(Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67[68]; Hb 12,18-19.22-24; Lc 14,1.7-14)*
1. Um famoso escultor dinamarquês morou por certo tempo na Itália. A convite do seu rei, voltou para a pátria. Levou consigo algumas estátuas que haviam de projetar o seu nome. Os empregados abriram os caixotes em que elas se achavam. Espalharam pelo jardim as palhas que as envolviam, no verão seguinte, para surpresa de todos, apareceram umas flores típicas de Roma. Brotaram de umas sementes que viajaram agarradas à palha da embalagem. O público passou a visitar a exposição do escultor não só por causa das obras de arte, mas também para admirar flores tão raras em Copenhague.
2. Desde criança aprendemos a importância do primeiro lugar. Na escola, os premiados são os que conseguem o primeiro lugar. Quando se trata de arranjar um emprego, a preocupação é somar o maior número de pontos ou apresentar o currículo mais rico, a fim de ser o preferido.
3. Os certames esportivos atribuem medalhas de ouro ao primeiro lugar. Nas reuniões sociais, o lugar de maior importância cabe às pessoas de alto prestígio. Até mesmo quando se trata de ficar na fila de espera, todos anseiam por chegar em primeiro lugar.
4. Ao elogiar os últimos, Cristo não está consagrando a lei da mediocridade, do mínimo esforço. O critério de escolha para o Reino é diferente.
5. Quem é o ‘primeiro’ deve lembrar-se que é também um fraco, um pecador. Nada nos garante que o primeiro lugar tem segurança permanente. Quem está seguro diante da morte, do universo?
6. Todos temos nosso flanco mais débil, nosso calcanhar de Aquiles. Por isso, o pedestal de agora pode ser apenas uma corda bamba em que nos equilibramos. Logo o primeiro é também o último.
7. Ser humilde não consiste em desvalorizar-se, nem muito menos a tentativa artificial da falsa modéstia. A humildade é a verdade a respeito de nós mesmos: dimana do confronto não com os outros, mas do confronto com Deus.
8. Não se trata de humilhar-se, mas de reconhecer-se. Daí somos levados a descobrir Deus como o doador de todo bem. Dele derivam os nossos dotes. Nasce também a responsabilidade. Porque ser dotado é ser comissionado a repartir.
9. Esta é a forma de retribuição e de gratidão para com Deus. Os dons de Deus não são oferecidos como engodo ao nosso orgulho, mas para nos servir. Os últimos do Evangelho são os que se põem a disposição dos outros. No Reino de Deus não conta a quantidade, o número dos dons, mas a qualidade, aquilo que se é, os sentimentos idênticos aos de Cristo.
10. O que importa verdadeiramente não é ocupar o primeiro lugar. Isto comporta comparação com os outros. Ocupar o seu lugar é o que interessa. Ao desempenhar bem a missão que lhe cabe, qualquer um fará do seu lugar o primeiro.
11. Na realidade, colocando-se lá embaixo no último lugar, nos situamos no lugar certo, pois tudo que alguém tem de bom recebeu de Deus. Reconhece assim que o Senhor é dono de tudo. E aí o próprio Deus fará com que os dons distribuídos por ele sejam reconhecidos.
12. Deus, o primeiro de todos, ao fazer-se homem, tornou-se o último. Levou uma vida na obscuridade. Fugiu da tentação de ocupar o primeiro lugar aos olhos dos homens. Lavou os pés de seus apóstolos proclamando o valor do serviço do mais humilde. Foi aniquilado na cruz, reduzido a reles criminoso. Deus Pai, porém, o enalteceu entre todos, fez dele o primeiro ao ressuscitá-lo.
13. Este é o modelo do cristão. É este Cristo que comungamos debaixo das aparências insignificantes do pão e do vinho. Comprometemo-nos a viver como ele viveu, como o último, para que Deus mesmo nos eleve.
* Frei Paulo Gullarte
Pe. João Bosco Vieira Leite