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Quarta, 10 de setembro de 2025

(Cl 3,1-11; Sl 144[145]; Lc 6,20-26) 23ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus, levantando os olhos para os seus discípulos, disse: ‘Bem-aventurados vós, os pobres,

porque vosso é o Reino de Deus!’” Lc 6,20

“Em si mesma, a pobreza não é mérito nem vantagem. Caso o fosse, por que ajudar o pobre a deixar de ser pobre? Não seria mais conveniente, pelo contrário, aumentar o número de pobres e miseráveis? Feitas essas considerações, não vamos imaginar Nosso Senhor fazendo apologia da pobreza, pois, se o dizermos, estaremos aceitando o cristianismo como a religião escapista, reacionária e opressiva, de que, aliás, tantos o acusam. Apesar disso, a pobreza não é totalmente estranha à doutrina de Cristo, razão pela qual Tiago observou o seguinte: ‘Deus não escolheu os pobres, segundo o mundo, como ricos na fé e herdeiros do reino, que ele prometeu aos que amam?’ (Tiago 2,5). Só que essa ainda não é a pobreza de que fala o texto em Lucas. Aí se fala da pobreza que balbucia feito mendigo, da pobreza que não cobra direitos, mas que tão-somente abre a mão e recebe a dádiva, dádiva essa que é o perdão, a graça e o amor oferecidos por Deus a cada pecador arrependido. É nesse sentido que o reino de Deus pertence inapelavelmente ao pobre. Mas esse pobre – que não vê em si outro valor além daquele que Deus lhe dá – vai ter olhos e ouvidos (e mãos) para todos os outros pobres que existem pelo mundo afora. Qualquer tipo de carência – não importa se é psicológica, material ou espiritual – merecerá dos herdeiros do reino de Deus toda a atenção. E dentro desse quadro não há dúvida alguma de que os pobres dentre os pobres (mendigos, miseráveis, famintos) deverão receber todos os cuidados. Afinal, o amor de Deus não escolhe merecimentos, escolhe necessitados – Senhor Jesus, torna-me um pobre diante de ti para reconhecer tua graça e misericórdia. Ao mesmo tempo, faze-me ver os pobres do mundo para compartilhar com eles a tua graça e misericórdia e os bens que estão ao meu dispor. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite