Páginas

Quinta, 01 de maio de 2025

(At 5,27-33; Sl 33[34]; Jo 3,31-36) 2ª Semana da Páscoa.

“Aquele que acredita no Filho possui a vida eterna. Aquele, porém, que rejeita o Filho não verá a vida,

pois a ira de Deus permanece sobre ele” Jo 3,36.

“Em que consiste essa vida eterna de que João tanto fala? Por um lado, trata-se da vida que não pode ser destruída pela morte, que sobrevive à morte prosseguindo pela eternidade. Mas a vida eterna não é, em primeiro lugar, a vida depois da morte, ela já designa aqui uma nova qualidade de vida. Trata-se de uma vida que já é vivida agora sobre o fundamento que é Deus, uma vida na qual o tempo e a eternidade já se confundem no presente. Podemos experimentar essa vida eterna? Quando estou totalmente presente, quando estou totalmente uno em mim, sinto a qualidade da vida eterna. Nesse instante, o tempo e a eternidade se fundem. Passado e presente se compactam no instante. E nesse instante sou uno comigo e com Deus. Aí eu sinto que estou em Deus e que Deus está em mim. Aí eu toco o verdadeiro ser. Tudo isso é uma coisa só. O que João chama de vida eterna é semelhante àquilo que Abraham Maslow chama de ‘vivências de apogeu’. Numa vivência de apogeu, o ser humano ingressa ‘no absoluto, se funde com ele, mesmo que seja apenas por um breve instante’ (GRÜN, RIEDEL, 1993, p. 46). Nesse momento, tudo se torna claro para ele. Ele vê Deus em tudo. Ele experimenta com muita intensidade a si próprio e ao mundo. Ele toca na essência. Sente o que é a vida em sua profundeza: vitalidade, felicidade, alegria, amor, abertura, união. A sua consciência se alarga. Ele une em sua consciência Deus e homem, vida e morte, céu e terra, tempo e eternidade. Ken Wilber chama esse estado de ‘consciência pura’ ou ‘consciência da unidade de tudo’ (ibid., 38)” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de abril de 2025

(At 5,17-26; Sl 33[34]; Jo 3,16-21) 2ª Semana da Páscoa.

“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo que nele crer,

mas tenha a vida eterna” Jo 3,16.

“A conquista da vida eterna é também o objetivo da encarnação de Jesus: ‘Deus, com efeito, amou tanto o mundo que deu o seu Filho, o seu único, para que todo homem que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’ (3,16). Nesse versículo revele-se o motivo da encarnação e paixão de Jesus. O motivo é o amor de Deus para com o mundo. Deus não quis que os homens perecessem depois de se terem alienado dele vagando sem rumo. Tinham perdido seu centro, sua imagem original, sua pureza, sua capacidade de amar. No meio da vida estavam mortos. Porque Deus amava os homens apesar de sua perdição, ou justamente por causa dela, enviou o seu filho. Deus deu aos homens o seu filho único como presente. Ele não o ‘entregou’, mas o ‘deu’, como diz o texto grego. Mas nesse ato de amor incondicional de Deus está implícita também a possibilidade de que o dom seja rejeitado pelos homens. A fé é aceitação do dom de Deus. Quem crê, quem reconhece o que Deus deu aos homens em Jesus, tem vida eterna” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 29 de abril de 2025

(At 4,32-37; Sl 92[93]; Jo 3,7-15) 2ª Semana da Páscoa.

“Nicodemos perguntou: ‘Como é que isso pode acontecer?” Jo 3,9.

“Perguntado como deve ser imaginado esse processo de renascimento, Jesus responde com uma palavra enigmática remetendo ao mistério do ‘pneuma’ que em grego significa tanto espírito quanto vento: ‘O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes nem de onde vem, nem para onde se vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do espírito’ (3,8). O renascimento é tão incompreensível e misterioso quanto o vento. Não se pode agarrar e reter o vento. O mesmo se pode dizer do renascimento. Mas ele se manifesta assim mesmo em seus efeitos. Aquele que nasceu de Deus tem outro comportamento, ele irradia algo que é diferente. Ele está livre. Ele está vivo. A vida flui dentro dele” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de abril de 2025

(At 4,23-31; Sl 2; Jo 3,1-8) 2ª Semana da Páscoa.

“[Nicodemos] que foi ter com Jesus, de noite e lhe disse: ‘Rabi, sabemos que viestes como mestre da parte de Deus. De fato, ninguém pode realizar os sinais que tu fazes, a não ser que Deus esteja com ele’” Jo 3,2.

“A confissão de Nicodemos é sincera. Impressionado pelas obras que Jesus realiza, sente-se movido a recorrer a Jesus como ao Mestre que pode ensinar coisas até então não conhecidas; por isso recorre a ele e pede-lhe que ensine e lhe dá o título de Mestre. E Jesus, como verdadeiro Mestre, começa a ensinar-lhe que por nosso nascimento para a vida natural pertencemos a este mundo; porém, para pertencer ao outro mundo do Espírito, para sermos filhos de Deus e herdeiros de seu Reino, precisamos nascer de novo: para a vida sobrenatural, a vida da graça. O batismo é a entrada para essa vida. Por ele, sem deixar de ser homem nem ter de ter a vida natural, somos feitos filho de Deus e adquirirmos a vida sobrenatural, que Jesus Cristo mereceu por nós na cruz e nos comunica pelo Espírito Santo. Não basta, pois, viver a vida natural, intelectual ou racional, mas devemos viver a vida da graça, que é a vida de Deus em nós, e devemo-la viver de modo consciente e crescente, aumentando em nosso dia-a-dia o caudal dessa graça do Espírito” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

2º Domingo de Páscoa – Ano C

(At 5,12-16; Sl 117[118]; Ap 1,9-13.17-19; Jo 20,19-31)*

1. Ainda envoltos pela Ressureição do Senhor, encerrando essa oitava de Páscoa, contemplamos o dia da ressurreição sob o olhar e experiência dos Apóstolos que haviam se dispersados, mas agora se acham novamente juntos, perplexos e desorientados.

2. Mas o mesmo Ressuscitado faz-se presente diante da sua incrédula sede de certezas. Aquele encontro não foi um sonho, nem uma ilusão ou imaginação subjetiva; foi uma experiência verdadeira, apesar de inesperada e, precisamente por isto, particularmente comovedora: Jesus se coloca no meio deles e deseja a paz!

3. Diante daquelas palavras, a fé quase apagada nos seus corações reacende-se. Os apóstolos referiram a Tomé, ausente naquele primeiro encontro extraordinário, que o Senhor havia ressuscitado e estado com eles. Tomé, porém, permaneceu duvidoso e perplexo.

4. Quando, oito dias depois, Jesus veio pela segunda vez ao Cenáculo, Tomé ouve d’Ele uma censura por não ter acreditado em seus irmãos. Ao desafio imposto por Jesus, vem do apóstolo uma profissão de fé comovedora: ‘Meu Senhor e meu Deus!’.

5. A Igreja nos convida a renovar a profissão de fé de Tomé. Se neste apóstolo podemos entrever as dúvidas e as incertezas de tantos cristãos de hoje, os medos e as desilusões de numerosos contemporâneos, com ele podemos também redescobrir, com renovada convicção a fé em Cristo morto e ressuscitado por nós.

6. Cada um de nós pode ser tentado pela incredulidade de Tomé. A dor, o mal, as injustiças, a morte, especialmente quando afetam os inocentes – por exemplo, as crianças vítimas das guerras e do terrorismo, das doenças e da fome – por acaso não submetem nossa fé à dura prova?

7. No entanto, precisamente nestes casos, a incredulidade de Tomé nos é paradoxalmente útil e preciosa, porque nos ajuda a purificar a falsa concepção de Deus e nos leva a descobrir seu rosto autêntico: o rosto de um Deus que, em Cristo, carregou sobre si as chagas da humanidade ferida.

8. Tomé recebeu do Senhor e, por sua vez, transmitiu à Igreja o dom da fé experimentada pela Paixão e Morte de Jesus e confirmada pelo encontro com Ele ressuscitado. Uma fé que estava quase morta e renasceu graças ao contato com as chagas de Cristo, com as feridas que o ressuscitado não escondeu, mas mostrou e nos continua a indicar nas penas e nos sofrimentos de cada ser humano.

9. “Pelas suas chagas fostes curados” (1Pd 2,24), este é o anúncio que Pedro dirigiu aos primeiros cristãos convertidos. Aquelas chagas, que inicialmente foram para Tomé um obstáculo para a fé, porque eram sinais do aparente fracasso de Jesus; aquelas mesmas chagas tornaram-se, no encontro com o Ressuscitado, provas de um amor vitorioso.

10. Estas chagas que Cristo assumiu por nosso amor, nos ajudam a entender quem é Deus e a repetir também: “Meu Senhor e meu Deus”. Somente um Deus que nos ama a ponto de carregar sobre si nossas feridas e a nossa dor, sobretudo a dor inocente, é digno de fé.

11. Quantas feridas, quantas dores no mundo! Não faltam calamidades naturais e tragédias humanas que provocam numerosas vítimas e grandes danos materiais. Através das chagas de Cristo ressuscitado podemos ver com olhos de esperança estes males que afligem a humanidade.

12. O amor a Cristo nos desafia a enxergar as chagas que afligem a outros irmãos e irmãs nossos, unidos a Ele, nos convertemos em apóstolos de paz, mensageiros de uma alegria que não teme a dor, a alegria da Ressurreição. Que Maria, Mãe de Cristo ressuscitado nos obtenha este dom pascal.  

* Com base em mensagem “Urbi et Orbi” de Bento XVI.     

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de abril de 2025

(At 4,13-21; Sl 117[118]; Mc 16,9-15) Oitava de Páscoa.

“Ela foi anunciar isso aos seguidores de Jesus, que estavam de luto e chorando” Mc 16,10.

“O encontro de Jesus ressuscitado com Maria Madalena fez dela uma anunciadora da ressurreição. Foi esta a alegre notícia que ela comunicou aos discípulos, e, sem dúvida, a todos os que encontrou, depois, ao longo de sua existência. A partir desta experiência, sua vida deu uma guinada. Ela já não era mais a mesma. No entanto, o contato com os discípulos foi decepcionante. A Boa Nova que lhes trouxe, não pareceu suficiente para arrancá-los da tristeza e do pranto, e fazê-los abrir-se para fé. Pelo contrário, continuaram incrédulos! Talvez não tenham sido capazes de superar o preconceito contra as pessoas do sexo feminino, cujo testemunho, naquela época, não era aceito. Não se dava credibilidade às palavras de uma mulher. A reação dos discípulos não deve ter bloqueado o entusiasmo de Maria Madalena. Outras aparições do Ressuscitado confirmariam suas palavras: o Senhor está vivo, e sua presença se fazia real na vida de quem o encontrava. Da mesma forma, os discípulos, aos quais Jesus aparecera enquanto se dirigiam para o campo, tinham ido, às pressas, contar o fato aos demais. E também se debateram com a incredulidade dos companheiros. Independentemente da reação dos ouvintes, quem experimentou a presença do Ressuscitado é impelido a anunciar a todo mundo esta experiência transformadora. – Espírito de comunicação, apesar da incredulidade do mundo, que eu proclame, com vibração, a alegre notícia da ressurreição do Senhor” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de abril de 2025

(At 4,1-12; Sl 117[118]; Jo 21,1-14) Oitava de Páscoa.

“Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão” Jo 21,9.

“Depois da pescaria bem-sucedida, João descreve uma cena estranha e misteriosa: o desjejum junto às brasas. Ninguém ousou perguntar a Jesus quem era, pois ‘eles bem sabiam que era o Senhor’ (21,12). É a situação da eucaristia. Os cristãos sabem que o próprio Senhor está no meio deles. Não perguntam. Acreditam. E por ser o Senhor que está no meio deles, a manhã cinzenta se transforma num clima de intimidade e amor. No meio de uma terra estranha, surge a sensação de aconchego, no meio da frustração surge a satisfação. Como na eucaristia, Jesus se apróxima, toma o pão e dá aos seus discípulos. Só que nesse caso o pão não vem acompanhado de vinho, e sim de peixe. Para os antigos, o peixe é a comida da imortalidade, participamos da vida eterna, imperecível, indestrutível de Deus. Para João, a Ressurreição não acontece em forma de coisas mirabolantes. É nas coisas simples do dia-a-dia, na refeição em torno de um braseiro, que o véu é tirado, de modo que os discípulos podem entrar em contato com a realidade, unindo-se ao fundamento de todo ser, com o Deus de amor” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de abril de 2025

(At 3,11-26; Sl 8; Lc 24,35-48) Oitava de Páscoa.

“Vós sereis testemunhas de tudo isso” Lc 24,48.

“Jesus vive hoje presente no meio de nós; nossa única preocupação é ter o coração aberto à sua graça. Jesus quer confirmar os apóstolos, para que eles por sua vez confirmem os outros na fé e por isso envia-nos ao mundo como testemunhas da ressurreição. Os apóstolos são testemunhas da pregação de Cristo e de que nele cumpriram-se todas as profecias. Os apóstolos receberam, como testemunhas, a missão de pregar e manter a verdade que pregaram. Nós, cristãos, que exercemos algum apostolado na Igreja, temos de ser também testemunhas da verdade que pregamos e da santidade de nossa religião e temos de ser testemunhas com o testemunho de nossas obras e com o testemunho de nossa morte, se o Senhor no-la exigir como testemunho da verdade. A primeira realidade, da qual os apóstolos têm de ser testemunhas, é o fato histórico da ressurreição de Jesus, da sobrevivência de Jesus ao longo dos tempos e dos lugares; Jesus vive em cada um dos cristãos e por meio deles atua no mundo e o salva” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 23 de abril de 2025

(At 3,1-10; Sl 104[105]; Lc 24,13-55) Oitava de Páscoa.

“Pedro então lhe disse: ‘Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou:

em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda’” At 3,6.

“O primeiro ‘sinal’ realizado pelos Apóstolos em nome de Jesus transforma um coxo de nascença (v. 2) num homem novo, capaz não só de caminhar, mas também de louvar a Deus e de juntar, no Templo, à comunidade dos que se salvam (v. 8). Esta mudança dá-se mediante uma troca significativa de olhares (v. 3-5), uma palavra eficaz (v. 6) e um gesto que salva (v. 7). O sinal é destinado a todo o Povo de Deus, Israel, que é testemunha do prodígio (vv. 9-10). [Compreender a Palavra:] Um coxo colocado junto à porta ‘Formosa’ interpela Pedro e João enquanto se dirigem para o Templo. A impossibilidade de se movimentar torna-o dependente de outros e faz dele um mendigo necessitado de esmolas, um excluído do lugar santo onde se louva a Deus e onde se reúne a comunidade. A sua condição é, por isso, de exclusão. O encontro com os Apóstolos dá início a um percurso de transformação com significado salvífico. A troca de olhares entre o coxo e os Apóstolos é o começo de uma relação autenticamente humana, liberta o coxo da habitual e formal (embora necessária) aceitação da esmola dos transeuntes, aguardando o dom que os Apóstolos parecem estar dispostos a conceder-lhe. A palavra de Pedro, ao princípio, frustra a expectativa de bens materiais do deficiente, e depois declara que lhe pode dar um outro benefício. Este benefício cumpre-se numa ordem: ‘Levanta-te e anda!’, cuja eficácia radica no poder salvífico (no Nome) do Ressuscitado, e no gesto de o ‘levantar’ que lhe transmite esse poder. Torna o coxo capaz de ficar de pé, de caminhar sozinho, de ter um novo relacionamento com Deus no louvor e de se unir à comunidade dos crentes. O sinal da salvação fica assim concluído, e todo o povo é testemunha” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de abril de 2025

(At 2,36-41; Sl 32[33]; Jo 20,11-18) Oitava de Páscoa.

“Os anjos perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’ Ela respondeu:

‘Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram’” Jo 20,13.

“O pranto de Maria Madalena revela que seu relacionamento com Jesus era pouco consistente. A morte do Mestre significou para ela a perda de uma pessoa querida. Ele soube valorizá-la, ajudando-a a recompor sua existência esfacelada por experiências negativas. Isto bastou para ela nutrir por Jesus um amor cheio de gratidão. Uma sensação de vazio tomou conta do coração de Maria Madalena, quando veio a faltar-lhe este apoio humano. Diante do amigo morto, só lhe restava debulhar-se em lágrimas. Maria Madalena, contente com o que Jesus representava para ela, só deu um passo adiante na sua compreensão, quando defrontou-se com o Ressuscitado. A humanidade do amigo querido era apenas um aspecto de sua verdade. Ele era também o Filho enviado pelo Pai, cuja missão, na Terra, havia sido concluída. Agora, estava de volta para junto de quem o enviara. Ele era o Senhor. Discípulo algum tinha o poder de retê-lo para si, ou de apossar-se dele. O Mestre estaria junto dos seus discípulos, mas sem a limitação de tempo e espaço. Por conseguinte, Maria Madalena não tinha por que chorar. Ela teria sempre consigo o Senhor ressuscitado. A ressurreição devolveu-lhe, novamente a alegria. O Ressuscitado preencheu o vazio que a morte tinha deixado no coração dessa mulher. E o sentimento de perda foi superado por uma forma nova de presença do Mestre, mas interior e consistente. – Espírito de júbilo, que a alegria proveniente da ressurreição de Cristo me ajude a superar todo pranto causado pela frustração e pelo vazio da vida” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de abril de 2025

(At 2,14.22-32; Sl 15[16]; Mt 28,8-15) Oitava de Páscoa.

“As mulheres partiram depressa do sepulcro. Estavam com medo,

mas correram com grande alegria para dar a notícia aos discípulos” Mt 28,8.

“As piedosas mulheres saem do sepulcro cheias de temor pelos acontecimentos extraordinários que presenciaram e cheias de alegria, ao mesmo tempo, pela notícia que ouviram, e por isso iam correndo para dar a notícia aos apóstolos. Essa diligência e fidelidade mereceu-lhes que Jesus lhes aparecesse e as enchesse ainda de maior júbilo. É que Jesus nunca se deixa vencer em generosidade e, além do prêmio da outra vida, concede ainda na vida presente, frequentemente, consolo e alegrias espirituais. É uma característica da mensagem cristã: deve proclamar-se com incontida alegria, com exaltação e júbilo contagiante. Não faltam casos nos quais se vive e se apresenta o evangelho num ambiente de desânimo e tristeza. A ressurreição do Senhor Jesus deve mover-nos a manifestar a felicidade e a transbordante alegria com que o cristão há de viver a certeza de sua salvação. Os anjos cantaram por ocasião do nascimento de Jesus e acompanharam-no jubilosos na vitória de sua ressurreição; por sua vez, o cristão deve transmitir uma mensagem profética repleta de otimismo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Domingo de Páscoa – Ano C

(At 10,34.37-43; Sl 117[118]; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9) *

1. Depois de celebrar a Semana Santa, o domingo de Páscoa chega como um raio de esperança. Vivemos de perto a morte de Jesus. E em sua morte fizemos memória de todas as nossas mortes. As mortes que vivemos no dia a dia em nós mesmos, em nossas famílias, no trabalho, na sociedade, no mundo.
2. A guerra e a injustiça são mortes. Mas também os são as enfermidades e os egoísmos, os rancores e os ódios que nos devoram por dentro e vão minando nossa vitalidade.
3. Tantas são as mortes que nos rodeiam que, às vezes, podemos chegar a pensar que não temos futuro e que não há saída. Parece que o ser humano se encontra irremediavelmente metido em um labirinto que não tem outra saída que não o desespero ou, o que dá no mesmo, a morte.  
4. Mas bem de madrugada algumas mulheres foram ao sepulcro em que Jesus havia sido enterrado e perceberam que a pedra que o fechava fora retirada.
5. Quando viram isso correram para avisar aos apóstolos. Pedro chegou e viu que Jesus não estava mais lá. E o que é mais importante: viram e acreditaram. A fé lhes fez ver muito mais do que viam seus olhos.
6. Onde outros não viam mais que um sepulcro vazio, eles descobriram outra realidade muito mais profunda: Jesus havia ressuscitado, o Pai lhe tinha devolvido a vida. A promessa da Ressurreição se fazia realidade em Jesus e esperança para toda humanidade.
7. Com esse último gesto de sua história, tudo aquilo que os apóstolos haviam vivido e aprendido com Jesus adquiria um significado novo. Agora a libertação esperada era muito mais profunda que a simples libertação política da dominação romana ou a chegada um reino judaico que igualasse ou superasse o de Salomão.
8. Se Jesus havia ressuscitado, então queria dizer que Deus nos tinha libertado da escravidão mais profunda: a escravidão da morte.
9. Na Páscoa e diante do sepulcro vazio, nós que acreditamos em Jesus compreendemos que em nossas vidas não há lugar para o desespero. Somos, de agora em diante, homens e mulheres de esperança. Sabemos, a partir da fé, que para Deus não há nenhum caso desesperado.
10. Por mais difíceis e ameaçadores que sejam nossos problemas, mantemos firme a esperança. E ainda que a morte nos chegue, sabemos que nem mesmo ela é definitiva. Porque Jesus ressuscitou.
11. A Ressurreição de Jesus nos compromete com a esperança. Chama-nos a trabalhar para criar esperança ao nosso redor. A fim de dá-la aos outros como nos é dada a luz no Círio Pascal que ilumina a nossa celebração. Defendemos a vida para todos porque o Deus de Jesus é o Deus da vida para todos.
12. E com nosso comportamento, dia a dia, vamos oferecendo vida e esperança para que ninguém, jamais, se sinta desesperado.
13. Senti-me alguma vez desesperado diante dos problemas que me cercavam? É a ressurreição de Jesus fonte de esperança em minha vida? Como transmito essa esperança de maneira concreta aos demais?
*Frei Fernando Torres

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 19 de abril de 2025

 Vigília Pascal (Lc 24,1-12)

“Voltaram do túmulo e anunciaram tudo isso aos onze e a todos os outros” Lc 24,9.

“A cena do Mestre, pendente na cruz, despedaçou o coração dos discípulos. Não tinham como explicar o desfecho terrível de uma vida inteiramente posta a serviço dos irmãos. A cruz chocava-se com tudo que tinham experienciado, durante o tempo de convivência com o Mestre. Tudo nele era bondade, acolhida dos fracos e pequeninos, valorização dos pecadores e marginalizados, dedicação incansável ao Reino do Pai. Suas palavras tinham uma autoridade inaudita. Tudo quanto ensinava, tinha mais profundidade do que a doutrina dos escribas e fariseus. Por que acabou sendo crucificado? Os discípulos passaram o sábado repesando a vida com seu Mestre, e buscando algumas pistas para entender algo do que tinham presenciado. Tudo se mostrava confuso, nebuloso. Suas mentes eram por demais estreitas para entender o fato da cruz, projetando-o para além do impacto imediato. Por isso, no torvelinho de seus sentimentos desencontrados, consumiam-se na angústia. Num primeiro momento, os discípulos foram incapazes de captar o sentido da morte de seu Mestre, numa cruz. Foi preciso que o próprio Jesus os despertasse do torpor. Somente à luz da Ressurreição, a cruz poderá ser, de alguma forma, compreendida. Sem essa luz, por mais que pensemos e repensemos, continuaremos no mesmo impasse dos discípulos, naquele sábado de dor e desespero. – Espírito de consolação, não me abandones quando o desespero tomar conta do meu coração, por eu não conseguir captar o sentido da paixão e da cruz de Jesus” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de abril de 2025

(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42) Sexta Santa.

“Entretanto, o sumo sacerdote interrogou Jesus a respeito de seu ensinamento” Jo 18,19.

“João deu ao relato da paixão uma certa estrutura teatral. Depois da grandiosa abertura, a prisão, vem o primeiro ato: o interrogatório de Anás, ‘sogro de Caifás, que era o Sumo Sacerdote naquele ano’ (18,13). Mesmo depois de sua destituição no ano 15, Anás continuava dominado o sinédrio. Vê-se, portanto, que João é exato quanto aos dados históricos. Mas ele nos mostra, ao mesmo tempo, a sua intenção teológica. Quatro cenas interligadas por João: Jesus é levado a Anás; Pedro e um outro discípulo se aquecem no pátio do palácio do Sumo Sacerdote; Anás interroga Jesus; Pedro renega Jesus. São dois os ensinamentos teológicos a serem destacados nesse episódio: a menção de que Caifás ‘sugerira aos judeus ser conveniente que um só homem morresse pelo povo’ (18,14). Com estas palavras, a morte de Jesus é interpretada como morte pelo povo, como entrega por nós, para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância. O outro ensinamento se revela nas palavras de Jesus: ‘Eu falei abertamente ao mundo, eu sempre ensinei nas sinagogas e no Templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em segredo’ (18,20). Jesus dá outra vez o seu testemunho diante dos judeus. Mas uma grande parte deles não lhe dá atenção. Os judeus representam o mundo que se fecha a Jesus, tanto naquele tempo quanto hoje. A comunidade joanina era composta em grande parte de judeus cristãos. O fato de os judeus exercerem um papel tão negativo na paixão de Cristo mostra que o evangelho deve ser interpretado simbolicamente, que os judeus são a imagem das pessoas que estão fechadas em seu próprio mundo e que temem a desestabilização trazida por Jesus em vista da situação histórica descrita no início. Os judeus que se opõem a Jesus servem de advertência ao leitor, para que este não se junte a eles, e sim ao discípulo amado que fica ao lado de Jesus e presta testemunho de seu amor” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de abril de 2025

(Ex 12,1-8.11-14; Sl 115[116B]; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15) Missa da Ceia do Senhor.

“Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo amou-o até o fim” Jo 13,1.

“João resume então numa única frase toda a ação de Jesus: ‘Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo’” (13,1). Jesus demonstra esse amor ao extremo não apenas lavando os pés de seus discípulos, mas também entregando por eles a sua vida na cruz. Foi esse amor o motivo principal de seus atos e das suas palavras que dirigiu aos homens. Esse amor é também a marca de seus discursos de despedida. São eles, na verdade, o legado de seu amor. Jesus nos ama incondicionalmente até as últimas consequências, até a morte. No lava-pés e na paixão, João pretende contar-nos a história do amor perfeito de Deus. A hora que João se refere repetidas vezes é a hora da consumação máxima do amor de Jesus aos seus. A palavra grega ‘telos’ que dizer meta, conclusão, completude. É também um termo da linguagem dos mistérios, em que significa: iniciação num mistério. Com a sua morte de cruz, Jesus nos inicia no mistério de seu amor perfeito, divino. ‘Telos’ pode ser também núpcias. Em sua morte de cruz, Jesus conclui conosco as núpcias que se pronunciaram no começo de sua atividade pública nas bodas de Caná” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

Quarta, 16 de abril de 2025

(Is 50,4-9; Sl 68[69]; Mt 26,14-25) Semana Santa.

“... e disse: ‘O que me dareis se vos entregar Jesus?’ Combinaram, então, trinta moedas de prata” Mt 26,15.

“Insiste-se na traição de Judas, dando-se detalhes da mesma, a fim de demonstrar por um lado o procedimento vil do apóstolo traidor e, por outro, a bondade e infinita compaixão de Jesus, que, sabendo quem devia ser o traidor, no entanto trata-o até o último momento com amizade paciente, oferecendo-lhe o perdão. Porém a preocupação de ser mais e de ter mais rompera em Judas a comunicação com o amigo. Judas não se contenta em atraiçoar o Mestre, mas nem sequer tem as mínimas exigências, como se não apreciasse a mercadoria que estava oferecendo: ‘O que quereis dar-me?’ Nós, cristãos, atualmente não costumamos ser mais exigentes que Judas. Também costumamos perder a graça de Deus, que é o mesmo que perder Jesus, sem atribuir-lhe valor: simplesmente por uma comodidade passageira, ou por preguiça inibitória, ou por um interesse material, isto é, por um punhado de moedas ou notas, por um negócio duvidoso, quando não por falsa vergonha, ou por medo bobo. Por coisas parecidas, agimos contra nossa consciência e perdemos a companhia de Jesus Cristo, que não pode permanecer num coração que não seja reto e limpo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Terça, 15 de abril de 2025

(Is 49,1-6; Sl 70[71]; Jo 13, 21-33.36-38) Semana Santa.

“Jesus ficou profundamente comovido e testemunhou: ‘Em verdade, em verdade vos digo,

um de vós me entregará’” Jo 13,21.

“A dureza do coração de Judas impediu-o de reconhecer quem, de fato, era o Messias Jesus. Sua decepção deveu-se ao fato de o Mestre não corresponder às suas expectativas messiânicas. Sem dúvida, Judas imaginava-o como um Messias glorioso, cheio de poder, líder de uma revolta contra os romanos, objeto da admiração popular. Evidentemente, os discípulos haveriam de tirar partido da situação, se as coisas fossem assim. O projeto de Judas não encontrou guarida no coração de Jesus. O Mestre não buscava a própria glória, mas a fidelidade à vontade do Pai. Seu poder era usado para servir e libertar, e não para oprimir e dominar. Não estava tanto preocupado com os romanos, quanto com seus próprios compatriotas, que tinham transformado a religião em instrumento de opressão. Jesus tornara-se objeto de admiração popular, mas também vítima da perseguição sistemática por parte de seus adversários. Nada do que Judas imaginava, acontecia com o Mestre. Daí a sua decepção. Sua decisão de traí-lo resultou de uma paixão precipitada. Não foi capaz de abrir mão de seu preconceito com relação a Jesus. Por isso, não vendo realizar-se o que imaginava, Judas optou por vender o Mestre. A atitude do discípulo traidor repete-se cada vez que os seguidores de Jesus caem na tentação de medi-lo com os parâmetros que têm na cabeça. É o erro fatal de quem o desconhecesse. – Espírito de despojamento, aproxima-me de Jesus despojando-me de minhas ideias pré-concebidas, a fim de que eu possa reconhecer o sentido de sua presença no meio de nós” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 14 de abril de 2025

(Is 42,1-7; Sl 26[27]; Jo 12,1-11) Semana Santa.

“Ali ofereceram a Jesus um jantar; Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele” Jo 12,2.

“No evangelho, Marta sempre se nos apresenta solícita, a serviçal, a humilde servidora do Senhor e dos apóstolos. Não é, pois, de estranhar que, no banquete que dão a Jesus, estivesse Marta e estivesse em seu verdadeiro ofício de servidora do Senhor. A atitude de serviço surge de uma alma humilde, que chega a convencer-se de que não serve para nenhuma outra coisa, quando na realidade servir por ‘servir’ é servir para viver, é dar à vida uma razão de ser, segundo o conhecido provérbio: ‘Aquele que não vive para servir não serve para viver’. Se o próprio Jesus diz-nos que ‘Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por uma multidão’ (Mateus 20,28), não resta dúvida de que seus discípulos devem seguir a mesa linha de serviço aos irmãos. Porém, se isto é aplicável a todos os discípulos de Jesus, de modo muito particular há de ser vivido por aqueles que se encontram constituídos em alguma posição de autoridade ou dignidade, segundo o preceito do Senhor: ‘O maior dentre vós será vosso servo’ (Mateus 23,11)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Domingo de Ramos – Ano C

(Lc 19,28-40; Is 50,4-7; Sl 21[22]; Fl 2,6-11; Lc 23,1-49)*

1. No século XII surgiu uma devoção às sete últimas palavras de Jesus. Suas últimas palavras na cruz, se tornaram assunto de meditação. Essas últimas palavras foram comentadas por São Boaventura e popularizadas pelos franciscanos.

2. As últimas palavras têm um fascínio especial. Os seres humanos são animais falantes. Para nós, estarmos vivos é estar em comunicação. A morte não é apenas a cessação da vida corporal. É silêncio. Então o que dizemos diante do silêncio iminente é revelador.

3. Assim tomamos essa Palavra de Deus pronunciada em face ao silêncio. Sendo cristãos, cremos que tudo que existe é sustentado por essa Palavra que existia desde o princípio. É o sentido de toda a nossa vida. Vou tomar essas palavras, nesse ano e no próximo, se Deus permitir, como base de nossas reflexões da Semana Santa.

4. As últimas palavras de Jesus podem alojar-se em nosso coração e mente e sustentar-nos seja no que for que enfrentemos: fracasso, perda, silêncio e morte.

5. A primeira palavra de Jesus na cruz é dirigida ao Pai. As palavras que Jesus nos dirige estão conservadas dentro desse relacionamento com o Pai, exatamente como é lá que encontraremos nosso lar, dentro da vida da Trindade. Aconchegamo-nos dentro dessa divina conversa.

6. “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!” A primeira palavra que nos é dada é de perdão. O perdão acontece antes da crucificação, antes dos insultos e da morte. O perdão vem sempre primeiro. Eis o escândalo do Evangelho.

7. Mas isso não significa que Deus não leva a sério o que fazemos. Deus não se esquece que crucificamos seu Filho. Não tiramos isso da cabeça. Na verdade, na Sexta-feira Santa nos reunimos para prestar atenção, à paixão e morte de Cristo e lembrar que a humanidade rejeitou, humilhou e matou o Filho de Deus. É por causa do perdão que ousamos nos lembrar dessa ação terribilíssima. Perdão não é esquecer.

8. O perdão significa que ousamos enfrentar o que fizemos. Ousamos nos lembrar de toda a nossa vida, com os fracassos e defeitos, com nossas crueldades e falta de amor. Ousamos nos lembrar de todas as vezes que fomos mesquinhos e pouco generosos, a feiura de nossas ações.

9. Ousamos nos lembrar, não tanto para nos sentirmos detestáveis, mas para abrirmos nossa vida para essa transformação criativa. Isso não nos deixa como somos, como se nada que fizéssemos tivesse importância. Se entrarmos nesse perdão, ele nos mudará e transformará.

10. Tudo que é infecundo e seco dará frutos. Tudo que é sem sentido encontrará sentido. No final de “Senhor dos Anéis”, Sam espalha ao redor do condado improdutivo o fertilizante mágico que os duendes lhe deram e na primavera seguinte todas as árvores floresceram. É uma imagem do perdão.

11. Jesus pede perdão não apenas pelo que lhe fazem. Ele não é crucificado sozinho. Há duas pessoas, uma de cada lado, que representam todas as milhões de pessoas que crucificamos desde o princípio da história.  

12. Quem são as pessoas que crucificamos agora, com nosso imperialismo econômico que produz tanta pobreza? Quem crucificamos por meio da violência e da guerra? Quem ferimos até dentro de nossos lares? Porque sabemos que o perdão vem primeiro, então ousamos abrir os olhos.

13. Dizem que Michelangelo achou um feio pedaço de mármore que outro artista tentara esculpir, mas fracassara e arruinara a pedra. Michelangelo esculpiu nela seu famoso Davi. É isso que o perdão divino faz de uma forma que está para além do nosso entendimento. Perdão significa que nossos pecados encontram lugar em nosso caminho para Deus. Nenhum fracasso precisa ser um beco sem saída.

* Reflexão com base em texto de Timothy Radcliffe.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de abril de 2025

(Ez 37,21-28; Sl Jr 31; Jo 11,45-56) 5ª Semana da Quaresma.

“Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?” Jo 11,50.

“Não deixa de ser estranho o fato de o sentido da morte de Jesus ter sido explicitado exatamente por quem estava tratando de eliminá-lo: Caifás. Sem dúvida alguma, o sumo-sacerdote não tinha a intenção de profetizar a respeito de Jesus. O evangelista, no entanto, assim o interpretou. Tudo culminou com a ressurreição de Lázaro. Os sumos-sacerdotes e os fariseus, reunidos em conselho, decidiram matar Jesus, baseando-se num falso argumento. Eles temiam pela sobrevivência da nação, se os romanos ficassem revoltados com os sinais realizados pelo Mestre. Evidentemente, Jesus representava menos perigo para os romanos do que outros grupos, reconhecidos como refratários aos dominadores estrangeiros. Caifás propôs que Jesus fosse eliminado, e, assim, fosse poupada toda a nação. Eles cuidariam de eliminar o perigo, antes que acendesse a ira dos romanos. Embora o raciocínio do sumo-sacerdote fosse infundado, suas palavras tinham um quê de verdade. De fato, Jesus haveria de morrer em favor de toda a humanidade. Seu sacrifício traria benefício para todos, sem exceção. Por sua morte, ninguém mais estaria fadado à morte eterna. Este seria o sentido último da cruz. – Espírito de gratidão, que eu seja profundamente grato a Jesus, cuja morte de cruz trouxe-me a salvação (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de abril de 2025

(Jr 20,10-13; Sl 17[18]; Jo 10,31-42) 5ª Semana da Quaresma.

“Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus” Jr 20,13.

“O texto que lemos hoje é extraído da última e mais dramática das ‘confissões’ de Jeremias. Apresenta-se como uma oração do profeta, depois de ter sido açoitado e fechado numa prisão durante uma noite. Serve de tema a missão profética e a oposição que ele encontra. O centro da oração consiste na confiança inquebrantável do profeta: ‘O Senhor está comigo’ (v. 11). [Compreender a Palavra:] Devido ao cumprimento da missão difícil que lhe fora confiada pelo Senhor, Jeremias vê-se incompreendido, completamente abandonado; até os amigos de outrora não fazem mais do que espiar sua queda. Ele deve lutar sozinho, ir contra a corrente. No início do cântico o profeta exprime a sua solidão, mas depois, inesperadamente, da lamentação passa ao louvor. A dor não o fecha na autocomiseração, antes o ajuda a olhar para o Alto. A fé faz-lhe descobrir que não está sozinho: ‘O Senhor, porém, está ao meu lado como valente guerreiro’ (v. 11). Então tudo muda de perspectiva. Quando alguém acredita tenazmente na presença de Deus na sua visa, então já não vive como emancipado enraivecido, já não se sente cansado e resignado, desmoralizado e amorfo; então a vida ilumina-se com uma luz nova, e do coração brota um cântico de alegria e de louvor, como faz Jeremias no final deste texto” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 10 de abril de 2025

(Gn 17,3-9; Sl 104[105]; Jo 8,51-59) 5ª Semana da Quaresma.

“Em verdade, em verdade, eu vos digo, se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte” Jo 8,51.

“Quando Jesus falava em ‘minhas palavras’, estava contrapondo seus ensinamentos aos de seus adversários. Onde está a divergência? As palavras de Jesus têm origem no Pai, são expressão do ensinamento divino. Já as palavras dos adversários não correspondiam, necessariamente, ao pensamento divino, por estarem contaminadas por uma série de elementos sem relevância, aos quais eles davam muito valor; o essencial, porém, nem sempre era devidamente valorizado. Os ensinamentos de Jesus eram um constante convite à conversão, um apelo a usar de misericórdia, a exemplo do Pai. Os adversários, pelo contrário, insistiam na submissão estrita aos ditames da Lei, minunciosamente especificados. Bastava a mera obediência exterior da Lei, para a pessoa ser considerada justa. As palavras do Mestre eram portadoras de vida, porque geradoras de comunhão, ao passo que as dos seus adversários, incapazes de tocar o íntimo do coração humano, acabavam por levar as pessoas a uma falsa confiança em Deus. Evidentemente, as palavras de Jesus são mais exigentes e requerem um empenho maior do que as palavras de seus adversários. De fato, é fácil observar, exatamente, certas normas bem precisas. O difícil é aventurar-se na proposta feita por Jesus. – Espírito de vida, que eu seja suficientemente sábio para acolher as palavras de Jesus, que me proporcionam vida, e rejeitar o que me afasta do Pai (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 9 de abril de 2025

(Dn 3,14-20.24.49.91-92.95; Sl Dn 3; Jo 8,31-42) 5ª Semana da Quaresma.

“Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: ‘Se permanecerdes na minha palavra,

sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’”

Jo 8,31.

“Os judeus sentem essa afirmação de Jesus como uma censura à sua falta de liberdade. Por isso reagem. Sendo descendente de Abraão, nunca se sentiram como escravos. Mas Jesus chama a sua atenção para a falta de liberdade interna: ‘aquele que comete o pecado é escravo do pecado” (8,34). Por pecado não se deve entender aqui a não obediência aos mandamentos, e sim o apego à aparência, ao fútil, a recusa de abrir-se à verdade, de acreditar no Filho. Quem vive nas aparências torna-se escravo. A sua vida é determinada de fora. Ele não está em contato consigo próprio. E Jesus explica novamente a liberdade, agora recorrendo à imagem da união familiar. Na comunidade familiar, os escravos podiam ser mandados embora a qualquer momento. O filho, porém, permanece na casa. Daí se conclui: ‘Se, portanto, é o Filho que vos liberta, sereis realmente livres’ (8,36). Jesus, o Filho do Pai, é o homem verdadeiramente livre. Ele permanece sempre na casa do Pai. E ele nos dá a possibilidade de habitarmos constantemente na casa do Pai e de sermos livres. Só Jesus pode nos dar a verdadeira liberdade. Como devemos entender essas afirmações? Para João, Jesus é aquele que abre os olhos das pessoas para a verdadeira realidade, para a realidade de Deus. Ele liberta o homem do apego à realidade externa. Ele o coloca em contato com o verdadeiro eu. E o verdadeiro eu é livre. Não é só a verdade que nos liberta, mas, em última análise, também a fé. Quem crê está verdadeiramente livre. Ele independe da opinião dos homens. Ele enxerga mais além. Ele vê o essencial. Ele é simples. É totalmente ser. E aquele que é puro existir já não precisa orientar-se pelo que os outros pensam dele. Não precisa agarrar-se aos bens, à fama, à aparência. Ele deixa de girar em torno do passado que é a história de suas violações. Ele descansa no ser. Ele está no momento presente, na verdade e na liberdade. Ninguém o determina. Ele está simplesmente aí. Puro ser é simultaneamente verdade e liberdade” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 8 de abril de 2025

(Nm 21,4-9; Sl 101[102]; Jo 8,21-30) 5ª Semana da Quaresma.

“Jesus continuou: ‘Vós sois daqui de baixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo’” Jo 8,23.

“Os judeus escutam os ensinamentos de Jesus, mas não aceitam sua palavra. Recusando Jesus, os judeus perdem-se sem esperança e pecam contra a verdade. Ser deste mundo, ou ser do outro mundo: ser deste mundo significa viver uma vida puramente material e humana, ser do outro mundo é viver a vida divina da graça. Os que são deste mundo não entendem as coisas de Deus e se alegram com elas. A quantos homens de nossos dias pode-se aplicar a acusação de Jesus: ‘Vós sois deste mundo’. E por isso somente entendem as coisas deste mundo. Mas não compreendem as coisas de Deus, porque não as apreciam, não as procuram, não lhes dão valor, e não lhes dão valor porque não as compreendem. A escala de valores que este mundo usa é muito diferente da escala de valores que nos formula o evangelho. Jesus não é deste mundo; por isso o mundo o perseguiu. Você que é discípulo de Jesus, não deve estranhar por ser incompreendido pelo mundo, pois, ainda que você esteja no mundo, não é deste mundo” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 07 de abril de 2025

(Dn 13,41-62; Sl 22[23]; Jo 8,12-20) 5ª Semana da Quaresma.

“Tu sabes que é falso o testemunho que levantaram contra mim! Estou condenada a morrer,

quando nada fiz do que estes maldosamente inventaram a meu respeito!” Dn 13,43.

“O episódio da bela e jovem Susana, insidiada por dois juízes anciãos de Israel, no tempo do exílio na Babilônia, é uma história edificante colocada como apêndice ao livro do profeta Daniel. O próprio profeta aparece nela como um jovem vidente, por meio do qual Deus manifesta a Sua justiça, ao passo que a inocente e indefesa Susana surge como símbolo da parte do povo que permaneceu fiel a Deus contra todas as seduções, mesmo contra as que provinham dos chefes prepotentes e corrompidos. A redação desta história remonta provavelmente ao século I antes de Cristo e reflete a polêmica contra os saduceus as autoridades políticas e religiosas desse tempo. [Compreender a Palavra:] Temos na narração uma condenação amarga dos chefes perversos e mentirosos, afastados de Deus e indignos da sua missão de guias do povo, condenação que lembra as palavras bem duras dos profetas (cf. Is 3,14-15; Ez 34,1-10). Mas existe também uma firme confiança no Senhor que ama os pobres e os pequeninos, defende os inocentes e nunca deixa abandonado quem coloca n’Ele a sua esperança. ‘A coisa está complicada para mim de todos os lados: se eu fizer isso, estou condenada à morte, se o não fizer, sei que não conseguirei escapar das vossas mãos. Mas eu prefiro dizer ‘Não!’ e cair nas vossas mãos do que cometer um pecado contra Deus’ (vv. 22-23), assim responde Susana aos dois anciãos malvados. Sem nenhum apoio humano, a jovem mulher enfrenta a dificílima decisão optando por morrer antes que consentir no mal. Condenada à morte, ela coloca a sua confiança unicamente em Deus que ‘conhece o que está escondido’ (v. 42). Por isso é-lhe consentido experimentar a intervenção divina, a qual, num modo surpreendente, inverte toda a situação” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

5º Domingo da Quaresma – Ano C

(Is 43,16-21; Sl 125[126]; Fl 3,8-14; Jo 8,1-11)

1. Um sacerdote italiano foi visitar um amigo que era pintor, um sujeito bastante modesto. Ao fim da tarde eles leram juntos o episódio da mulher adultera que acabamos de acompanhar, e o sacerdote pediu-lhe que pintasse algo em torno dessa cena.

2. O pintor permaneceu absorto por algumas horas, pois o quadro é composto primeiramente dentro dele, o que se segue é uma mera formalidade. E assim começou a traçar alguns rabiscos de maneira decidida na tela que tinha à sua frente.

3. Ele conclui o quadro e o sacerdote fica surpreso com o resultado final. O rosto da mulher ocupa completamente a cena. Tudo se concentra em seu olhar. Um olhar que exprime primeiramente medo, espanto e certa incredulidade. Seu amigo pintor havia captado perfeitamente o sentido da cena evangélica.  

4. Esse episódio nos permite adentrar ao nosso texto. Quando ela levanta o olhar, vê Alguém que a olha de modo diferente dos outros. Ela não tinha experimentado até então alguém observá-la daquela maneira.

5. A experiência que traz consigo é a de dois tipos de olhares, o do desejo, da cobiça, e o outro de condenação. E talvez, nessa cena do evangelho, os dois olhares sejam das mesmas pessoas que têm alguma pedra em mão.

6. Seu olhar se cruza com aquele de um Homem que vê nela não um objeto de prazer ou mesmo um alvo para as pedras de uma sentença cruel. Dizia uma escritora e mística francesa, Simone Weil: “Uma das verdades fundamentais do cristianismo, verdade muitas vezes ignorada, é esta: o que salva é o olhar”.

7. A adultera, tanto quanto Zaqueu, tem como objeto de sua salvação um olhar. O olhar de Cristo é, em certo sentido, criador. Chama à existência uma pessoa. Revela o seu ser autêntico, real. Extermina o canalha e chama o santo.

8. O olhar de Cristo não se resigna ao “pouco de bom” que esteja em alguém, mas quer trazer à luz, o melhor de cada pessoa. Um olhar revelador. Porque manifesta ao ser humano suas possibilidades, sua verdadeira dimensão. 

9. Alguém testemunhava em um jornal: “Conheci uma pessoa diante da qual todos se sentiam como eram, mas não só isso, sentiam o melhor de si mesmas. Quando perguntei a ela qual era o seu segredo, me respondeu com toda simplicidade: ‘Basta colocar o foco na pessoa que está diante de você como se não houvesse nenhum outro interesse no mundo, somente aquela pessoa’”.

10. O nosso olhar deve ser, antes de tudo, livre. Livre porque rompeu a prisão do próprio egoísmo, da própria comodidade, da própria indiferença, dos próprios interesses, para abrir-se ao outro numa atitude de acolhimento, simpatia, cordialidade, delicadeza, benevolência. 

11. Livre das lentes deformadas dos prejuízos, das prevenções, das suspeitas, da desconfiança. Livre de todo instinto de separação e de descriminação. As pessoas que o nosso olhar rejeita serão condenadas, talvez, a levar por toda a vida uma marca de rejeição, de solidão, de insignificância.

12. Também um olhar indiferente pode ser ‘homicida’. A sua mensagem pode ser traduzida, de fato, por algo assim: “Para mim você não existe. Nego-lhe importância e direito de viver”. Um olhar de indiferença tem a capacidade de cancelar uma pessoa. “Cancelamento”, uma palavra em voga.

13. Um olhar livre é um olhar que não se limita a tocar a pessoa que encontra. Não é um olhar apressado. Não é evasivo. Sabe parar e acolher. Acolher, mas não forçar. É necessário, a cada manhã, purificar o nosso olhar desse instinto de posse, desarmá-lo da hostilidade, agressividade, dureza. Restituir-lhe a capacidade maravilhar-se na contínua redescoberta do outro. Ver o outro como eu gostaria de ser visto, numa atenção respeitosa.

14. Escrevia Agnese Baggio: “Eu reconheço o seu direito de ser o que é. Desejo que sejas tudo aquilo que poder ser”. Somente buscando um olhar purificado, as pedras começarão a cair de nossas mãos.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 5 de abril de 2025

(Jr 11,18-20; Sl 07; Jo 7,40-53) 4ª Semana da Quaresma.     

“Será que a nossa lei julga alguém antes de o ouvir e saber o que ele fez?” Jo 7,51.

“A presença de Jesus, em Jerusalém, era motivo de controvérsia. Ninguém sabia ao certo, quem era aquele homem, cujo ensinamento destoava das doutrinas tradicionais dos escribas, e cuja autoridade não se fundamentava na pertença a algum dos grupos conhecidos. Muitos acreditavam tratar-se do Messias; não faltava, porém, quem duvidasse, pelo fato de Jesus não se enquadrar nas pistas que o povo tinha à disposição para identificar o Messias. Até mesmo os soldados, enviados para prendê-lo, não tiveram coragem de fazê-lo. E isto, não tanto por medo do povo, e sim, por estarem convencidos da sinceridade da pregação do Mestre. Esta situação colocava em pânico a cúpula religiosa. Era um caso difícil de ser tratado. Na verdade, Jesus não havia cometido nenhum delito, passível de punição. Tampouco se mostrava como um indivíduo socialmente perigoso. Tudo se passava no âmbito teológico: seus ensinamentos desconcertavam os inimigos. Nicodemos dá um tom de sensatez à situação. Por respeito, à Lei, o acusado devia ser ouvido, antes de ser condenado. Caso contrário, corria-se o risco de cometer uma injustiça. No caso de Jesus, seus inquisidores teriam dificuldade de ouvi-lo com imparcialidade, abrindo mão da sentença de morte já decidida. – Espírito de ponderação, que eu acolha Jesus com a devida prudência, descobrindo sua identidade, mediante a escuta benevolente de sua palavra (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano C] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 04 de abril de 2025

(Sb 2,1.12-22; Sl 33[34]; Jo 7,1-2.10.25-30) 4ª Semana da Quaresma.

“Em alta voz, Jesus ensinava no templo, dizendo: ‘Vós me conheceis e sabeis de onde sou;

eu não vim por mim mesmo, mas o que me enviou é fidedigno. A esse não conheceis” Jo 7,28.

“Uma variante deste texto traduz: ‘Enviou-me aquele que é verdadeiro’. Jesus é verdadeiramente o enviado do Pai para a salvação do mundo e, agora, Jesus envia você para que colabore na sua missão de salvação. A certeza de ser enviado de Jesus deve dar-lhe segurança, visto que você não vai avante apoiando nem em seus méritos pessoais nem em suas qualidades, nem em seus talentos, mas unicamente na força de quem o envia. Quando você realiza alguma atividade apostólica, tenha confiança em si mesmo, mas não por si mesmo, e sim pela missão da qual é incumbido, pela força da graça que tem consigo, pela moção do Espírito de Jesus que o acompanhará e o levará a falar pondo-lhe na boca as palavras que você deverá proferir nessa circunstância. ‘Quando, porém, vos levarem às sinagogas, perante os magistrados e as autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de falar em vossa defesa, porque o Espírito Santo vos inspirará naquela hora o que deveis dizer’ (Lucas 12,11-12). Jesus falava ‘com inteira liberdade’ e isso demarca para você transmitir a palavra de Deus, com firmeza e fidelidade. Transmita a mensagem de salvação sem falso respeito humano, sem falsa modéstia. São Paulo diz que ‘não me envergonho do evangelho’ (Romanos 1,16). Você também não deve envergonhar-se do evangelho, nem de viver o evangelho, nem de pregar o evangelho, pois Jesus nos afirma que ‘Todo aquele que nega o Filho, não tem Pai’ (1João 2,23) e o próprio Jesus adverte-nos: ‘Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus’ (Mateus 10,33)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 03 de abril de 2025

(Ex 32,4-14; Sl 105[106]; Jo 5,31-47) 4ª Semana da Quaresma.

“E o Senhor disse ainda a Moisés: ‘Vejo que este é o povo de cabeça dura’” Ex 32,9.

“’Vejo que este povo é um povo de cabeça dura’ (Ex 32,9), assim diz Deus a respeito de Israel (primeira leitura). Depois do pecado do bezerro de ouro, JHWH já não chama Israel ‘o Meu povo’, porque já não o reconhece, já não é aquele para quem olhava com tanto amor quando lhe propunha a aliança, já não é ‘sua propriedade especial entre todos os povos’ (Ex 19,5): Israel perverteu-se, tornou-se duro de cabeça e de coração, já não escuta a voz do seu Senhor, já não anda nos Seus caminhos, tornou-se impenetrável ao Seu amor. A ‘cabeça dura’ indica precisamente a atitude de fechamento, de orgulho, de afirmação de si mesmo e de reconhecimento de que não precisa de salvação. É uma atitude que está na raiz do pecado de Adão e Eva, da construção da torre de Babel e de todos os outros pecados. ‘Vós nunca ouvistes a Sua voz nem vistes a Sua face. Desse modo a Sua palavra não permanece em vós [...] conheço-vos muito bem: o amor de Deus não está dentro de vós’ (Jo 5,38.42), diz Jesus aos judeus que não creem n’Ele (Evangelho). É ainda a dureza, o fechamento que torna o coração indiferente ao testemunho e insensível ao amor de Deus. À perversão opõe-se a conversão, e à dureza de cerviz o coração contrito. Julgamos que Deus pode mudar o coração de pedra em coração de carne (Ez 36,26) e que seu Espírito consegue dobrar o que é rígido e aquecer o que é gélido. Ele inflama-Se de ira perante os filhos perversos, mas tem piedade e mostra a Sua ternura de Pai logo que eles se convertem a Ele. Agrada-lhe ‘um espírito contrito’ e jamais despreza ‘um coração contrito e humilhado’ (Sl 50,19). Porventura todos nós precisamos de nos sentir provocados pela Palavra, precisamos de que nos dirijam palavras duras de Jesus que nos sacudam da modorra, da preguiça, da ilusão de estarmos bem, daquela procura de ‘receber a glória uns dos outros’ (Jo 5,44), precisamos experimentar a dor da ‘compunctio cordis’, de deixar que Deus nos toque o coração de modo a provocar em nós um despertar e nos disponha a acolher o Seu amor misericordioso” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 02 de abril de 2025

(Is 49,8-15; Sl 144[145]; Jo 5,17-30) 4ª Semana da Quaresma.

“Eu não poso fazer nada por mim mesmo. Eu julgo conforme o que escuto, e meu julgamento é justo,

porque não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” Jo 5,30.

“É belo o pedido do salmista: ‘Ensina-me a fazer a vossa vontade, pois sois meu Deus’ (Salmo 142,10). Nada existe que nos santifique, a não ser a vontade do Pai celestial, ao acomodar nossa vida, nosso agir à vontade de Deus. Jesus santíssimo pôde afirmar ‘Não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou’. No livro da Sabedoria, Javé nos lança em rosto que ‘vós não julgastes equitativamente, nem observastes a lei, nem andaste segundo a vontade de Deus’ (Sabedoria 6,4); neste mesmo lugar se nos afirma que ‘porque aqueles que santamente observarem as santas leis, serão santificados’ (v. 10), isto é, aqueles que cumprem religiosamente a vontade divina serão reconhecidos como santos no juízo. O que deve preocupa-lo(a) acima de tudo é a busca da vontade de Deus, o chegar a saber que é isso que em cada momento e em cada circunstância Deus quer de você” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite