cantalamessa.
Pe.
João Bosco Vieira Leite