(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42) Sexta Santa.
“Entretanto, o sumo sacerdote interrogou
Jesus a respeito de seu ensinamento” Jo 18,19.
“João
deu ao relato da paixão uma certa estrutura teatral. Depois da grandiosa
abertura, a prisão, vem o primeiro ato: o interrogatório de Anás, ‘sogro de
Caifás, que era o Sumo Sacerdote naquele ano’ (18,13). Mesmo depois de sua
destituição no ano 15, Anás continuava dominado o sinédrio. Vê-se, portanto,
que João é exato quanto aos dados históricos. Mas ele nos mostra, ao mesmo
tempo, a sua intenção teológica. Quatro cenas interligadas por João: Jesus é
levado a Anás; Pedro e um outro discípulo se aquecem no pátio do palácio do
Sumo Sacerdote; Anás interroga Jesus; Pedro renega Jesus. São dois os
ensinamentos teológicos a serem destacados nesse episódio: a menção de que
Caifás ‘sugerira aos judeus ser conveniente que um só homem morresse pelo povo’
(18,14). Com estas palavras, a morte de Jesus é interpretada como morte pelo
povo, como entrega por nós, para que tenhamos a vida e a tenhamos em
abundância. O outro ensinamento se revela nas palavras de Jesus: ‘Eu falei
abertamente ao mundo, eu sempre ensinei nas sinagogas e no Templo, onde todos
os judeus se reúnem, e nada disse em segredo’ (18,20). Jesus dá outra vez o seu
testemunho diante dos judeus. Mas uma grande parte deles não lhe dá atenção. Os
judeus representam o mundo que se fecha a Jesus, tanto naquele tempo quanto
hoje. A comunidade joanina era composta em grande parte de judeus cristãos. O
fato de os judeus exercerem um papel tão negativo na paixão de Cristo mostra
que o evangelho deve ser interpretado simbolicamente, que os judeus são a
imagem das pessoas que estão fechadas em seu próprio mundo e que temem a
desestabilização trazida por Jesus em vista da situação histórica descrita no
início. Os judeus que se opõem a Jesus servem de advertência ao leitor, para
que este não se junte a eles, e sim ao discípulo amado que fica ao lado de
Jesus e presta testemunho de seu amor” (Anselm
Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).
Pe.
João Bosco Vieira Leite