(At 11,1-18; Sl 41[42]; Jo 10,1-10) 4ª Semana da Páscoa.
“Jesus contou-lhe esta parábola, mas
eles não entenderam o que ele queria dizer” Jo 10,6.
“Jesus
mesmo desfaz o enigma de sua fala, identificando-se primeiro com a porta
(10,7-10), e depois com o pastor (10,11-18). Todo o discurso recebe a sua
estrutura das quatro afirmações, que começam com ‘Eu sou’. Duas vezes Jesus
afirma: ‘Eu sou a porta’. Ele é a porta que leva às ovelhas (10,7). Só Jesus
tem acesso autorizado às ovelhas. Mas ele serve também de porta para passagem
das ovelhas. É pela porta chamada Jesus que as ovelhas podem entrar e
sair, encontrar pasto bom e experimentar uma vida em plenitude (10,9-10). A
porta sempre foi um símbolo para o homem, pois ela representa a passagem de um
âmbito para o outro, por exemplo, do âmbito terreno para a celestial. Em muitas
culturas existe a figura da porta do céu que possibilita o acesso ao âmbito
divino. A porta é também um símbolo importante nos sonhos. Às vezes sonhamos
que não estamos encontrando a porta de nossa casa. Ou que a porta está
trancada. Estamos excluídos do âmbito interior da nossa alma. Vagamos pelo
mundo exterior, sem ter acesso a nós mesmos. Jesus se identifica com a porta.
Ele é a porta que conduz ao nosso próprio âmago. Ele tem acesso ao nosso
coração. E por meio de Jesus entramos em contato com nós mesmos. Para mim, a
grande questão é saber qual foi a experiência que essa imagem desencadeou nos
discípulos, ou que experiência de Jesus se exprime nela. Certamente, os
primeiros cristãos experimentavam Jesus e as suas palavras como uma porta que
os levava a eles próprios. Meditando sobre Jesus descobriram de repente quem
eram eles mesmos. Através de Jesus como porta podiam entrar em sua própria casa
para sentirem-se em casa. Jesus era para eles a porta para o seu verdadeiro eu.
E é esse também o desafio para mim hoje: compreendendo Jesus compreendo a mim
mesmo, descubro quem sou eu de verdade, ganho acesso a mim mesmo. Para Werner
Huth, um terapeuta experiente, o impasse do homem de hoje consiste justamente
no fato de ter perdido seu eixo espiritual, perdendo o contato com seu próprio
centro (cf. HUTH, 2000, p. 474). Para mim importa sobretudo interpretar a metáfora
da porta de tal maneira que o ser humano se sinta tocado em seu anseio por um
centro interior que lhe franqueie o contato com o seu verdadeiro eu”. (Anselm Grüm – Jesus: Porta
para a Vida – Loyola).
Pe.
João Bosco Vieira Leite