(Zc 12,10-11; 13,1; Sl 62[63]; Gl 3,26-29; Lc
9,18-24) *
1.
O evangelho deste domingo quer nos ajudar a dar uma resposta à pergunta: “Quem
é Jesus?” Na resposta de Pedro percebemos um salto de qualidade, com relação ao
que diz o povo. Dizer “João Batista, Elias ou um dos profetas”, é deixar-se guiar por parâmetros
humanos.
2.
Dizer: “o Cristo de Deus”, é diferente; significa afirmar que Jesus é único.
Profetas são vários. O Messias é um só. O termo “Cristo” é a tradução grega do
aramaico Messias, que significa “ungido”, “consagrado”. O uso deste termo
deriva do fato de que na Bíblia as pessoas escolhidas para ser rei, sacerdote e
profeta recebiam uma investidura mediante o sinal do óleo perfumado derramado
sobre a cabeça.
3.
Sempre mais claramente a Bíblia fala de um “Ungido” especial que aparecerá ao
fim dos tempos para instaurar o Reino de Deus sobre a terra. Pois bem, eis o
momento fatídico, onde pela 1ª vez alguém reconhece que Jesus, o filho do
carpinteiro de Nazaré, é o próprio Messias esperado por séculos.
4.
Tanto quanto nos admira a reação de Jesus à resposta de Pedro, nos causa
estranheza que eles não devem contar a ninguém. E ainda mais, o discurso que se
segue desfaz toda a resposta de Pedro. Não se fala de triunfo, mas de derrota,
de morte, ainda que no final a ressurreição inverterá tudo.
5.
Jesus não é o Messias? Certo que é! Mas o tipo de Messias que só será
compreendido na conclusão da sua vida. Por isso, enquanto não chegar o momento
final é melhor não usar abertamente este título pois traria um fatal engano às
pessoas.
6.
Jesus corrige profundamente a ideia de Messias que está estreitamente conexa
com a de “povo eleito”. Para o povo, o Messias é o futuro filho de Davi, que
instaurará militarmente o domínio do povo eleito sobre todos os povos. Jesus,
ao contrário, associa à figura do Messias à imagem do servo sofredor de Isaías,
que vence com humildade, mansidão e amor.
7.
Essa ideia deformada do Messias segue aparecendo em nossa história numa espécie
de messianismo de tipo terreno, étnico e político, dominado pela crença de um
momento luminosamente resolutivo do futuro. Neste sentido, o comunismo foi uma
forma de messianismo.
8.
Também o nazismo, ao seu modo, era e degeneração da ideia de povo eleito e de
Messias. A própria ciência pode dar lugar a um perigoso messianismo, quando
pretende, sozinha, dar a resposta a todos os problemas da humanidade.
9.
Esta mentalidade contagiou também a literatura e os meios de diversão para
crianças e adolescentes, com um messianismo espúrio. Ali tem sempre um
salvador, um super-homem, que chega no último momento e subjuga os inimigos. A
violência é o ingrediente que nunca falta. A compreensão de quem é Jesus pode
embaraçar-se nesse meio.
10.
O conhecimento de Jesus pode constituir um antídoto precioso à idealização da
força que facilmente pode sugerir-se aos adolescentes. Lhes ajuda a compreender
que existe um outro tipo de força muito mais incomum e digna de admiração.
11.
São Paulo nos permite completar essa resposta sobre quem é Jesus na 2ª leitura
(vv. 27-28). Parece difícil explicar tal conceito, particularmente às crianças,
e, no entanto, isso pode ajudá-las a entender melhor quem é Jesus. Não obstante
tudo, elas ainda conservam frescos certos valores que nós adultos perdemos.
12.
O apóstolo nos diz que Ele nos fez indistintamente ‘filhos de Deus’. Que
ninguém deve sentir-se superior ou inferior porque é branco ou preto, macho ou
fêmea, de uma classe social ou de outra. Ele fez da humanidade uma só família.
13.
Podemos redescobrir quem é Jesus ao tentarmos explicar as crianças
concentrando-nos no essencial, nas palavras simples que podemos resumir, para
não esquecer facilmente: Jesus é o Messias esperado, o Filho de Deus, que veio
salvar-nos dos nossos inimigos; não com violência, mas com amor; dando sua
vida, não tirando as dos outros.
*Com base em texto de Raniero
Cantalamessa.
Pe. João Bosco Vieira Leite