(At 14,21b-27; Sl 144[145]; Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35)*
1.
A palavra ‘novo’, ‘nova’, domina a 2ª leitura e o nosso Evangelho. Na
realidade, o ‘novo’ mandamento dado por Jesus é um mandamento antigo. Antigo
segundo a letra, porque já foi dado tempos atrás; mas novo segundo o Espírito,
porque só com Jesus nos é dada a força para colocá-lo em prática. Era preciso,
para isto, a graça.
2.
Não é quando Jesus o formula em vida que este mandamento se torna novo, mas
quando morrendo na cruz e dando-nos o Espírito Santo, nos torna, de fato, capazes
de amar-nos uns aos outros, infundindo em nós o amor que Ele mesmo tem por cada
um de nós.
3.
O mandamento de Jesus é um mandamento novo num sentido ativo e dinâmico: porque
‘renova’, faz novo, transforma tudo. Se o amor falasse, poderia fazer sua as
palavras que Deus pronuncia na 2ª leitura: “Eis que faço novas todas as
coisas”.
4.
Um pouco desse novo céu e dessa nova terra se instaura onde se vive um ato de
amor, mesmo que discreto e pequeno. Não devemos esperar que acabe esse mundo
para que venha esses novos céus e nova terra. Esses vêm a cada dia. Depende
também de nós fazê-los vir.
5.
E não é necessário que este amor seja sempre explicitamente inspirado da fé em
Cristo. Quando é genuíno e desinteressado, não precisa ser feito por amor a
Ele. Ele declara que tudo o que vem feito a um desses pequeninos, é a Ele mesmo
que é feito. Isso não quer dizer que seja indiferente e sem consequências o
fato de referir-se a Cristo, de contar com seu exemplo e sua graça.
6.
Não é fácil para nós amar o próximo, amar a longo prazo, amar
desinteressadamente, sem um motivo superior. É algo absolutamente acima de
nossas forças. Teresa de Calcutá dizia que sem o contato cotidiano com Jesus na
Eucaristia, não teria a força de fazer a cada dia o que fazia.
7.
O mandamento do amor tem como modelo o próprio Jesus. Esse amor de Jesus,
segundo as Escrituras, tem três características: Ele nos amou primeiro (1Jo
4,10); nos amou ‘enquanto ainda éramos inimigos’ (Rm 5,10); e nos amou até o
fim (Jo 13,1).
8.
A respeito desse amar por primeiro, lembremos essas situações cotidianas do
tipo: “Não o saúdo porque ele não me saúda”, e se o outro estiver pensando a
mesma coisa? Se não se rompe o gelo, o gelo vai consolidando-se. Jesus nos
provoca a dar o 1º passo.
9.
Nas relações familiares esse 1º passo é imprescindível. Muitas dificuldades e
crises matrimoniais nascem do fato que cada um espera que seja o outro a
fazê-lo. Seria necessário convencer-nos que humilhante não é prevenir o outro,
mas deixar-se prevenir pelo outro; não chegar em primeiro, mas em segundo.
10.
Amar o inimigo é a dificuldade das dificuldades! Eis aqui a novidade no
mandamento de Jesus. Não porque se trata de um grau avançado em termos de
religião, mas porque com Seu exemplo e com a Sua graça, nos é dada a
possibilidade de amar, mesmo os nossos inimigos.
11.
Não consegues amar o teu inimigo ou quem lhe fez algum mal? Não se assuste,
ninguém consegue. O que deves fazer é pedir a Jesus para lhe dar o ‘seu’ amor
pelos inimigos, que Ele o ajude a realizá-lo, já que é isto que pede a você.
12.
Esse amor até o fim diz respeito a intensidade, a um amor capaz de dar a
própria vida; amar até o último suspiro, que nesse caso se aplica a Jesus.
Todos somos capazes de alguns impulsos generosos, mas quando se trata de
perseverar no amor e de sermos constantes, as coisas mudam.
13.
Esse tipo de amor que tem a coragem de recomeçar cada dia de novo, com um
sorriso nos lábios, mesmo em meio as dificuldades, está presente naqueles que
trabalham por vocação. Mas também entre os genitores que tem um filho com
alguma deficiência ou mesmo doente em casa, podemos encontrar exemplos
luminosos.
14.
Amar até o fim, sem esperar nada: nos vem a tentação de dizer que tudo isto
está fora da realidade e que é injusto para consigo mesmo. Procurar só o bem do
outro é possível? É justo? Quando pensamos assim esquecemos que na realidade,
entre os dois, aquele que a ama e aquele que é amado – quem mais ganha é aquele
que ama.
15.
O amor enriquece, descortina novos horizontes impensáveis a quem o doa; ilumina
a vida e, aquilo que é mais importante, lhe faz assemelhar-se a Deus.
* com base em texto de
Raniero Cantalamessa.
Pe.
João Bosco Vieira Leite