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2º Domingo de Páscoa – Ano C

(At 5,12-16; Sl 117[118]; Ap 1,9-13.17-19; Jo 20,19-31)*

1. Ainda envoltos pela Ressureição do Senhor, encerrando essa oitava de Páscoa, contemplamos o dia da ressurreição sob o olhar e experiência dos Apóstolos que haviam se dispersados, mas agora se acham novamente juntos, perplexos e desorientados.

2. Mas o mesmo Ressuscitado faz-se presente diante da sua incrédula sede de certezas. Aquele encontro não foi um sonho, nem uma ilusão ou imaginação subjetiva; foi uma experiência verdadeira, apesar de inesperada e, precisamente por isto, particularmente comovedora: Jesus se coloca no meio deles e deseja a paz!

3. Diante daquelas palavras, a fé quase apagada nos seus corações reacende-se. Os apóstolos referiram a Tomé, ausente naquele primeiro encontro extraordinário, que o Senhor havia ressuscitado e estado com eles. Tomé, porém, permaneceu duvidoso e perplexo.

4. Quando, oito dias depois, Jesus veio pela segunda vez ao Cenáculo, Tomé ouve d’Ele uma censura por não ter acreditado em seus irmãos. Ao desafio imposto por Jesus, vem do apóstolo uma profissão de fé comovedora: ‘Meu Senhor e meu Deus!’.

5. A Igreja nos convida a renovar a profissão de fé de Tomé. Se neste apóstolo podemos entrever as dúvidas e as incertezas de tantos cristãos de hoje, os medos e as desilusões de numerosos contemporâneos, com ele podemos também redescobrir, com renovada convicção a fé em Cristo morto e ressuscitado por nós.

6. Cada um de nós pode ser tentado pela incredulidade de Tomé. A dor, o mal, as injustiças, a morte, especialmente quando afetam os inocentes – por exemplo, as crianças vítimas das guerras e do terrorismo, das doenças e da fome – por acaso não submetem nossa fé à dura prova?

7. No entanto, precisamente nestes casos, a incredulidade de Tomé nos é paradoxalmente útil e preciosa, porque nos ajuda a purificar a falsa concepção de Deus e nos leva a descobrir seu rosto autêntico: o rosto de um Deus que, em Cristo, carregou sobre si as chagas da humanidade ferida.

8. Tomé recebeu do Senhor e, por sua vez, transmitiu à Igreja o dom da fé experimentada pela Paixão e Morte de Jesus e confirmada pelo encontro com Ele ressuscitado. Uma fé que estava quase morta e renasceu graças ao contato com as chagas de Cristo, com as feridas que o ressuscitado não escondeu, mas mostrou e nos continua a indicar nas penas e nos sofrimentos de cada ser humano.

9. “Pelas suas chagas fostes curados” (1Pd 2,24), este é o anúncio que Pedro dirigiu aos primeiros cristãos convertidos. Aquelas chagas, que inicialmente foram para Tomé um obstáculo para a fé, porque eram sinais do aparente fracasso de Jesus; aquelas mesmas chagas tornaram-se, no encontro com o Ressuscitado, provas de um amor vitorioso.

10. Estas chagas que Cristo assumiu por nosso amor, nos ajudam a entender quem é Deus e a repetir também: “Meu Senhor e meu Deus”. Somente um Deus que nos ama a ponto de carregar sobre si nossas feridas e a nossa dor, sobretudo a dor inocente, é digno de fé.

11. Quantas feridas, quantas dores no mundo! Não faltam calamidades naturais e tragédias humanas que provocam numerosas vítimas e grandes danos materiais. Através das chagas de Cristo ressuscitado podemos ver com olhos de esperança estes males que afligem a humanidade.

12. O amor a Cristo nos desafia a enxergar as chagas que afligem a outros irmãos e irmãs nossos, unidos a Ele, nos convertemos em apóstolos de paz, mensageiros de uma alegria que não teme a dor, a alegria da Ressurreição. Que Maria, Mãe de Cristo ressuscitado nos obtenha este dom pascal.  

* Com base em mensagem “Urbi et Orbi” de Bento XVI.     

Pe. João Bosco Vieira Leite